O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou nesta segunda-feira (1º), durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, COP26, que o Brasil deverá zerar o desmatamento ilegal em 2028. A meta anterior estipulava 2030.
A meta de desmatamento ilegal zero apresentada por Leite na COP26 entrará em prática a partir de 2022 e seguirá as etapas, segundo o governo:
- Redução de 15% ao ano até 2024;
- Redução de 40% ao ano em 2025 e em 2026;
- Redução de 50% em 2027;
- Zerar o desmatamento ilegal em 2028
O presidente Jair Bolsonaro, que não participará da COP26, enviou um vídeo que foi transmitido antes dos anúncios de Leite. Ele ignorou os recordes de desmatamento registrados na Amazônia e demais biomas desde 2019 e apenas afirmou que o país pode “ser mais ambicioso”.
“O Brasil é parte da solução para superar esse desafio global. Os resultados alcançados até 2020 demonstram que podemos ser mais ambiciosos”, disse Bolsonaro em vídeo gravado.
Em nota, a Human Rights Watch afirmou que o Brasil precisa de ações urgentes para acabar com o desmatamento na Amazônia e que a meta apresentada por Leite “não exige a adoção de um plano operativo, com metas e ações, para sua implementação até setembro de 2022”.
Embora estimativas preliminares sugiram uma ligeira queda no desmatamento em 2021 em comparação com 2020, “a tendência de destruição dificilmente foi revertida. Com 10.800 km² desmatados no ano passado, o Brasil está longe de cumprir seu compromisso, anteriormente estabelecido, de reduzir os índices anuais de desmatamento na Amazônia para 3.925 km² até 2020”, diz a nota.
“O governo Bolsonaro pretende que o mundo agora pense que o Brasil está comprometido em salvar a floresta amazônica, mas esse compromisso não pode ser levado a sério, considerando seu histórico desastroso e o fracasso em apresentar planos confiáveis para obter resultados que são urgentemente necessários no combate ao desmatamento”, comenta a diretora da Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Canineu.
Levantamento do Imazon mostrou que o desmatamento na Amazônia na temporada 2020/2021 é o maior dos últimos dez anos e que, nos últimos 12 meses, a floresta perdeu uma área equivalente a nove vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
Outro levantamento do instituto mostra que a Amazônia perdeu mais de 4 mil campos de futebol por dia em setembro, o maior já registrado para o mês em 10 anos.
Combater o desmatamento na Amazônia, principalmente, ajuda o Brasil — e o mundo — em outro problema relacionado às mudanças climáticas: o aquecimento global. Isso porque a floresta amazônica ajuda a equilibrar o clima do planeta ao capturar e estocar quantidades enormes de CO², um dos principais gases do efeito estufa.
Porém, quando árvores são derrubadas, parte desses gases são liberados para a atmosfera e novas absorções deixam de ocorrer. É o que mostrou um estudo publicado em julho, liderado pela pesquisadora Luciana Gatti do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que aponta que regiões da floresta afetadas pela degradação ambiental estão levando o conjunto da Amazônia a emitir mais carbono do que consegue absorver.
Desmatamento e emissões de CO2
“Apresentamos hoje uma nova meta climática, mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030; e de neutralidade de carbono até 2050, que será formalizada durante a COP26”, afirmou Leite.
Especialistas alertam que, apesar de parecer mais ambiciosa, a meta é uma “pedalada climática” e a redução até 2030 deveria ser de 80% das emissões, e não de 50% como anunciado.
A emissão líquida do Brasil atualmente é de cerca de 1,6 bilhão de toneladas de gases – o país é o quarto maior emissor de gases do planeta. Os maiores emissores de carbono no país são o desmatamento e a agropecuária. Juntos, os dois somam quase 70% das emissões totais do país.
Na contramão do mundo, o Brasil teve um aumento de 9,5% nas emissões de gases poluentes em 2020, em plena pandemia de Covid-19, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. Já a média global de emissões sofreu uma redução de 7%, por causa das paralisações de voos, indústrias e serviços ao longo do ano passado.
Quase R$ 3 bi parados no Fundo Amazônia
No vídeo enviado ao evento, Bolsonaro afirmou que, atualmente, o governo federal conta com linhas de crédito e investimentos que somadas superam a casa dos US$ 50 bilhões, oferecidas para projetos verdes em área para conservação e restauração florestal, agricultura de baixas emissões, energia renovável, saneamento, transporte e tecnologia da informação.
“Esses recursos vão impulsionar a economia, gerar emprego e contribuir para consolidar o Brasil como a maior economia verde do mundo”, disse.
Desde 2019, no entanto, está paralisado o Fundo Amazônia – fundo que recebia investimentos internacionais para serem investidos na conservação da floresta e no combate ao desmatamento -, com mais de R$ 2,9 bilhões “parados” no cofre público.
Fonte: G1.