Ícone do site GAZETA 24HORAS RIO

Há risco de uma nova onda de covid-19? Veja o que dizem especialistas

O avanço da vacinação contra a covid-19 em todo o país, atrelado à diminuição de internações e ao número de mortes, tem trazido um certo alívio para a comunidade médica e, principalmente, para a população.

No entanto, especialistas ouvidos por VivaBem chamam a atenção para o recente aumento do número de casos de covid-19 e alertam para um futuro ainda incerto. Para eles, algumas orientações básicas continuam sendo as mesmas, como manter o esquema de vacinação em dia e a higienização adequada. A seguir, veja quais são as perspectivas para os próximos meses.

Há risco de uma nova onda de covid-19?

Até o início desta semana, o país somava mais 10.606 novos casos conhecidos da doença e, por dois dias consecutivos, o indicador registrou uma tendência de alta.

“Nós estamos num contexto que estão flexibilizando as medidas de proteção e esquecendo da ameaça. É muito natural, infelizmente, que haja um aumento do número de novos casos”, diz Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre).

Mesmo assim, o infectologista, que também é professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), avalia que o que temos hoje, em termos de vacinação e medicamentos que estão surgindo, como o paxlovid, incorporado pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira, são o suficiente para conter a gravidade dos casos e evitar uma nova onda de covid-19.

Raquel Stucchi, médica infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), compartilha da mesma opinião. “Nós não devemos mais ter um impacto tão importante na saúde como tivemos nesses dois anos. A vacinação deve conseguir conter um aumento exponencial”, diz.

Mas, de qualquer forma, isso não significa que se os casos continuarem subindo não haverá um aumento significativo no número de internações e, consequentemente, mortes. Por isso a prevenção ainda é essencial.

Todas as doses são mesmo necessárias, até a quarta?

Sim, pois até o momento não foi desenvolvido um imunizante que proteja por um período indeterminado. E sabe-se que, em média, os imunizantes protegem contra o Sars-CoV-2 por cerca de seis meses.

Além disso, alguns especialistas afirmam que, devido ao surgimento de novas cepas, no mínimo três doses devem ser ministradas para que a doença não evolua para as formas mais graves. Isso para a população em geral.

Já para os mais vulneráveis como os idosos, que têm uma resposta imunológica inferior, se comparados aos demais grupos, a recomendação é unânime: todos devem completar o ciclo de vacinação de acordo com as orientações divulgadas pelos órgãos de saúde. O mesmo é válido para imunossuprimidos e afins.

“Nesses casos, quatro doses serão necessárias para a proteção adequada”, alerta Sprinz, lembrando que a única forma de esse cenário mudar é que sejam desenvolvidos mais antivirais específicos para a covid-19.

Para a médica infectologista da Unicamp, que também é consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a recomendação da quarta dose da vacina para essas populações é praticamente obrigatória. “A imunização com essa quarta dose tem por objetivo diminuir o risco de essas pessoas adoecerem gravemente necessitando de hospitalização, UTIs e eventualmente irem a óbito”, alerta Stucchi.

Idosos devem manter o calendário de vacinação em dia - iStock - iStock
Idosos devem manter o calendário de vacinação em dia Imagem: iStock

Qual vacina é recomendada para os idosos?

Os idosos devem receber, preferencialmente, vacinas de RNA mensageiro, como a Pfizer, pois são as que trazem uma melhor resposta imunológica contra o patógeno para esta população.

“As vacinas de RNA mensageiro deveriam ser reservadas para este grupo, porque os idosos têm uma resposta menor e que dura menos tempo. Na falta delas, pode ser outra, mas o reforço não deve ser feito com a CoronaVac”, ressalta Stucchi, lembrando que “a CoronaVac é uma ótima vacina em termos de eficácia para jovens, mas neste momento temos opções mais seguras para idosos”.

O que deveria ser feito para ampliar o percentual de vacinação?

Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 41% da população foi vacinada com a terceira dose da vacina. Já a quarta dose, que contempla os idosos e imunossuprimidos, foi aplicada em apenas 16%.

Para os especialistas, é preciso que haja campanhas efetivas de combate às fake news, isto é, às notícias falsas que surgem diariamente associadas a imunização contra a covid-19.

“Precisamos reforçar as informações de que a vacina é segura e protege contra as evoluções para formas mais graves. Essa informação precisa ser evidenciada em todos os âmbitos”, indica Sprinz, de Porto Alegre.

Em geral, uma melhor cobertura vacinal depende de campanhas educacionais e um melhor acesso para a população, como mais postos de saúde que apliquem a vacina e ampliação do horário de atendimento, inclusive aos finais de semana.

Novas variantes não param de surgir, como a subvariante ômicron XQ, há motivo para preocupação?

Os especialistas lembram que a variante delta dominou o contágio por cerca de um ano. Já a ômicron também possui um alto grau de transmissibilidade, prova disso são as subvariantes que não param de surgir.

“O esperado é que a ômicron domine por um bom tempo”, avalia Sprinz, destacando que o fato de termos sido infectados uma vez com uma variante “X”, não irá impedir uma segunda ou terceira contaminação.

A médica infectologista da Unicamp destaca também possíveis cenários com o surgimento das novas variantes. “Quando temos novas variantes podemos ter algumas que escapem da capacidade de proteção vacinal, que sejam ainda mais transmissíveis ou que não respondam a ação das medicações que são úteis para evitar o agravamento da doença.”

Contudo, a especialista diz que novas variantes são sempre uma incógnita, ou seja, não é possível definir sua gravidade. “Mas termos novas variantes é sempre uma preocupação”, afirma Stucchi.

Embora o vírus esteja em circulação, as vacinas e novos medicamentos podem conter quadros graves da covid-19 Imagem: iStock

Flexibilizamos as medidas preventivas; o que esperar então para os próximos meses?

Os especialistas ainda não sabem como serão os próximos meses exatamente, mas há um consenso de que, caso a vacinação continue sendo aplicada em massa, de acordo com orientação dos órgãos de saúde, estejamos em um cenário ainda “mais confortável”.

“Nós temos mesmo que caminhar para a flexibilização das medidas de prevenção, como a retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras. Com vacinas e antivirais específicos estamos relativamente seguros e dificilmente acontecerão casos graves de ômicron, por exemplo”, relata Sprinz, infectologista e professor da UFRGS.

Mas a flexibilização só é bem-vinda, segundo os especialistas, em locais que já há uma grande cobertura vacinal. “No Norte do país ainda só temos 40% da população vacinada, por isso o uso de máscaras deveria ser mantido, pelo menos agora, nessa estação de outono-inverno, porque é um período em que há maior circulação de todos os vírus respiratórios e para todos eles o uso de máscara diminui muito o risco de transmissão”, explica Stucchi.

Para os próximos meses, de forma geral, espera-se que a vacinação tenha uma melhor adesão, especialmente dos considerados grupos de risco, para que o número de casos da doença não volte a subir e resulte em internações ou morte.

“É um momento ainda de cautela, em que devemos manter ou aprimorar a testagem e ficar em alerta para um possível aumento do número de internações”, conclui professora da Unicamp.

Outra fonte consultada: Sylvia Lemos, médica infectologista, consultora em biosseguranca e controle de infecções de risco, professora titular de medicina tropical da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Fonte: UOL.

Sair da versão mobile