Quem sofre com rinite alérgica já sabe que a primavera não é a estação do ano mais fácil para conviver com esse problema de saúde. Devido ao pólen liberado pelas flores, o ar fica com muitos desses grãos, que são invisíveis a olho nu, mas certeiros para irritar as vias respiratórias.
A rinite alérgica é mais comum nesse período, porém os pacientes enfrentam o problema durante todo o ano. A doença interfere na rotina e afeta a qualidade de vida dos indivíduos, conforme explica o médico especialista em alergia e imunoterapia Alex Lacerda, da BP — Beneficência Portuguesa de São Paulo.
“A rinite afeta de uma forma muito intensa a qualidade de vida, e tem vários estudos que mostram que o paciente tem perda de produtividade, rendimento escolar de até 40% por causa da rinite alérgica. Falo aos pacientes que eles não têm noção do quanto mexe com o dia a dia. Eles só têm noção quando dá crise”, diz ele.
Quando o problema acomete as crianças, as consequências são ainda mais graves.
“A criança começa a respirar de boca aberta e acaba sofrendo alterações na boca e parte esquelética da face. Se não for tratado na infância, pode se tornar um processo cirúrgico na idade adulta”, alerta Maria Cândida Rizzo, coordenadora do Departamento Científico de Rinite da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
Alergia não tem cura
Para tristeza dos pacientes, a rinite não tem cura, mas há tratamentos que ajudam a melhorar a vida dos alérgicos.
“Nenhuma alergia podemos dizer ao paciente que existe cura. Existe um controle do processo da manifestação, que pode ser tão efetivo que ele fique assintomático. É importante que o paciente entenda, para que ele não vá ficar peregrinando de médico em médico tentando achar uma cura”, ressalta Maria Cândida.
A terapia mais efetiva contra a doença é a imunoterapia ou a vacina contra a rinite.
“É o único tratamento que consegue mudar a história natural da doença”, destaca Alex.
Como funciona a vacina contra rinite?
Assim como as vacinas que estamos acostumados a usar para evitar doenças, esse tratamento pretende que o paciente crie uma tolerância imunológica alérgica com o uso do produto.
Mas, vale ressaltar que cada pessoa tem um medicamento próprio, não é como os imunizantes comuns que podem ser produzidos em larga escala. Até porque os indivíduos têm intolerâncias a diferentes substâncias e com graus de sensibilidade distintos.
“Por exemplo, uma pessoa alérgica ao ácaro da poeira. A pessoa entra em contato com esse agente e, ao reconhecê-lo, o sistema imunológico vai entender o ácaro como um inimigo e vai criar um anticorpo de defesa [um IGE específico] contra esse inimigo”, explica Alex.
A partir da descoberta do alérgeno, é produzida uma vacina individual, que pode ser de uso oral ou injetável, que contém a substância que causa a rinite no paciente, e ela é aplicada periodicamente.
A eficácia desse tratamento chega a 85% e os pacientes ficam assintomáticos por muitos anos. Vale ressaltar que não é tratamento rápido e pode levar de três a cinco anos.
“Não é um tratamento para ser feito por seis meses e abandonar, porque é como se não tivesse feito nada, é uma coisa a longo prazo, mas é muito interessante porque você vai oferecer para o indivíduo exatamente o que lhe faz mal, só que em uma dose pequena e crescente. É o movimento que você vai fazer contra aquela manifestação alérgica que você tem”, conta Maria Cândida.
Normalmente, a terapia começa com pequenas quantidades do alérgeno e vai aumentando com o passar do tempo, a partir das respostas do sistema imune de cada um.
“A imunoterapia objetiva reduzir o anticorpo IGE específico e aumentar um outro anticorpo que chama IGG4, que vai dar tolerância imunológica e meio que reduzir essa resposta errada. Você acaba modificando e ensinando o sistema imunológico a ter uma resposta correta, que a alergia nada mais é que é uma resposta imunológica errada”, complementa o alergista.
Quanto custa fazer a imunoterapia?
A produção das vacinas não é um processo barato. O paciente gasta de R$ 300 a R$ 500 para a fabricação do produto.
“Caro ou barato, depende. Se pensarmos que um paciente com rinite alérgica vai ter sintomas por 15, 20, 30 anos da vida e vai ter de usar medicações durante esse período, quando colocamos na ponta do lápis, é [benéfico] fazer um tratamento de três anos e ficar até 20 anos bem, sem medicações”, afirma Alex.
Como o tratamento não é oferecido no SUS (Sistema Único de Saúde) nem faz parte do rol da ANS (Agência Nacional de Saúde) para cobertura dos planos de saúde, os médicos optam pela imunoterapia no caso de pacientes mais sintomáticos.
“Se o paciente tem um quadro mais leve, um quadro que fica muito bem em muitas épocas do ano, às vezes até sem medicação, não se justifica usar imunoterapia. Dependendo da gravidade, a gente pode utilizar o uso de anti-histamínicos, de uso por via oral, antialérgico, ou de corticoide tópico nasal, que são aqueles sprays nasais”, explica Maria Cândida.
Além de para as rinites alérgicas, a imunoterapia pode ser usada para conjuntivite alérgica, asma alérgica e alguns casos de dermatite atópica, sempre com orientação e controle de um médico.
Fonte: Notícias R7.