O apagão de dados sobre a expansão de infecções pela variante ômicron, no Brasil, deixa técnicos e cientistas da OMS (Organização Mundial da Saúde) alarmados. A agência com sede em Genebra teme que, sem um controle e mapeamento da dimensão das contaminações pela variante, o Brasil possa entrar em uma nova fase de turbulência em relação à crise sanitária, com um impacto ainda nos países vizinhos.
De acordo com a OMS, na semana que foi concluída em 2 de janeiro de 2022, o mundo registrou uma taxa recorde de 9,5 milhões de casos de covid-19. Inédito, o número deve ser superado pelos registros já obtidos na semana que terminou neste fim de semana.
O problema, porém, é que o caso brasileiro acendeu um sinal de alerta na OMS e passou a ser usado internamente por alguns dos técnicos como “exemplo” de país onde o apagão está impedindo que o mundo tenha, de fato, uma percepção real da nova onda da covid-19.
“Há uma sensação de que o Brasil está voando no escuro”, alertou um dos cientistas na OMS, que pediu anonimato.
De acordo com Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da agência, o volume de quase 10 milhões de casos na semana passada é apenas parte da história e há uma constatação de que a subnotificação é importante.
Para técnicos dentro da agência, a testagem continua sendo um ponto fundamental no combate contra a covid-19, apesar da explosão de casos da ômicron. Hoje, segundo o site World in Data, o Brasil é o país da América do Sul que menos testa entre os governos que revelam seus números.
Em uma semana, foram 0,23 teste da doença por 1 mil pessoas. Na Argentina, a taxa superou 2 testes por mil pessoas.
Contabilizando desde o início da pandemia, o site Statista aponta que 63 milhões de testes foram realizados no Brasil, menos de 10% dos 813 milhões de testes nos EUA e inferior ao volume de exames na Espanha, país com a população do estado de São Paulo.
Terceiro local com mais mortes no mundo, o Brasil também sumiu das tabelas da OMS. O país, vivendo o um apagão de informações, aparece abaixo até mesmo que locais como a Grécia, que conta com a população inferior ao total da cidade de São Paulo.
Na avaliação de técnicos que fazem parte dos comités da OMS, é importante reforçar que, sem monitoramento adequado de dados no Brasil, é impossível obter uma estimativa adequada do impacto da pandemia e planejar medidas de mitigação para sobrecarga de serviço e falta de profissionais nos diversos setores em função da infecção.
Para os especialistas, isso é fundamental tanto do ponto de vista de saúde quando para minimizar o impacto na economia.
Já outros alertam que, sem um mapeamento eficaz da pandemia no Brasil, o temor é de que países da região possam ficar ainda mais vulneráveis.
Fonte: UOL.