Os cientistas dizem que é preciso permanecer alerta para variantes que podem iniciar outro grande surto.
Um novo surto de vírus zika é bem possível, alertam os pesquisadores, e uma única mutação poderia ser suficiente para desencadear uma disseminação explosiva.
A doença causou uma emergência médica global em 2016, com milhares de bebês nascidos com danos cerebrais depois que suas mães foram infectadas durante a gravidez.
Cientistas americanos dizem que o mundo deveria estar atento a novas mutações.
O trabalho de laboratório, descrito no periódico científico Cell Reports, aponta que o vírus pode mudar facilmente, criando novas variantes.
Estudos recentes de infecção indicam que essas variantes podem ser eficazes na transmissão do vírus, mesmo em países que acumularam imunidade de surtos anteriores de zika, diz a equipe do Instituto La Jolla de Imunologia.
Especialistas disseram que as descobertas, embora teóricas, são interessantes – e um lembrete de que outros vírus além do causador da covid podem representar uma ameaça.
Vírus mudando de forma
O zika é transmitido por picadas de mosquitos Aedes infectados. Os insetos são encontrados em todas as Américas – exceto no Canadá e no Chile, onde é muito frio para eles sobreviverem – e em toda a Ásia.
Embora para a maioria das pessoas o zika seja uma doença leve, sem efeitos duradouros, pode ter consequências catastróficas para bebês que ainda estão no útero.
Se uma mãe contrair o vírus durante a gravidez, pode prejudicar o feto em desenvolvimento, causando microcefalia e danos ao tecido cerebral.
O vírus zika
- Embora o vírus seja transmitido principalmente por mosquitos, também pode ser transmitido sexualmente;
- Poucas pessoas morrem de zika e acredita-se que apenas uma em cada cinco pessoas infectadas desenvolva sintomas. Estes podem incluir febre, erupção cutânea e dor nas articulações;
- Como não há tratamento, a única opção é reduzir o risco de ser picado pelo inseto;
- Cientistas começaram a trabalhar em uma vacina contra o zika para ajudar a proteger mulheres grávidas.
Os pesquisadores recriaram o que acontece quando o zika passa entre mosquitos e humanos, usando células e camundongos vivos em seus experimentos.
Quando o zika passou entre células de mosquito e camundongos em laboratório, ocorreram pequenas mudanças genéticas.
Isso significa que foi relativamente fácil para o zika sofrer mutações de uma maneira que permitia que o vírus prosperasse e se espalhasse, mesmo em animais que tinham alguma imunidade anterior de uma infecção transmitida pelo mesmo mosquito: a dengue.
Mais investigação
O principal pesquisador do estudo, o professor Sujan Shresta, disse que “a variante do zika que identificamos evoluiu ao ponto em que a imunidade de proteção cruzada proporcionada pela infecção anterior por dengue não era mais eficaz em camundongos”.
“Infelizmente para nós, se essa variante se tornar predominante, podemos ter os mesmos problemas na vida real.”
“Ouvimos muito sobre a rápida evolução e surgimento de variantes de coronavírus ultimamente, mas este é um lembrete oportuno de que a mudança de forma é um recurso comum compartilhado por tantos vírus”, o professor Jonathan Ball, especialista em vírus da Universidade de Nottingham, disse à BBC.
“Este trabalho mostra a rapidez com que uma mudança de uma única letra na sequência do genoma de um vírus pode surgir e o forte impacto que pode ter na capacidade de doença de um vírus. Mas vírus que compartilham essas mudanças não são vistos com frequência em surtos. e, como os autores apontam, esses insights intrigantes exigem uma investigação mais completa.”
Clare Taylor, da Society for Applied Microbiology, alerta que “embora essas descobertas tenham sido observadas em experimentos de laboratório e, portanto, tenham limitações, elas mostram que há potencial para que variantes preocupantes surjam durante o ciclo normal de transmissão do Zika e nos lembra que o monitoramento é importante para acompanhar os vírus à medida que eles evoluem”.
Ela afirma que pode ser possível prever quais variantes podem causar problemas significativos no futuro e intervir cedo.
O professor Paul Hunter, professor de medicina da Universidade de East Anglia, disse que infecções passadas por zika ainda podem oferecer alguma proteção contra novas variantes – como foi visto com a covid.
Fonte: Uol Noticias.