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    Menina estuprada e morta em Bom Princípio tocava flauta doce e sonhava em ser artista

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    A comunidade do Loteamento Gauger, no bairro Nova Columbia, em Bom Princípio, ainda tenta superar a tragédia que marcou, nesta semana, a pacata rua de cerca de 40 casas, onde a maioria dos moradores se conhece. A morte de Jordana Tamires Christ Watthier, 13 anos, que vivia em uma das casas de madeira da rua com a mãe, o irmão mais velho e a irmã mais nova, abalou a todos os vizinhos. Eles lembram da jovem como uma menina sorridente, que mostrava intensa aptidão por música e que tinha muitos sonhos, todos destruídos no domingo de Páscoa (4). O suspeito do crime, conforme a polícia, é o padrasto, Elias dos Santos Silvestre, 39 anos, que está desaparecido, mas teve prisão preventiva decretada.

    O corpo de Jordana, com sinais de violência sexual e estrangulamento, foi encontrado pelos Bombeiros de Bom Princípio por volta das 15h30min de domingo. Estava em um matagal próximo ao Arroio Forromeco, fluente do Rio Caí. Uma ligação anônima fez com que a guarnição chegasse ao local. Antes, por volta das 7h30min, pedestres encontraram um celular nas proximidades. O aparelho foi entregue às autoridades que, mais tarde, constataram ser de Jordana. Uma das linhas de investigação aponta que o próprio autor do crime fez a denúncia aos Bombeiros. Jordana foi sepultada às 9h30min desta terça-feira (6) no cemitério municipal de Três Passos, localidade onde nasceu e onde seu pai mora.

    Antonio Valiente / Agencia RBS
    Diversas crianças moram na mesma rua de Jordana e eram habituadas a brincar com a jovem Antonio Valiente / Agencia RBS

    A menina foi vista pela última vez por vizinhos na noite de sábado (3). Ela voltava a pé de uma igreja evangélica que freqüentava no mesmo bairro, quando recebeu a carona de vizinhos até em casa. A partir desse momento, ninguém mais a viu. Claudia Müller Vater, 32, que mora ao lado da casa da família da adolescente, conta que chegou em casa na noite de domingo após uma viagem rápida e estranhou que a residência de Jordana estava toda fechada:

    — Achei que tivessem ido viajar, mas depois recebi mensagens de que ela tinha sido morta. Comecei a procurar a mãe dela e ir na vizinhança pedir para que tentassem contato com ela também. A Jordana era uma menina muito tranquila e dedicada, sempre brincou com as minhas crianças. Não poderia ter acontecido isso. A vizinhança está revoltada.

    Antonio Valiente / Agencia RBS
    Casa da vítima está fechada desde domingo à noite Antonio Valiente / Agencia RBS

    Segundo o delegado responsável pela investigação, Marcos Eduardo Pepe, a mãe deu falta da filha apenas por volta das 14h30min de domingo, quando a polícia a avisou do encontro do cadáver. O padrasto está desaparecido e não manteve mais contato com a família.

    — Achei que o suspeito iria se apresentar na delegacia com algum advogado, mas ainda está desaparecido. Posso afirmar que temos elementos suficientes para dizer que esse homem está envolvido na autoria do crime — afirma.

    A mãe voltou para casa na noite de domingo, mas houve invasão de pessoas, que pretendiam agredi-la, conforme o delegado. Por conta disso, a mulher procurou abrigo na casa de parentes ou amigos e não retornou mais à residência.

    De acordo com o delegado, todos sabiam das condenações passadas do padrasto, inclusive a mãe. Ela relatou à Polícia Civil que ele jurou não fazer nada com as filhas e, como frequentava uma igreja evangélica, teria mudado de comportamento. A irmã do suspeito foi quem recebeu uma mensagem dele pouco depois do crime. Segundo o delegado, o recado em áudio informou onde ele havia abandonado o carro – um Fiat Uno, deixado no município de Montenegro. No áudio, ele também afirmava que “havia feito besteira”. Poucas horas após a agressão seguida de assassinato, o carro foi localizado com o celular do homem dentro, além da chave do automóvel.

    Arquivo pessoal / Divulgação
    Registro de Jordana há poucos anos, na escola Arquivo pessoal / Divulgação

    “Eu teria ido buscar minha filha na mesma hora”, diz pai

    O pai de Jordana, o motorista Gelson Jair Watthier, 47, está consternado com o fato. Nesta terça-feira, após o sepultamento, ele atendeu a reportagem emocionado e lamentou não ter sido avisado do histórico do namorado da mãe dela. Ele costumava buscar ela e o irmão pelo menos duas vezes por ano para passar as férias com ele.

    — Eu perguntava se ela queria vir morar comigo e ela respondia prontamente que sim, mas quando eu questionava se havia algo de errado, ela não contava. Eu não estava sabendo de nada. Soube que ela se queixava para uma vizinha da mesma idade que ele apalpava ela nas nádegas. A mãe escondeu isso, dizia que era brincadeira. Por que não me avisaram? Eu teria ido buscar ela na mesma hora. Por que não entraram em contato comigo? Eu não deixaria para depois, buscaria ela no mesmo instante. Eu quero justiça, ele tem que pagar por tudo que fez com a minha filha — afirma.

    Antonio Valiente / Agencia RBS
    Escola São José simboliza luto no portão de entrada Antonio Valiente / Agencia RBS

    “Uma menina doce e talentosa”, diz professora

    Jordana era aluna de música da professora Mariliane Dessotti, 49, conhecida como “profe Nina” pelos alunos. Ela conta que conhecia Jordana desde o 3º ano – ela já estudava no 8º da Escola Municipal de Ensino Fundamental São José. A menina tocou flauta doce desde pequena e, em 2018, tocou escaleta em uma banda marcial. Segundo Nina, os alunos do 3º ano entram para ser alfabetizados musicalmente com flauta doce, mas ela já chegou tocando. Jordana já havia aprendido por conta própria por usar a flauta do irmão mais velho, Felipe, que também já tinha recebido aulas na escola antes dela.

    — Ela estava sempre sorrindo, mas não se abria muito para falar de si. É difícil falar dela sem chorar. Ela tinha uma facilidade impressionante para tocar. Muito aberta para aprender, assimilava com facilidade e era obediente. Os colegas me enviaram mensagem perguntando: porque a Jô? Uma menina tão querida e cheia de vida. Ela dizia que queria ser artista, queria ser famosa e fazer a diferença. De fato, ela era diferente. Sei que ela ajudava muito a mãe nos afazeres domésticos e cuidava da irmã. Eu amava essa guria, ela era muito doce — disse.

    A reportagem tentou contato com a mãe, mas não obteve retorno. Ela não foi até o velório e sepultamento da filha, realizados em Três Passos.

     

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