A Covid-19 é causada por um vírus de transmissão respiratória, o SARS-CoV-2 ou novo coronavírus. Embora tenha sido descrita inicialmente como uma infecção viral do trato respiratório, com os efeitos esperados principalmente para órgãos como a traqueia e os pulmões, a doença se revelou um verdadeiro quebra-cabeças, com impactos significativos para outros órgãos do corpo.
Cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, realizaram um amplo estudo que revelou que a infecção causada pela Covid-19 aumenta os riscos do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
O estudo, publicado no periódico científico Nature, aponta que a probabilidade de problemas no coração aumenta até mesmo entre os pacientes que apresentaram casos leves da doença.
As taxas de diferentes condições, como insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC), se mostraram substancialmente mais altas em pessoas que se recuperaram da infecção do que em indivíduos com perfil semelhante que não tiveram a doença.
De acordo com a análise, o risco foi elevado mesmo para aqueles com menos de 65 anos de idade e sem fatores de risco, como obesidade ou diabetes. As pessoas que se recuperaram da Covid-19 apresentaram aumentos acentuados em pelo menos 20 problemas cardiovasculares ao longo de um ano após a infecção.
Em relação ao acidente vascular cerebral, os recuperados eram 52% mais propensos a ter o problema do que aqueles que não foram expostos ao contágio. Já o risco de insuficiência cardíaca aumentou 72%.
Embora a hospitalização tenha aumentado a probabilidade de complicações cardiovasculares futuras, mesmo as pessoas que não foram internadas estavam em maior risco de muitas condições cardíacas.
Em entrevista ao site CNN, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar repercutiu os principais destaques do estudo norte-americano.
“Nós entendemos, ao longo dos meses iniciais da doença, que o coração e os vasos sanguíneos também são afetados pela doença. Então, a Covid-19 é uma doença que hoje a gente chama sistêmica”, diz a médica.
No estudo da Nature, foram utilizadas informações de bancos de dados de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos. Os pesquisadores avaliaram dados de mais de 153 mil indivíduos que tiveram Covid-19, além de dois conjuntos de populações que não tiveram a doença, chamadas tecnicamente de “controle”, sendo dados atuais de 5.6 milhões de indivíduos, e dados históricos de 5,8 milhões de pessoas.
A comparação das informações em saúde permitiu estimar os riscos de um conjunto de desfechos cardiovasculares no período de um ano.
“Pesquisadores da Universidade de Washington acompanharam 153 mil indivíduos que tiveram Covid-19 e se curaram. Destes indivíduos, uma boa parte teve a forma leve e nem foi hospitalizada. Uma outra parte ficou hospitalizada em quarto ou enfermaria normal, e uma minoria ficou internada na UTI”, explica.
Segundo a cardiologista, um dos principais achados do estudo foi a evidência científica de que a Covid-19 pode ocasionar complicações cardiovasculares a longo prazo.
“Eles perceberam que um ano após a Covid-19, independente da forma da doença – leve, moderada ou grave, os pacientes que tiveram Covid-19 tiveram um aumento significante de complicações cardíacas ou de doenças que afetam o coração e os vasos. Dentre elas, o infarto agudo do miocárdio, a angina, o acidente vascular cerebral, a embolia de pulmão, a trombose dos vasos, as miocardites, as pericardites e as arritmias cardíacas”, afirma.
A cardiologista explica que o aumento no risco de problemas cardiovasculares está associado ao desequilíbrio no sistema imunológico ocasionado pela Covid-19, que também acontece em quadros de outras doenças inflamatórias, como o câncer.
Ela destaca que os achados do estudo norte-americano também reforçam as evidências de que os riscos de complicações cardíacas graves são altos pela infecção natural. Além disso, segundo a cardiologista, problemas cardíacos ocasionados por eventuais reações adversas à vacina são extremamente raros.
“A vacina contra a Covid-19 é a melhor maneira de prevenir contra a doença, contra as complicações cardiovasculares e, inclusive, contra a miocardite”, enfatiza.
Fonte: CNN Brasil.