Foto: PEDRO KIRILOS/ESTADÃO CONTEÚDO.
A Polícia Civil indiciou, nesta segunda-feira, o anestesista colombiano Andres Eduardo Oñate Carrillo por estupro de vulnerável. Oñate está preso desde a semana passada, acusado de estuprar duas pacientes no leito hospitalar e armazenar material de pornografia infantil. Segundo o delegado responsável pelo caso, Luiz Henrique Marques, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), o relatório foi encaminhado hoje ao Ministério Publico. Se condenado, a pena para o crime de estupro pode variar de oito a 15 anos de prisão.
— O inquérito foi concluído. Já fiz o relatório final, e o resultado é o indiciamento do médico suspeito pelo crime de estupro de vulnerável. Pedi também o compartilhamento da prova que vai ser colhida após a perícia no computador e no celular dele — afirmou o delegado.
Andres ainda é investigado em mais dois inquéritos, que ainda estão em andamento. Ele é suspeito de armazenar pornografia infantil já que mantinha arquivadas mais de 20 mil imagens de abuso sexual envolvendo crianças e adolescentes. O delegado explica que ainda aguarda um parecer da perícia para concluir o caso e encaminhá-lo ao MP. Já o terceiro inquérito apura outra acusação de estupro de vulnerável. De acordo com Luiz Henrique, a conclusão sairá ainda esta semana.
A análise do material de vídeo chamou atenção das autoridades pela gravidade e quantidade de arquivos, que incluíam bebês com menos de 1 ano.
Veja a seguir perguntas que ainda não foram respondidas sobre o caso:
O médico estuprou crianças?
A investigação contra Andres Carrillo começou em dezembro após a Polícia Federal emitir um alerta depois de identificar armazenamento de pornografia infantil pelo colombiano. Durante seu depoimento, ele contou aos policiais “não sabe precisar o motivo pelo qual nutriu dentro de si a compulsão em ver e armazenar pornografia infantojuvenil”, mas que nunca abusou sexualmente de crianças.
“O declarante esclarece que nunca chegou a abusar sexualmente de crianças, mas satisfaz sua libido vendo imagens e vídeos tanto de meninos quanto meninas”, diz trecho do seu depoimento.
Investigando se há outras vítimas de estupro, a Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) pediu para quem suspeite que possa ser vítima de Carrillo que procure a polícia. Nesta quarta-feira, o pai de uma criança de 1 ano e 10 meses, que é paciente oncológico e fazia tratamento no Hospital Quinta D’Or, procurou o delegado responsável pelo caso, Luiz Henrique Marques. O pai suspeita que sua filha tenha sido, até agora, a terceira vítima do anestesista. O médico teria exigido ficar 30 minutos à sós com a criança para iniciar a sedação e entubação. Segundo o pai, Carrillo estava com o celular no bolso.
O colombiano aliciava crianças pela internet?
Uma das frentes de investigação no inquérito sobre o armazenamento de milhares de fotos e vídeos de pornografia infantil apura se ele aliciava os menores nas redes sociais. A Polícia Civil investiga se Andres Carrillo criou um perfil fake para se passar por criança e aliciar meninos e meninas na internet.
O médico gravou e estuprou outros pacientes sedados?
Ao prestar depoimento à Polícia Civil, Andres Carrillo contou que se aproveitava de momentos sozinho com as pacientes para cometer o estupro. O médico ainda relatou ter deletado arquivos de seu celular com medo de ser preso, mas não precisou a data que fez isso. A Dcav também vai pedir a perícia de todos os aparelhos do anestesista para recuperar provas que podem ter sido apagadas.
Em depoimento à polícia, na terça-feira, o pai da menina que pode ter sido a terceira vítima do colombiano relatou que Carrillo entrou na sala para fazer o procedimento de sedação da criança portando um aparelho celular no bolso do jaleco. Ele estava acompanhado de uma enfermeira que teria saído da sala em seguida, para pegar equipamentos médicos, deixando o anestesista sozinho com a criança.
Andres Carrillo exerceu a medicina irregularmente no Brasil?
O Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) e a Polícia Civil investigam se o colombiano exerceu a medicina mesmo antes de conseguir ter seu diploma revalidado no Brasil. Carrillo chegou ao Brasil em 2017 para participar de um curso de especialização em anestesia na Universidade Federal do Rio (UFRJ), em moldes parecidos ao de residência médica, entre fevereiro de 2018 e fevereiro de 2021. No entanto, até janeiro de 2022, quando obteve seu registro de médico no Conselho Federal de Medicina, ele só podia atuar supervisionado.
A UFRJ nega que ele tenha realizado algum procedimento sem supervisão. Porém, em seu depoimento à polícia, o médico afirmou se aproveitar de momentos em que ficava sozinho com as pacientes para cometer os atos.
Por que Andres Carrillo atendia no Hospital estadual dos Lagos, um dos locais dos abusos?
A polícia encontrou ao menos dois vídeos em que Andres se reconhece nas imagens abusando sexualmente de pacientes. Uma das vítimas foi operada no Hospital Estadual dos Lagos Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema, em dezembro de 2020. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, o médico deixou de atuar na unidade em setembro de 2021. Em nota, o órgão informou que “já solicitou à direção da unidade hospitalar todos os dados e prontuários do período em que o médico trabalhou como prestador de serviço e vai instaurar uma sindicância para apurar as devidas responsabilidades”.
No entanto, falta esclarecer o motivo de Carrillo ter atendido pacientes por quase um ano na unidade. Na época, o médico ainda não tinha registro no Conselho de Medicina e tampouco tinha sido aprovado no exame Revalida, que habilita seu diploma de medicina da Colombia. A secretaria estadual de Saúde também não revelou a quantidade de procedimentos dos quais Carrillo participou.
O médico trabalhou em quantos hospitais no Rio?
Ainda não se sabe quantas unidades da rede privada Andres Carrillo trabalhou no último ano. Além do Hospital Quinta D’Or, que abriu uma sindicância para apurar os procedimentos, não se sabe em quais hospitais privados ele participou de cirurgias.
Na rede pública, a única unidade que Andres Carrillo trabalhou como médico foi no Hospital Universitário Pedro Ernesto, administrado pela Uerj, entre maio e dezembro de 2022. No Hospital Universitário Clementino Fraga, da UFRJ, ele era somente um aluno e não poderia atender pacientes sozinhos. Por isso, seu nome no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES) não aparece ligado ao hospital do Fundão.
Fonte: Extra.