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Após flexibilização, cientistas recomendam máscaras em escolas e transporte

Ricardo Wolffenbuttel/Governo de SC

Com os movimentos de governos de estados e capitais de flexibilizar a obrigatoriedade do uso de máscaras contra a covid-19, cientistas apontam riscos para pessoas mais vulneráveis —como idosos e crianças não vacinadas— e em locais com altos índices de contaminação, como o transporte público.

O Rio de Janeiro foi a primeira capital a abolir a obrigatoriedade de máscaras em locais fechados, em decisão anunciada na segunda-feira (7). Hoje, o governo de São Paulo deve deixar de exigir o uso da proteção em espaços abertos —ao menos cinco estados e o Distrito Federal adotaram a medida, assim como a Prefeitura de Macapá.

Cientistas ouvidos tiraram dúvidas sobre em que condições ainda é recomendado o uso de máscaras mesmo com a flexibilização das regras.

A liberação do uso do item de proteção ocorre em um cenário de queda de casos e de mortes por covid-19 (veja abaixo a evolução dos números), após o pico causado pela variante ômicron do coronavírus em dezembro e janeiro.

Apesar disso, a infectologista Joana D’Arc Gonçalves, professora da UniCEUB (Centro Universitário de Brasília), diz considerar precipitada a decisão do Rio de acabar com a obrigatoriedade de máscaras em locais fechados.

“Acredito que deveríamos esperar um pouco mais para ter uma maior certeza dos resultados da terceira dose. Poucas pessoas no Brasil receberam o reforço e é ele que previne contra as novas variantes”, aponta.

Máscaras devem ser mantidas no transporte público e escolas?

Para especialistas em saúde, locais fechados apresentam risco maior de contaminação de covid-19, pelo fato de a transmissão do vírus ocorrer principalmente por meio de partículas que ficam suspensas no ar após expelidas por pessoas infectadas.

Em áreas abertas sem aglomeração, o risco é considerado muito pequeno, segundo cientistas.

Desde outubro —quando o Rio liberou pessoas sem máscara em áreas livres—, os números da pandemia caíram até meados de dezembro. No último mês do ano, a chegada da ômicron ao país e as festas de Natal e Réveillon levaram a uma explosão de casos na cidade.

Gulnar Azevedo, professora de Epidemiologia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), cita o transporte público, hospitais e escolas como ambientes de alto risco de contaminação.

A médica observa que as crianças ainda têm baixos índices de imunização e que, em unidades de saúde, há pessoas debilitadas por outras doenças.

Em ônibus, trens e metrô vai haver um acúmulo grande de pessoas muito próximas sem a ventilação adequada. Fora que não se sabe se nesses lugares estão pessoas com comorbidade, imunodeficiência ou idosos, que perdem mais rápido a proteção que as vacinas dão.”
Gulnar Azevedo, professora de Epidemiologia da Uerj

Nesses casos, a médica defende que é essencial que as pessoas sigam usando máscaras de boa qualidade, mesmo que não seja mais obrigatório.

8.mar.2022 - Passageiros lotam veículo do BRT em Madureira, na zona norte do Rio - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
8.mar.2022 – Passageiros lotam veículo do BRT em Madureira, na zona norte do Rio Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Gulnar cita a vulnerabilidade das crianças à doença pelo fato de não haver cobertura vacinal adequada na população entre 5 e 11 anos.

“Nas escolas, vai haver crianças sem a vacinação completa. Um terço ainda nem foi vacinada, só 9,5% foram vacinadas com duas doses. Essas crianças são expostas e são grupo de risco nesse momento”, diz a especialista.

Por que idosos não devem abolir o uso de máscaras?

As especialistas alertam que idosos, pessoas imunodeprimidas ou com comorbidades graves devem continuar usando máscaras tanto em ambientes abertos quanto fechados.

No fim de janeiro, boletim epidemiológico da SMS (Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro) mostrou o risco que idosos enfrentam.

Mesmo entre os vacinados com a dose de reforço, a mortalidade foi de 2,9 pessoas a cada 100 mil entre dezembro e janeiro no Rio. A taxa é superior ao índice de mortalidade entre pessoas de 12 a 59 anos que não se vacinaram ou estavam com o ciclo vacinal incompleto (1,8 mortes a cada 100 mil habitantes).

Em janeiro, 63,3% das mortes causadas por covid-19 no Brasil foram de idosos com 70 anos ou mais, o maior percentual mensal desde março de 2020 (início da pandemia), segundo dados dos cartórios de registro civil.

“Em pouco tempo, todos nós vamos estar mais vulneráveis por causa da redução de anticorpos. E imunodeprimidos, idosos e pessoas com doenças graves com certeza são mais vulneráveis”, afirma a infectologista Joana D’Arc Gonçalves.

O que fazer em caso de sintomas de gripe?

A cientista também pontua que pessoas com sintomas gripais devem usar máscara em todos os ambientes, para reduzirem o risco de transmissão da covid-19 e de outras doenças respiratórias.

Se a pessoa tem algum sintoma, até por questão de consciência social, deve colocar a máscara para não infectar os outros. Apesar de termos um comportamento social de que a pandemia já acabou, ela ainda não acabou.”
Joana D’Arc Gonçalves, infectologista

Os números da pandemia em SP, Rio e Brasil

No Brasil, após pico de infecções causado pela ômicron, a média móvel de mortes vem em queda há 11 dias. Na segunda (7), a queda já chegava a 48% em relação a duas semanas atrás.

A cidade do Rio de Janeiro —a primeira capital a abolir o uso de máscaras em locais fechados— não registrou mortes pela doença na última semana epidemiológica (entre 27 de fevereiro e 5 de março), segundo dados da SMS. Na semana anterior, foram registrados quatro óbitos, o menor número desde o início da pandemia.

Também não houve registros na capital fluminense de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) na última semana epidemiológica, segundo a SMS.

A vacinação está avançada em quase todas as faixas etárias na cidade do Rio. Entre os adultos, 99,7% da população tomou as duas doses ou dose única da vacina. A dose de reforço foi aplicada em 54,5% do público. Considerando também crianças e adolescentes a partir de 5 anos, 97,4% do público-alvo tomou a primeira dose da vacina, enquanto 89,3% tomou duas doses ou dose única.

Entre crianças de 5 a 11 anos, 32,8% ainda não receberam nenhuma dose de vacina.

Em São Paulo, a tendência dos números da pandemia também é de queda

A média diária de mortes no estado era de 109 na segunda-feira —redução de 62,2% em relação a 9 de fevereiro, pico da onda da variante ômicron, quando a média chegou a 288 óbitos.

Tendência parecida é verificada na média móvel de casos em São Paulo. Em 7 de março, o índice caiu para 6.401 registros, contra 16.473 em 9 de fevereiro — queda de 61,1%.

Em São Paulo, a vacinação infantil avançou mais. A plataforma VacinaJá, do governo paulista, aponta que 70,3% das crianças receberam uma dose, quando o patamar ideal seria de 80%. As crianças vacinadas com duas doses correspondem a 19,2% do total.

Fonte: UOL.

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