PMs sacola cabeça de mulher. Foto: Reprodução: redes sociais
Dois policiais militares foram presos preventivamente na quarta-feira, 4, por colocarem uma sacola na cabeça de uma mulher durante uma abordagem em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre. O caso aconteceu no último domingo, 1º. Segundo a Corregedoria da Brigada Militar, a prisão dos agentes aconteceu por identificar “preliminarmente, a prática, em tese dos crimes de abuso de autoridade e tortura”. Os dois soldados estão no Presídio Militar, na capital do Rio Grande do Sul. Eles não tiveram as identidades reveladas.
O caso aconteceu no bar do marido da vítima. Segundo testemunhas, ao chegarem no local, os policiais perguntaram onde estavam as drogas. Eles também trancaram a porta do estabelecimento comercial para fazer a abordagem. Em seguida, começaram as agressões.
O que os agentes não esperavam era que toda a ação seria gravada pelo lado de fora do local. Uma pessoa conseguiu gravar o que aconteceu, por meio de uma fresta. Na segunda-feira, 2, o vídeo já circulava pelas redes sociais.
Nas imagens é possível ver dois militares fardados e uma mulher. Ela está em pé, com as mãos atrás do corpo. Um dos militares se aproxima, coloca o saco plástico sobre a cabeça da vítima e aperta. O marido dela está ao lado, no chão, algemado. A gravação é interrompida em seguida.
Em entrevista a “TV RBS”, a vítima contou como tudo aconteceu e afirma que o momento parecia “um filme de terror”. Ela diz que não quer ser identificada, porque foi ameaçada pelos agentes. “Eu estava pelo lado de fora, tomando cerveja, porque é normal eu vir para cá, né? Aí, a polícia veio e simplesmente abordou meu marido. Aí, ele pegou e veio já com a arma para cabeça dele: ‘entra, entra, entra!’. Nós entramos. Ali foi um filme de terror”, relembra.
“Botaram saco na cabeça dele (marido), algemaram ele, bateram nele. Aí, no que foram, vieram em mim. Botaram saco na minha cabeça. A sorte foi que a pessoa foi e filmou. Se não, não sabia, acho que eu não ia nem tá mais aqui”, afirma. “Medo, medo. Porque quem tinha que estar nos protegendo fez isso. Medo”, diz ela apavorada, acrescenta.
“Eles só falaram: ‘fala, se tu sabe alguma coisa, fala’. Falar o que? Não tem nada o que falar”, desabafa. Ela ainda conta que os policiais pegaram dinheiro e bebida do local. Além disso, a dupla ficou apavorada e fugiu quando percebeu que havia sido gravada. Depois, voltaram ao local para ameaçar as pessoas de morte. “(Disseram que) se vazar esse vídeo, a gente ia morrer”, contou.
Os agentes estão na corporação há quase cinco anos. Eles foram afastados do policiamento das ruas e, antes de serem presos, estavam em atividades administrativas no batalhão de Novo Hamburgo.
Durante o depoimento prestado à Corregedoria na segunda-feira, 2, os dois ficaram em silêncio. A investigação busca descobrir se outros policiais participaram da mesma abordagem. No dia seguinte, terça-feira, 3, a Corregedoria ouviu a mulher que foi vítima da ação dos PMs. O inquérito policial militar que apura o caso deve ser concluído até o fim da semana.
Segundo Vladimir da Rosa, corregedor-geral da BM, a forma da abordagem dos dois policiais “é uma ocorrência que foge do padrão”. “(…) As imagens são claras. Isso é impactante no sentido de que foge do padrão operacional que nós adotamos, que todos os dias é trabalhado nas paradas de serviço. Quando os profissionais ingressam para tirar o seu serviço, tem a conversa do coordenador, tenente, capitães, sobre o procedimento de melhor agir em prol da nossa sociedade”, pontua.
Em nota, a Corregedoria-Geral da Brigada Militar afirma que a conduta dos agentes é “incompatível com a atividade policial militar”. “Foram presos preventivamente, na manhã de quarta-feira, 4 de janeiro, os dois policiais militares que aparecem em um vídeo de uma abordagem policial, atuando de maneira incompatível com a atividade policial militar.
“A prisão foi realizada em decorrência das investigações do Inquérito Policial Militar, conduzido pela Corregedoria-Geral, identificando-se, preliminarmente, a prática, em tese, dos crimes de abuso de autoridade e tortura. Os policiais militares já haviam sido afastados das funções desde o dia 2 de janeiro, quando a Brigada Militar tomou conhecimento dos fatos e da identidade dos envolvidos”, diz a nota.
A corregedoria disse ainda que, devido a esse e outros casos recentes de violação de direitos humanos por parte de policiais, a BM vai fazer treinamentos de reciclagem com os policiais.
Fonte: O Dia.