O surto mundial de varíola dos macacos intriga médicos e autoridades de saúde. Ainda não foi possível descobrir o que causou a disseminação da doença neste momento, já que antes ela estava praticamente restrita a países africanos com circulação endêmica do vírus. Os primeiros casos relatados fora do continente africano levantaram a possibilidade da transmissão sexual da doença, dado que um grande número desses casos ocorreu em homens que fazem sexo com homens.
Em 2017, pesquisadores nigerianos sugeriram que a transmissão sexual pode ter ocorrido em vários pacientes com úlceras genitais. Entre os primeiros casos confirmados no surto atual, a maioria dos pacientes tinha lesões na região genital, anal e ao redor da boca. Entretanto, até então, a hipótese mais aceitável é que a transmissão da doença ocorreria pelo contato com lesões no local e não pelo sêmen em si. No entanto, novas evidências indicam que isso é possível.
Pesquisadores na Alemanha e na Itália encontraram o DNA do vírus monkeypox, causador da varíola dos macacos, no sêmen de homens infectados. Pesquisadores do Instituto Lazzaro Spallanzani, hospital de Roma referência em doenças infecciosas, detectaram a presença do material genético do vírus no fluido seminal em seis dos sete pacientes analisados. Em seguida, o vírus encontrado no sêmen de um dos pacientes foi isolado em laboratório e se mostrou capaz de infectar e se replicar em uma cultura de células.
Em outro estudo, pesquisadores da Alemanha relataram a detecção do DNA viral da varíola dos macacos no sêmen de dois pacientes no país. Os resultados, entretanto, não são uma prova de que a doença é sexualmente transmissível. Ainda são necessários mais estudos para confirmar essa hipótese.
— Em termos de algumas das descobertas no sêmen, conforme publicado na semana passada, existem alguns pacientes nos quais o sêmen foi testado para o vírus e os resultados voltaram positivos, então é algo que estamos analisando — disse Catherine Smallwood, gerente de incidentes de varíola da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa, em uma coletiva de imprensa, realizada na última quarta-feira.
Entretanto, ela ressaltou que ainda é cedo para afirmar que o vírus da varíola é sexualmente transmissível e pediu para concentrar os esforços nas formas conhecidas de transmissão.
— Isso não muda nossa avaliação das rotas de transmissão que estamos vendo no momento, que são amplamente baseadas em grande proximidade física entre indivíduos, contato pele a pele, pele a boca e isso é realmente o que está impulsionando a transmissão no momento — disse Smallwood.
Para pacientes com casos confirmados da doença, a recomendação é utilizar preservativo em toda relação sexual por um período de 12 semanas após a recuperação da doença, como medida de precaução.
Ao todo, o Brasil soma cinco casos confirmados da doença. Três em São Paulo, um no Rio Grande do Sul e outro no Rio de Janeiro.
Por: O Globo