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    Ela teve depressão aos 13 anos; pai alerta para sinais: ‘Ouçam seus filhos’

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    Lara tinha 13 anos de idade quando uma mudança brusca em seu comportamento começou a chamar a atenção de familiares: antes sociável, a adolescente estava mais introspectiva e passou a comer compulsivamente, além de sentir dificuldade para dormir.

    O próximo sinal de alerta veio quando a menina foi flagrada no banheiro de casa cortando os pulsos. A situação fez com que seu pai decidisse levá-la para passar algumas semanas na casa da avó, uma das pessoas que Lara mais gosta. “Achei que isso pudesse fazer com que minha filha melhorasse. Só que foi um ledo engano. Ela começou a piorar”, lembra o pai, Samuel Pereira Lima.

    Enquanto a família dormia, a adolescente foi até a cozinha durante uma madrugada e consumiu uma cartela inteira de medicamentos para hipertensão da avó. “Ela foi levada ao hospital e ficou bem, mas, depois dessa tentativa de suicídio, percebi que ela precisava de ajuda”, diz Lima, que hoje incentiva as pessoas de seu convívio a prestarem atenção na saúde mental dos filhos.

    Morador do Rio de Janeiro (RJ), o consultor em telefonia, 41, conta que a filha, que hoje tem 17 anos, foi a primeira da família a ser oficialmente diagnosticada com depressão. Com pouco conhecimento sobre o transtorno psiquiátrico antes do diagnóstico, o carioca afirma que a situação fez com que ele entendesse que a depressão é uma doença e que, como todas as outras, requer tratamento.

    “A primeira coisa que eu acho primordial para os pais é: ouçam e prestem mais atenção nos seus filhos e não achem que a situação vai passar de um dia para o outro”, alerta o pai de Lara.

    adolescente triste - iStock - iStock
    Incidência de depressão entre crianças é estimada em cerca de 3%, número que sobe para quase 10% na adolescência Imagem: iStock

    Choro, irritabilidade, apatia: sintomas de depressão variam em cada faixa etária

    A literatura médica aponta que a incidência de depressão entre crianças é estimada em cerca de 3%, número que sobe para quase 10% na adolescência.

    “Algumas pessoas têm a falsa ideia de que a infância ou a adolescência são períodos em que a pessoa não teria estresse suficiente para ter um quadro depressivo, porque não paga contas e geralmente não tem preocupações com trabalho. Mas isso é um grande mito. Os dados mostram que a depressão começa a ficar prevalente principalmente a partir da adolescência”, afirma Alexandre Aquino, coordenador dos ambulatórios de psiquiatria infantil do HGF (Hospital Geral de Fortaleza) e presidente da Abenepi (Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins), no Ceará.

    Os sinais de alerta são os mesmos que os em adultos: falta de interesse nas atividades que antes causavam prazer, alterações no sono ou apetite e sentimentos de tristeza. Mas é preciso levar em conta que existem algumas particularidades e diferenças na forma com que o sofrimento é expresso, como explica a psiquiatra Lee Fu I, coordenadora do Ambulatório de Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência do IPq-USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo).

    Na fase pré-verbal (até 2 anos), choro frequente sem motivo e aspecto abatido, além de perturbações no sono, podem ser indícios de depressão, que é considerada rara nessa faixa etária.

    Já entre os 2 e 7 anos, a irritabilidade aparece como um dos principais sintomas do transtorno: é comum que a criança tenha reações exageradas diante de adversidades, expressando-se com gritos e agressões, por exemplo. A apatia é outro indício muito frequente.

    “A criança também pode ficar com a fisionomia triste e deixar de brincar com outras crianças. Ou pode começar a comer menos e a ter dificuldades para pegar no sono, além de apresentar problemas de comportamento na escola e perda de habilidades já adquiridas”, diz a psiquiatra.

    O humor irritadiço continua sendo um sintoma característico da depressão entre os 7 e 12 anos, faixa etária em que o transtorno também pode se manifestar através de alterações de apetite, distúrbios no sono e deterioração escolar.

    Nos adolescentes (15 a 19 anos), além dos sintomas típicos, o médico Thiago Botter Maio Rocha, psiquiatra da infância e adolescência com residência pelo HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre), explica que também pode haver uma “labilidade” ou “reatividade” de humor que merece ser olhada com atenção.

    criança abraçando a mãe - iStock - iStock
    Acolhimento familiar é fundamental para a criança ou adolescente com depressão Imagem: iStock

    “Diferente dos adultos, que têm uma maior tendência a persistir dia após dia se sentindo mal, os adolescentes têm uma reatividade de humor um pouco diferente. Por isso, mesmo com depressão, eles podem ter momentos de alguma alegria, o que faz com que as pessoas concluam ‘ele não está deprimido, porque estava rindo até agora há pouco’. E isso pode causar uma falsa impressão de que aquele quadro não é um quadro depressivo”, alerta o médico.

    Baixa autoestima, pensamentos mórbidos ou suicidas e comportamentos de risco também podem ser indícios de depressão na adolescência, assim como o cansaço sem motivo aparente e o uso abusivo de drogas.

    Nenhum desses sintomas, segundo os especialistas, deve ser confundido com a personalidade da pessoa. Um exemplo: há crianças que têm um temperamento mais irritadiço, o que não necessariamente significa que elas sejam depressivas. É diferente de uma criança que não era assim e, de repente, torna-se facilmente irritável.

    Outro ponto importante é a duração dos sintomas. Quando o quadro persiste por mais de duas semanas seguidas, é sinal de que algo não está certo.

    Nesses casos, procurar um psicólogo e um psiquiatra é indicado, para que a pessoa receba o diagnóstico e o tratamento adequados. A eventual possibilidade de outras condições clínicas estarem por trás do quadro, como anemia crônica ou outros transtornos psiquiátricos, também poderá ser investigada pelo profissional.

    Criança na terapia - iStock - iStock
    A psicoterapia é uma das abordagens terapêuticas da depressão Imagem: iStock

    O tratamento de Lara

    Duas sessões com uma psicóloga especializada em infância e adolescência foram suficientes para que a hipótese de que Lara estivesse com depressão fosse considerada. “A psicóloga me disse que o caso da minha filha era grave e me indicou uma psiquiatra”, lembra o pai.

    Com o diagnóstico fechado pela médica, Lara passou a frequentar o consultório da psiquiatra uma vez a cada sete dias e o da psicóloga duas vezes por semana. O tratamento envolveu o uso de antidepressivos combinado com sessões de psicoterapia.

    Enquanto os remédios foram prescritos para reduzir os sintomas que afetavam a qualidade de vida da adolescente, a psicoterapia ajudava-lhe a lidar melhor com os fatores que podem ter desencadeado a doença. No caso dela, o pai conta que a psicóloga identificou como “gatilhos emocionais” a morte do avô e a separação dos pais —eventos que aconteceram em um intervalo curto de tempo.

    Sofrer episódios seguidos de luto é um dos fatores psicossociais associados ao transtorno. Outros exemplos são o abuso sexual ou emocional, o bullying e a negligência dos pais.

    A genética é outro fator importante: ter duas gerações anteriores com casos de depressão (ou seja, entre os pais e os avós) aumenta significativamente o risco de desenvolver a doença. Crianças ou adolescentes pobres, que têm pais adoecidos ou que fazem parte de minorias sociais também são consideradas mais vulneráveis aos quadros depressivos.

    menino com depressão - iStock - iStock
    Alterações no apetite –tanto comer em excesso quanto sentir pouca fome– são um dos sinais de depressão em crianças e adolescentes Imagem: iStock

    O estímulo na produção dos hormônios testosterona (nos meninos) e progesterona e estrogênio (nas meninas) durante a puberdade também deve ser considerado entre os adolescentes, principalmente entre o público feminino, já que o estrogênio atua na modulação do humor.

    “Tem estudos com recorte de gênero sobre prevalência de depressão e é mais prevalente nas meninas a partir da puberdade, o que persiste na vida adulta, de modo que a taxa de depressão entre homens e mulheres gira numa proporção de duas mulheres para cada homem”, afirma o psiquiatra Alexandre Aquino.

    Lara passou por algumas oscilações de humor no início do tratamento. Fazia apenas dois meses que ela havia começado a ser acompanhada quando a adolescente tentou suicídio novamente.

    Ela precisou ser levada às pressas ao hospital, onde permaneceu internada por sete dias, até que seu organismo estivesse livre do excesso de fármacos. De volta para casa, o tratamento seguiu ao longo de mais 21 meses, época em que a carioca recebeu alta psiquiátrica, após cerca de dois anos de tratamento, em setembro de 2020.

    A redução da dose dos remédios foi gradativa até que Lara não precisasse mais dos medicamentos. Para a família, que pôde ver a menina com humor estável de volta após meses, a diferença foi notável.

    Lara voltou a querer sair com as amigas e prometeu que, se precisar de ajuda em algum outro momento da vida, irá avisar o pai imediatamente. “Quando você é alguém que cuida e ajuda seu filho com depressão, parece que a doença não tem fim. Mas, depois de longos dois anos, ela melhorou muito”, diz Lima, que afirma estar atento à Lara e à filha caçula, que também acompanhou tudo que se passou com a irmã.

    mãe abraçando filha - iStock - iStock
    Boa comunicação com os pais permite que a criança ou adolescente compartilhe seus sentimentos Imagem: iStock

    Veja medidas que reduzem o risco de depressão em crianças e adolescentes

    • Ter uma boa comunicação com os pais: se uma criança ou adolescente tem alguém para conversar sobre seus sentimentos –principalmente os pais–, é maior a chance de se sentir à vontade para compartilhar suas angústias. A dica para os responsáveis é não minimizar os sentimentos do jovem, mostrar-se disponível e indicar a busca por tratamento. Falar sobre suicídio não deve ser um tabu: discutir o assunto de forma cuidadosa dá a oportunidade para que a pessoa se sinta ouvida, o que pode reduzir o risco do ato se concretizar;
    • Educação emocional: ensinar a criança a reconhecer e nomear as próprias emoções, sem reprimi-las, é importante para que ela mesma possa, no futuro, identificar quando estiver triste e acionar seus responsáveis sempre que for necessário;
    • Prática de atividade física: estudos mostram que o comportamento sedentário na infância ou adolescência está associado a um maior risco de sintomas depressivos antes dos 18 anos. Praticar esportes ou outras atividades físicas nessa faixa etária, portanto, é uma recomendação para reduzir a prevalência da doença;
    • Higiene do sono: ter um horário regular para dormir e evitar o uso de telas ao menos uma hora antes de ir para cama são medidas consideradas importantes para evitar distúrbios do sono e reduzir o risco de sintomas depressivos;
    • Artes e meditação: envolvimento com atividades artísticas, como música e pintura, além de práticas meditativas, também podem trazer benefícios para a saúde mental;
    • Uso reduzido de eletrônicos: pesquisas indicam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos está ligado ao aumento do risco de desenvolver transtornos psiquiátricos, inclusive a depressão. É importante, por exemplo, estabelecer um tempo limite de navegação na internet.

    Procure ajuda

    Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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    Fonte: UOL.

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    Sara Celestino
    Sara Celestinohttps://gazeta24horasrio.com.br
    Repórter-fotográfica, atuando na produção de conteúdo com objetivo de compartilhar a melhor informação para manter você bem-informado! E-mail. [email protected]

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