A morte de Henry Borel, 4, no Rio de Janeiro, completa hoje um mês e ainda apresenta perguntas sem respostas. O padrasto do menino, o médico e vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), e a mãe da criança, a professora Monique Medeiros, tratados como investigados, foram presos preventivamente na manhã de hoje na casa de uma tia do político em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro.
Para a polícia, o menino morreu em decorrência de agressões. Segundo os investigadores, Dr. Jairinho já tinha histórico de violência contra o menino. Segundo a investigação, o parlamentar se trancou quarto para agredir a criança com chutes e pancadas na cabeça um mês antes do crime —a mãe soube das agressões, ainda de acordo com a polícia. O casal também é suspeito de combinar versões e de ameaçar testemunhas para atrapalhar as investigações. A Polícia Civil ouviu ao menos 18 pessoas na investigação.
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Além da prisão, o trabalho policial já envolveu mandados de busca e apreensão, uma reconstituição no apartamento do casal e coleta de depoimentos de diversas testemunhas. Veja sete questões não respondidas até agora:
Quem achou o menino primeiro?
O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel, apontou contradição nos depoimentos prestados à polícia por Jairinho e Monique.
Segundo a defesa do engenheiro, ao chegar ao hospital Barra D’Or — onde Henry deu entrada sem vida —, o pai do menino ouviu de Monique que o vereador já estava ao lado da criança quando ela chegou ao quarto do casal e encontrou Henry desacordado no chão.
A versão é diferente da relatada à polícia por Jairinho e pela namorada.
Em depoimento à 16ª DP (Barra da Tijuca), o casal afirmou que assistiam à TV e acabaram dormindo no quarto de hóspedes. Por volta das 3h30 de 8 de março, a mãe relatou que acordou e despertou Jairinho —que foi ao banheiro—, enquanto Monique se dirigiu ao quarto do casal encontrando o filho caído no chão com pés e mãos gelados e os olhos revirados.
Ela disse que gritou pelo namorado ao ver o estado de Henry e aí sim o vereador foi até o cômodo.
Quando abri a porta do quarto, vi ele [Henry] deitado no chão. Peguei meu filho, botei em cima da cama. Estranhei. As mãos e os pés dele estavam muitos geladinhos. Chamei o Jairinho. Ele enrolou meu filho numa manta e fomos ao hospital
Monique Medeiros, mãe de Henry, em entrevista à TV Record
Por que padrasto médico não socorreu?
A mãe de Henry disse à polícia que, no trajeto até o hospital Barra D’Or, realizou procedimento boca a boca, recomendado por Jairinho, mas o menino não reagiu. Segundo a equipe médica, Henry chegou morto ao hospital.
À TV Record, Jairinho disse que fez o que podia para salvar o menino: “Eu tenho certeza absoluta, diante de Deus, que assassinato não foi”.
Questionado sobre o motivo pelo qual o vereador, como médico, não ajudou a reanimar a criança, ele alegou que a última vez que fez massagem cardíaca fora em um boneco na faculdade de medicina.
O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) apura possível omissão de socorro por parte de Jairinho.
Acidente doméstico ou homicídio?
O laudo necroscópico apontou sinais de violência no corpo do menino e determinou a causa da morte como hemorragia interna e laceração hepática causada por ação contundente.
A perícia constatou múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores; infiltração hemorrágica na região frontal do crânio e nas partes lateral e posterior da cabeça; edemas no encéfalo; grande quantidade de sangue no abdômen; contusão no rim à direita; trauma com contusão pulmonar; laceração do fígado e hemorragia retroperitoneal.
À polícia, Monique disse acreditar que as lesões foram resultado de uma queda do menino da cama do casal. Para ela, o filho pode ter acordado, ficado em pé sobre a cama e se desequilibrado ou tropeçado no encosto da poltrona, fazendo com que caísse no chão. Apesar disso, Monique afirmou não ter escutado barulho.
Essa criança foi espancada de maneira violenta, pelo laudo médico-legal a criança tem sinais de violência física severa que atingiu a cabeça, pulmão, abdômen, rompimento de fígado, rim e várias equimoses. É um negócio de uma gravidade muito grande
Nelson Massini, professor de Medicina Legal da Uerj
Por que a empregada limpou o apartamento?
A empregada doméstica que trabalha na casa de Monique e Jairinho, identificada apenas como Rosângela, disse à polícia que sabia da morte de Henry quando fez uma faxina no apartamento antes da chegada da perícia. A versão contradiz a de Monique.
Rosângela falou que foi avisada sobre a morte quando foi trabalhar, em 8 de março. Na semana anterior a seu depoimento, Monique disse à polícia que a limpeza foi feita porque a empregada não tinha conhecimento do ocorrido e que chegou a dar folga para ela na hora do almoço.
À polícia, Jairinho disse que, ao voltar para casa, por volta das 10h, viu Rosângela conversando sobre a morte do menino com Monique e uma assessora.
Ainda não se sabe por que ela limpou o apartamento mesmo sabendo da morte da criança.
Que mensagens foram apagadas dos celulares de Jairinho e Monique?
A polícia tenta recuperar mensagens apagadas dos celulares de Jairinho e Monique.
Onze celulares e computadores foram apreendidos em operação no dia 26 de março, que cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em quatro endereços ligados ao pai, à mãe e ao padrasto de Henry. O 2º Tribunal do Júri da Capital decretou a quebra dos sigilos de todos os alvos.
Os celulares apreendidos são de Monique, Jairinho e Leniel, e passarão por perícia. A polícia usará um programa para recuperar informações apagadas a fim de obter mensagens que teriam sido deletadas.
Segundo a TV Globo, análise preliminar nos aparelhos apontou que mensagens foram apagadas em celulares apreendidos na residência do casal.
Após a apreensão, o advogado André Barreto disse que Monique notou que seu celular fora invadido por um hacker e fez um boletim de ocorrência na 16ª DP.
Ainda não se sabe se a polícia teve acesso aos diálogos suprimidos tampouco se foi constatada a invasão hacker.
Como era a relação de Henry com o padrasto?
Em depoimento, uma professora da escola onde Henry estudava e a psicóloga Érica Mamede, que acompanhava a criança, disseram não ter notado anormalidade no comportamento do garoto.
Érica afirmou que foi procurada por Monique porque o menino não queria ir à escola e resistia em ficar na casa onde morava com Jairinho. Segundo Érica, Henry citou o padrasto somente na última das cinco sessões ao dizer que morava com um tio em casa. Ao ser perguntada se Henry aparentava ter medo de Jairinho, a psicóloga disse que não.
O pai do menino explicou que a decisão de procurar uma profissional aconteceu também porque “o Henry estava falando que não gostava do tio [Dr. Jairinho] e que o tio machucava”.
Em depoimento, Jairinho disse que, na primeira vez que encontrou Leniel, o engenheiro pediu para que o vereador não abraçasse o menino com força. Jairinho disse que achou o pedido curioso, porém não entendeu como ofensa.
Mensagens obtidas pela TV Globo mostraram a conversa entre os pais de Henry no domingo (7), dia em que a criança foi devolvida à mãe. Ambos dão a entender que Henry não gostaria de retornar ao apartamento e a mãe mostra preocupação.
Câmeras de segurança mostraram Monique segurando o filho no colo às 19h18 do domingo, poucas horas antes da morte. Ela teria ido a uma padaria para acalmá-lo, já que o menino chorava e chegou a vomitar após ser entregue à mãe depois de ficar o final de semana com o pai.
O advogado do casal nega que a relação do menino com o padrasto e a mãe fosse conturbada e disse que anexou ao inquérito falas de testemunhas que comprovam a boa relação.
Tinham uma relação amorosa, cordial, doce, harmoniosa. Um lar que não havia problema ou medo como busca se insinuar
André Barreto, advogado do casal
Fonte: UOL.