Manter uma dieta à base de vegetais tem se mostrado muito bom para o coração e a saúde de forma geral, bem como à do planeta. De fato, um estudo recente apontou que um jovem pode viver mais 13 anos comendo mais vegetais e legumes, além de grãos integrais, frutas e nozes.
O que torna as descobertas de uma nova análise da dieta de quase 400 mil adultos do Reino Unido publicadas na segunda-feira (21) na revista Frontiers in Nutrition bastante surpreendentes: comer vegetais, especialmente os cozidos, não reduz o risco de doença cardíaca ao longo do tempo.
“Nosso grande estudo não encontrou evidências de um efeito protetor da ingestão de vegetais na ocorrência de DCV (doença cardiovascular)”, disse Qi Feng, epidemiologista do Departamento de Saúde da População de Nuffield da Universidade de Oxford, em um comunicado.
O estudo apontou que comer vegetais crus pode proteger contra doenças cardíacas, vegetais cozidos não. Qualquer benefício desapareceu quando os pesquisadores consideraram fatores de estilo de vida, como atividade física, nível educacional, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, ingestão de frutas, consumo de carne vermelha e processada e uso de suplementos minerais e vitamínicos.
“Em vez disso, nossas análises mostram que o efeito aparentemente protetor da ingestão de vegetais contra o risco de DCV é muito provavelmente explicado por viés […] relacionado a diferenças na situação socioeconômica e estilo de vida”, disse Feng.
Especialistas recomendam cautela
Não comecem a comemorar ainda, odiadores de vegetais. Especialistas no Reino Unido e nos Estados Unidos rapidamente se opuseram à conclusão do estudo.
“Embora este estudo tenha mostrado que comer mais vegetais não estava associado a um menor risco de doenças cardíacas e circulatórias, uma vez que outros estilos de vida e outros fatores foram levados em consideração, isso não significa que devemos parar de comer vegetais”, disse Victoria Taylor, nutricionista sênior da British Heart Foundation, em um comunicado.
“Existem boas evidências experimentais de que comer alimentos ricos em fibras, como vegetais, pode ajudar a reduzir o peso e melhorar os níveis de fatores de risco conhecidos por causar doenças cardíacas. O presente estudo observacional não pode superar essas evidências e suas conclusões podem ser debatidas, pois os autores pode ter se ajustado demais para fatores que explicam a menor ingestão de vegetais”, disse Naveed Sattar, professor de medicina cardiovascular e metabólica da Universidade de Glasgow, na Escócia, em um comunicado.
“Os resultados não são surpreendentes. Escolher um único componente e assumir apenas adicioná-lo à dieta, por exemplo, vegetais, provavelmente não resultará no efeito desejado”, Alice Lichtenstein, diretora e cientista sênior do Laboratório de Nutrição Cardiovascular da Universidade Tufts, disse à CNN em um e-mail.
“Uma coisa que ficou clara na última década é que não devemos olhar para alimentos ou nutrientes isolados, mas sim para todo o padrão alimentar”, disse Lichtenstein, que também é professora de Ciência e Política da Nutrição na Tufts University.
Apenas cinco colheres de sopa de legumes
O estudo usou dados do UK Biobank, um estudo longitudinal de quase meio milhão de adultos do Reino Unido projetado para investigar como a genética e o meio ambiente contribuem para muitas doenças comuns.
As pessoas foram perguntadas no início do estudo quantos vegetais crus e cozidos comiam e, em seguida, foram acompanhadas por mais de 10 anos para ver se desenvolviam doenças cardíacas.
Em média, as pessoas no estudo do Reino Unido relataram comer cerca de cinco colheres de sopa de vegetais por dia – isso é apenas 71 gramas. Cerca de 2,5 colheres de sopa eram vegetais crus, as outras três eram cozidas.
“Isso é tão pouco”, disse Andrew Freeman, copresidente do Grupo de Trabalho de Nutrição e Estilo de Vida do American College of Cardiology.
As diretrizes dietéticas no Reino Unido exigem cinco porções de frutas e vegetais por dia, com cada porção sendo cerca de 80 gramas (1 xícara), para um total de 5 xícaras por dia.
Nos Estados Unidos, as diretrizes alimentares são mais específicas, recomendando que a maioria dos adultos coma pelo menos 1,5 a 2 xícaras de frutas e 2 a 3 xícaras de vegetais por dia como parte de uma dieta saudável. Traduzindo xícaras em colheres de sopa, uma ingestão saudável de vegetais incluiria até 48 colheres de sopa de vegetais por dia.
“Isso é uma tonelada de colheres de sopa”, disse Freeman. “Então a questão é: se essas pessoas no estudo estavam comendo uma quantidade tão pequena de vegetais, o que mais eles estão comendo e quanto isso confundiu esses resultados?”
Gunter Kuhnle, professor de nutrição da Universidade de Reading, no Reino Unido, também apontou o impacto das escolhas alimentares alternativas.
“As pessoas que não comem vegetais precisam comer outra coisa – e ao estimar o efeito na saúde de comer vegetais, é importante considerar o que eles substituem”, disse Kuhnle em um comunicado.
“Substituir um lanche açucarado por palitos de cenoura provavelmente melhorará a saúde – e terá um efeito benéfico no risco de DCV. Esse não seria o caso ao substituir um lanche integral por cenouras”, disse ele.
Qual é o caminho para o público que come (e odeia) vegetais?
“Este é um estudo muito interessante – mas não um que deve ser usado como justificativa para parar de comer vegetais”, disse Kuhnle.
“O melhor conselho que podemos dar às pessoas é se concentrar em toda a sua dieta, quais alimentos priorizar e o que minimizar”, disse Lichtenstein. “Em geral, acho que os dados ainda apóiam os efeitos benéficos de um padrão alimentar rico em frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, peixe, laticínios sem gordura e com baixo teor de gordura e relativamente baixo em açúcar e sal adicionados”.
Fonte: CNN Brasil.