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‘Postura discriminatória’, diz delegada negra barrada em shopping sobre código ‘Zara zerou’ disparado por loja para alertar sobre clientes ‘suspeitos’

Delegado-geral de polícia do Ceará disse que código sonoro servia para indicar aos funcionários quais clientes deveriam ser vistos como “suspeitos em potencial”. Delegada falou sobre a conclusão do inquérito.

 

A delegada Ana Paula Barroso, barrada na Zara do Shopping Iguatemi em Fortaleza, afirmou, nesta quinta-feira (21), que o código sonoro “Zara zerou” é uma “postura discriminatória”. Segundo as investigações, a loja anunciava esse código em alto-falantes para indicar a funcionários que havia cliente ‘suspeito em potencial’ no local, que precisava ser vigiado.

“Até para minha surpresa, adveio a questão deste código. O código por si ele já demostra uma postura, uma fala discriminatória, onde há uma seletividade de pessoas. Para algumas pessoas o atendimento é um para outras o atendimento é outro. Isso por si só já demonstra discriminação”, afirmou.

Ana Paula foi proibida de entrar na loja no último dia 14 de setembro e denunciou que foi vítima de racismo por ser negra. A loja disse que ela foi impedida de entrar por estar tomando sorvete e sem máscara, mas vídeos divulgados pelos investigadores mostram que clientes brancos entraram na loja sem o acessório no mesmo dia (vídeo

Em entrevista à TV Verdes Mares nesta quinta-feira (21), Ana Paula Barroso lembrou também que muitos casos como o dela aconteceram em outros locais, mas que muitas pessoas desistiram por não conseguirem expressar a revolta.

“Eu estava ali para representar uma categoria de muitas pessoas que não conseguiram. Muitas vezes passaram pela mesma situação e não conseguiram verbalizar a sua dor, não procuraram a polícia e não tiveram coragem”, disse.

Ela afirmou ainda que hoje tem um sentimento de alívio por ter conseguido provar que houve discriminação por parte do estabelecimento.

“Meu sentimento neste momento agora é de alma lavada. Sentimento de paz . Sempre eu estive certa do que estava dizendo e agora tenho sensação de paz neste aspecto. Aqueles que duvidaram, está aí a prova. Não tem o que questionar. Agora a Ana Paula não é o centro desta discussão. Não deve ser. Eu só fui um objeto de um instrumento. Um instrumento de Deus neste processo todo”.

 

Assédio moral e procedimentos preconceituosos

A Polícia Civil apresentou as conclusões do inquérito nesta terça-feira (18). De acordo com as investigações da polícia, foram ouvidas sete testemunhas. Uma delas, uma mulher de 27 anos negra que relatou durante o depoimento que foi vítima da mesma situação no último mês de junho. Outras duas ex-funcionárias da loja Zara relataram também em depoimento assédio moral e procedimentos preconceituosos na forma de atendimento a possíveis clientes.

Também foram ouvidos três seguranças do shopping onde a loja funciona e o chefe de segurança do local, que voltou à loja com a vítima minutos após a expulsão.

‘Zara zerou’ em altos falantes internos

O delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Sérgio Pereira dos Santos, afirmou, nesta terça-feira (19), que a loja Zara usava o código sonoro “Zara zerou” nos alto-falantes internos para indicar aos funcionários quais clientes deveriam ser vistos como “suspeitos em potencial”.

“Isso era um comando que era dado pra que todos os funcionários da loja ou pelo menos alguns a partir de então começassem a observar aquela pessoa não mais como consumidor, mas como suspeito em potencial que precisava ser mantido sob vigilância da loja”, afirma Sérgio Pereira.

Segundo ele, essas pessoas eram negras e usavam vestimentas simples para entrar no estabelecimento comercial. Em nota enviada ao g1 na tarde de quarta-feira (20), “a Zara nega a existência de um suposto código para discriminar clientes”.

O que diz a Zara

Em nota enviada ao g1 na tarde de quarta a Zara nega que exista um suposto código usado na loja para discriminar clientes.

A Zara informou ainda que a abordagem não foi motivada por questão racial, mas por causa de protocolos de saúde. A nota diz também que a loja “não tolera nenhum tipo de discriminação” (leia íntegra mais abaixo).

De acordo com o delegado-geral, a polícia identificou uma ex-funcionária da loja que explicou como se dava o procedimento.

Loja que barrou mulher negra em Fortaleza alegando uso indevido de máscara recebeu pessoas brancas nas mesmas condições.

A Polícia Civil apresentou os vídeos que mostram clientes brancos na loja da Zara, em Fortaleza, consumindo alimentos e sem o uso correto da máscara, sem serem barradas.

“O material visual obtido por meio do circuito interno da loja revela o tratamento diferenciado dado pelo funcionário da loja à vítima. Nas imagens, é possível ver quando a vítima é expulsa do local, quando minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente que, mesmo não consumindo nenhum alimento, não fazia o uso correto da máscara. A cena foi observada em outras situações onde outros clientes também não foram retirados da loja ou abordados para que utilizassem a máscara de forma correta”, informou a Polícia Civil.

crime de racismo contra a delegada Ana Paula pode gerar reclusão de um a três anos e multa ao funcionário suspeito de cometer a discriminação racial, e também punição cível à loja, segundo a Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE).

A lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define e pune casos de racismo prevê que tanto o estabelecimento quanto a loja podem sofrer punições judiciais, explica Tharrara Rodrigues, integrante da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB-CE.

 

Leia a íntegra da nota da loja:

“A Zara Brasil, que não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação, quer manifestar que colaborará com as autoridades para esclarecer que a atuação da loja durante a pandemia Covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde, já que o decreto governamental em vigor estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos. Qualquer outra interpretação não somente se afasta da realidade como também não reflete a política da empresa. A Zara Brasil conta com mais de 1800 pessoas de diversas raças e etnias, identidades de gênero, orientação sexual, religião e cultura. Zara é uma empresa que não tolera nenhum tipo de discriminação e para a qual a diversidade, a multiculturalidade e o respeito são valores inerentes e inseparáveis da cultura corporativa. A Zara rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser combatido com a máxima seriedade em todos os aspectos”

Fonte: G1

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