Depois de liberar cerca de R$ 6 bilhões na nova modalidade do empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, a Caixa Econômica Federal restringiu as linhas de crédito em novembro. Oficialmente, as linhas seguem abertas, mas, diferentemente do lançamento em plena campanha eleitoral, o banco público está muito mais criterioso para conceder os empréstimos, sendo acusado por parceiros e clientes de estar “fechando as torneiras“.
Segundo integrantes do Conselho de Administração da Caixa, a restrição ocorre em todas as linhas porque o banco está com o orçamento comprometido e precisa seguir os limites internacionais de prudência. A instituição deveria ter emprestado em todas as suas linhas R$ 892 bilhões, e a carteira de crédito total já teria chegado a R$ 994 bilhões, com previsão de ultrapassar R$ 1 trilhão.
O assunto foi debatido em uma reunião de diretores da Caixa, na manhã de sexta-feira.
Diante disso, a concessão do crédito está restrita aos clientes com boa análise de risco e sem dívidas com o banco. A medida atinge empréstimos habitacionais com recursos da poupança e até o Crédito Direto ao Consumidor (CDC).
Um técnico do banco afirmou sob anonimato que as metas de concessão de crédito foram atingidas, “então nosso apetite reduziu um pouco”.
Procurada, a assessoria de imprensa da Caixa não respondeu se está mais criteriosa ou que tenha segurado algumas linhas de crédito, embora tenha dito que seus critérios são sempre “avaliados” para garantir a sustentabilidade da instituição.
“A Caixa informa que a concessão de crédito obedece a critérios internos de governança, com base no contexto de mercado, no monitoramento de seus produtos e nas estratégias do banco. Cabe observar que as linhas de crédito do banco estão ativas e que todos esses critérios são constantemente avaliados tecnicamente e visam a garantir a sustentabilidade e competitividade da instituição, o que faz da Caixa o maior banco brasileiro em crédito e número de clientes”, informou a nota.
Consignado parado
Mesmo essa nova modalidade de consignado aos beneficiários do programa de transferência de renda está sofrendo restrições, depois de um início acima das expectativas. Em outubro, a Caixa tinha uma previsão de emprestar R$ 500 milhões para os beneficiários do Auxílio Brasil, mas o volume de crédito atingiu R$ 6 bilhões.
A média diária de contratos caiu de 114 mil em outubro para 1.500 em novembro, segundo interlocutores do banco.
Após o segundo turno, a Caixa suspendeu por 15 dias a concessão desses empréstimos, alegando problemas no sistema. Um integrante do banco informou que, novamente por questões técnicas, esta linha de crédito está suspensa até o dia 8 de dezembro.
Além disso, a Caixa está liberando menos dinheiro, permitindo, em geral, o comprometimento de apenas 20% da renda do beneficiário, contra o teto de 40% permitido por lei, que era o padrão antes do segundo turno, segundo técnicos do banco.
Outra linha que superou as expectativas foi o programa Microfinanças, destinado a quem trabalha por conta própria, inclusive inadimplentes. O banco, segundo integrantes do Conselho de Administração, já teria emprestado cerca de R$ 4 bilhões.
Inadimplência alta
O índice de inadimplência do programa gira em torno de 80%, mas parte do calote é coberto por um fundo garantidor, abastecido por recursos do FGTS.
A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, disse que cobrou da direção explicações sobre a redução da liquidez do banco.
A Caixa chegou a ser acusada por políticos de oposição de usar o banco em favor da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL). O banco foi um dos primeiros a conceder empréstimo consignado do Auxílio Brasil e foi o único grande banco a oferecer essa modalidade, que pode causar superendividamento dos mais vulneráveis.
O banco também cortou tarifas e anunciou promoções que só valeram em outubro, logo após a definição da realização do segundo turno.
Fonte: Extra.