Operação no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, no início de maio, deixou 28 mortos Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Pouco mais de oito meses após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que terminou com 28 mortos, policiais civis e militares realizam nova ação na Favela do Jacarezinho, na manhã desta quarta-feira. É a primeira fase do projeto Cidade Integrada, do governo do Rio. Ao contrário do ano passado, não houve tiroteio na entrada dos agentes na comunidade, mas o clima é de apreensão entre os moradores e aqueles que saíam para trabalhar mostravam receio de serem pegos no fogo cruzado.
O governador Claudio Castro disse, por meio de seu perfil no Twitter, que a ação é um “grande processo de transformação”: “Damos início a um grande processo de transformação das comunidades do estado do Rio. Foram meses elaborando um programa que mude a vida da população levando dignidade e oportunidade. As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança”.
Ele adiantou que, no próximo sábado, dará detalhes sobre o projeto, que afirmou ser permanente. “No sábado, vou detalhar os projetos que serão iniciados de maneira permanente em duas comunidades. E que servirão de modelo para outros importantes lugares que sofrem com a ausência de serviços e programas que realmente colaborem para melhorar a vida de quem mora nessas áreas”, tuitou Castro.
Desde a noite de ontem, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) já cercavam a comunidade para o início da ocupação. Pela manhã, as 5h30, os policiais civis começaram a deixar a Cidade da Polícia, que fica em frente à comunidade, e entrar pelas vielas. Além de dezenas de agentes, dois veículos blindados também entraram, assim como outras viaturas. Pelo alto, um helicóptero dá apoio à operação.
Os moradores que saíam para trabalhar ficaram apreensivos, com muitos apertando o passo para sair do caminho dos policiais. A doméstica Ana Ribeiro se abrigou embaixo de uma marquise, com medo de um novo confronto com traficantes.
— No ano passado eu também estava saindo para o trabalho quando teve aquele tiroteio e não quero passar por isso de novo. Tomara que desta vez seja algo mais tranquilo para os moradores.
Por volta das 6h30, alguns comerciantes começaram a abrir suas lojas, com o cuidado de olhar ao redor. Alguns deles perguntavam a jornalistas e a policiais militares, posicionados na entrada da comunidade, se a situação é tranquila.
Em seu perfil no Twitter, a Polícia Militar informou que há segurança reforçada em outras comunidades próximas ao Jacarezinho: “O Governo do Estado inicia uma retomada de território na comunidade do Jacarezinho. Comunidades que estão no entorno também serão ocupadas, como a do Manguinhos, Bandeira II e Conjunto Morar Carioca. Equipes do #COE, da #CPP e de batalhões da capital estão atuando no local”.
Mais quatro comunidades devem ser incluídas
Outras quatro favelas devem ser incluídas no projeto: Cesarão, Pavão-Pavãzinho e Cantagalo, Maré e Rio das Pedras.
Um dos objetivos do novo projeto é “quebrar” barreiras, integrando bairros formais e informais, com “investimentos em infraestrutura, melhorias de espaços, garantia de acessibilidade, construção e reforma de equipamentos públicos, reforma de unidades habitacionais e ações sociais e de segurança pública, além de projetos que gerem emprego e renda”.
Quando o projeto foi anunciado, em novembro de 2021, o coronel da reserva da PM e ex-comandante das UPPs, Robson Rodrigues, elogiou a iniciativa, mas disse temer que os mesmos erros das UPPs sejam repetidos, como a falta de uma restruturação das polícias:
— É necessário trabalhar a política de segurança com transparência. Saber quais foram os critérios e os estudos que levaram à escolha dessas comunidades, por exemplo. Quais serão os índices de governança, não só policial, que serão acompanhados para saber se houve êxito ou fracasso? A maior armadilha de um projeto como este é ter um apelo mais político que técnico.
Fonte: THN1.