Pela “explosão” no número de casos de covid-19 estar ocorrendo em um momento em que a população apresenta um alto índice de vacinação contra a doença, a atual fase da pandemia pode ser vista como uma “janela de oportunidades” para o Brasil.
A avaliação epidemiológica consta em um boletim divulgado na manhã de hoje por pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Para o grupo, o recente aumento no número de casos de covid-19, impulsionado pela variante ômicron, apontada como mais infecciosa, acaba criando, ainda que por um curto espaço de tempo, “uma legião de pessoas com resposta imune ao vírus”.
E o olhar positivo para essa onda de infecções, apontaram os integrantes do observatório, só é possível por causa da vacinação em massa, tendo em vista que tal ação é o meio mais eficaz de se combater casos graves da doença.
“Isso significa que, por algum tempo, haverá centenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo imunes a uma nova infecção”, pontuaram os pesquisadores, que, ainda assim, disseram que há “controvérsias e incertezas” sobre uma avaliação do gênero.
“Esse momento, portanto, pode representar uma oportunidade de readequação do sistema de saúde para o atendimento de casos mais graves e o acompanhamento de pessoas infectadas com sintomas mais leves”, segundo o grupo.
Para isso, apontaram os pesquisadores, é preciso que o Brasil “intensifique a oferta de vacinas”, realize “busca ativa” de pessoas que ainda não receberam todas as doses contra a covid-19, massifique a vacinação infantil e preserve o “bom uso de máscaras”.
“São medidas sobre as quais não há controvérsia, e possuem um histórico de utilização efetiva em outras sociedades, como a asiática”, pontuaram.
“É necessário reforçar este ponto, para que estas práticas sejam adotadas pela população de forma definitiva, mesmo que estejamos fora da pandemia”, finalizaram.
Comparação
70,5% da população já tomou ao menos duas doses da vacina contra a covid-19, que configura o esquema inicial completo, segundo dados atualizados ontem.
Já a média móvel de casos, também de acordo com dados do consórcio atualizados ontem, ficou em 164.327 infecções, um número 102% maior do que o do pico de diagnósticos que se tinha até o ano passado, de 77.295 de registros, em 23 de junho de 2021.
Porém, em 23 de junho do ano passado, a média móvel de mortes pela covid-19 era de 1.915 registros. Já ontem, o número levantado pelo consórcio foi de 823 mortes.
No tocante ao número de brasileiros vacinados em 23 de junho de 2021, apenas 11,6% já haviam recebido as duas doses da vacina contra a covid-19, e 31,7%, apenas uma.
Pressão de não vacinados
Apesar da média móvel de mortes levantada ontem ser menos da metade do que se registrou no dia do pico de casos de covid-19 até 2021, a curva está em alta, e, levando-se em conta apenas últimas 24 horas, foram registradas mais de mil mortes pela doença.
Dados dispersos, porém, tem mostrado uma prevalência maior de internações e mortes entre pessoas não vacinadas ou com imunização incompleta contra a covid-19.
No Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência para casos graves da doença em São Paulo, não vacinados ou pessoas com imunização incompleta representaram 83% das mortes por covid-19 nos últimos três meses.
E no município do Rio de Janeiro, em 27 de janeiro deste ano, 46% dos internados em leitos destinados a pacientes com covid-19 não haviam tomado nenhuma dose da vacina contra o novo coronavírus.
Já quem havia tomado ao menos uma dose da vacina, mas não completado o esquema — composto pelas duas aplicações inicias e a dose de reforço —, representava 42% dos internados — ou seja: somando os dois grupos, chegava-se a um índice de 88%.
Naquela altura, 87,7% da população do Rio já havia tomado ao menos uma dose da vacina contra a covid-19, segundo dados da prefeitura — ou seja: mesmo sendo minoria na população, não vacinados representavam quase metade dos internados.
Segundo a Fiocruz, “alguns estudos têm apontado que o risco de internação é mais de dez vezes maior entre pessoas não vacinadas, comparado a pessoas que receberam pelo menos duas doses das vacinas”.
Fonte: UOL.