Para matar preconceitos, renascemos! A frase é um trecho dos versos da canção “Pra matar preconceitos” (https://youtu.be/pwbI78cFf1o ), de Raul DiCaprio e Manu da Cuíca, que tem sido uma espécie de mantra na vida de professora Waldinéia Teles Pereira, cuja atuação na área da Educação, com o viés antirracista, lhe rendeu o Prêmio Rosas Negras do Fórum de Mulheres Negras de Itaboraí, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “Momento lindo de acolhimento, trocas de histórias de resistências e experiências profissionais de combate ao racismo. Muito honrada pelo reconhecimento, por fazerem dos meus singelos passos uma referência de comprometimento de luta e enfrentamento às desigualdades raciais”, escreveu a educadora na sua página do Facebook, após conquistar a premiação que lhe foi conferida pela sua trajetória antirracista e pelo destaque do artigo “O currículo e a educação de jovens e adultos: onde está o negro nessa relação?”, publicado no livro “Práticas curriculares antirracistas: temas em construção”.
O texto é um fragmento reflexivo da sua dissertação de mestrado, durante a qual Waldinéia pesquisou a presença negra na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e descobriu que o povo negro sempre esteve disponível ao aprendizado, mas que, apesar de ter fomentado uma gama cultural imensurável para o Brasil, continua tendo os seus direitos violados. “A cultura, saberes e memórias brasileiras são representadas e vividas à luz dos povos afro-brasileiros. Porém, na relação do sistema educacional, o negro está em constante atraso, invisível e violado. Temos uma produção de altos índices de reprovação e evasão escolar. Um silencioso boicote à lei 10.639/03 (tornou obrigatório o ensino de História e Cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental e médio) e à Lei 11. 645/08 (instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e cultura indígena). Como pode um país de estrutura colonial usurpar os saberes das populações explorados e deserdá-los? A EJA é fruto desse repertório político histórico, que produz um sistema educacional e socioeconômico tão desigual e injusto”, afirmou.
Waldinéia, 42 anos, nasceu em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. É pedagoga, professora e mestre em Educação pela UFF e especialista em Relações Raciais e Educação, pelo PENESB/UFF. Sobre o prêmio Rosas Negras que lhe foi conferido pelo Fórum das Mulheres Negras de Itaboraí, ela disse que representa o reconhecimento de um longo trabalho árduo que é combater o racismo e promover diálogos no campo educacional. “Tal reconhecimento da sociedade civil traduz a altura e pertinência da luta antirracista”, completou.
A educadora faz questão de ressaltar que sempre estudou em escolas públicas estaduais e municipais, e que, atualmente, exerce a sua profissão também em instituições públicas de ensino. “Isso muito me orgulha!”, disse Waldinéia que é tutora presencial nas Disciplinas Pedagógicas da Licenciatura em Matemática (UFF) e na Licenciatura em Pedagogia (UniRio), no Polo Regional UAB/Cederj de Rio Bonito.
Ações afirmativas
Como autora e na sua prática pedagógica Waldiéia debate o lugar do negro no currículo e na educação de jovens e adultos. Fiel defensora da importância da discussão desse tema no ambiente de ensino, ela comenta sobre os efeitos práticos para a educação de jovens e adultos negros, a partir das Ações Afirmativas e das leis antirracistas na Educação no Brasil. “Os efeitos práticos das Ações Afirmativas refletem-se na visibilidade e reparação da desigualdade social e injustiças promovidas pelo Estado brasileiro. Assim como a lei 10.639/03 estabelece condições para ensinar e conscientizar a população negra sobre sua História, cultura e contribuições em todas as áreas do conhecimento”.
Waldinéia disse que concorda com a educadora, intelectual e ativista afro-americana bell hooks (pseudônimo de Gloria Jean Walkins, professora do City College de New York), quando ela diz que o professor deve ensinar aos alunos romperem com a fronteiras raciais, vivenciarem a educação como prática de liberdade. “Concordo com bell hooks, assim como, concordo com Dandara e Zumbi dos Palmares, Abdias do Nascimento (mentor do Teatro Experimental do Negro), Paulo Freire, Lélia González e Beatriz Nascimento. O povo negro brasileiro sempre lutou por liberdades: mentais e/ou concretas. O povo negro sempre resistiu e criou. Cria alternativas para existir e driblar a ‘elite do atraso’, que acredita na exploração e acúmulo”, disse Waldinéia.
Quando é indagada sobre se existe uma fórmula para se tratar do racismo no ambiente escolar, a pedagoga disse que não existe uma receita pronta, mas dá algumas pistas. “Existe um caminho de esclarecimentos e consciências de nossa diversidade. Nós, professores, precisamos entender que racismo existe. Não é brincadeira, não é mimimi e precisa ser estudado e debatido na sala de aula. Compreender a negritude e a branquitude. Há uma relação de desumanização imatura, questão esclarecida há anos pela ciência mundial: ‘Não há raças, há a raça humana, independentemente da cor ou etnia. Então, a escola precisa criar espaços de debates, escutas e mediações sobre o racismo e/ou quaisquer outras formas de violências e violações. Agradeço aos meus antepassados pelas resistências, ensinamentos, lutas e caminhos abertos!”, concluiu.
O livro “Práticas curriculares antirracistas: temas em construção” foi lançado pela Editora WAK e pode ser encontrado pelo endereço: https://wakeditora.com.br/produto/praticas-curriculares-antirracistas-temas-em-construcao/ .
Parabéns Waldineia pelo reconhecimento público do seu trabalho no âmbito da educação das relações raciais
Um grande abraço