Foto: Kathlen Barbosa
As alegorias e fantasias mais ricas da primeira noite do carnaval de 2023 passaram no Salgueiro. Mas qual o significado daquela suntuosidade toda? O enredo indecifrável vira adversário da Academia na luta pelo título que não vem há 13 carnavais.
Da comissão de frente que brincava com os filmes de terror aos carros luxuosos e fantasias sofisticadas, a proposta de refletir sobre pecado, censura, preconceito e virtude foi difícil de decifrar. O melhor momento visual acabou sendo o carro do carnaval, o último da escola.
O samba, que não está entre os melhores da safra, foi cantado apaixonadamente pelos componentes. Mas a plateia encarou com frieza, ainda assim.
O Salgueiro briga por vaga nas Campeãs. Mas perderá pontos em enredo, porque na Sapucaí, dinheiro e felicidade nem sempre andam juntos.
Acabou que a camisa 10 foi a de sempre: Marcella Alves. Linda num vestido com brilhos, dançou impecavelmente, coadjuvante pelo também excelente mestre-sala Sidclei.
O gigantismo planejado pelo Salgueiro para seus carros custou caro à escola. O abre-alas, o maior da história da Sapucaí, teve problemas na entrada de seu terceiro chassi. O primeiro chassi precisou ser empurrado no meio do desfile e complicou a dispersão.
Dificuldades também ocorreram com o segundo carro, que quase imprensou pessoas no setor 1 durante o encaixe dos chassis. Como resultado, houve formação de buracos e falhas na evolução, apesar das belas e imponentes estruturas dos carros.
Como era de se esperar, a grande e empolgada torcida salgueirense agitou a madrugada de desfile na entrada da escola. A entrada do abre-alas de 95 metros de extensão — quase o tamanho do gramado do Maracanã — e 16 metros de altura, foi celebrada pelo setor 1. Os dois primeiros chassis não tiveram problemas, mas o terceiro carro não conseguia manobrar e demorou 10 minutos até entrar. Após muita correria, os três chassis conseguiram entrar juntos antes da linha de início de desfile.
Mas o estresse inicial gerou gargalos e o segundo carro também demorou a entrar, o que resultou em um buraco na altura do setor 3, na frente dos jurados.
A situação, apesar de não na mesma gravidade, lembrou o caos gerado no desfile de 2011, quando carros também não conseguiram entrar na pista no tempo certo. Dessa vez, a diretoria da escola focou em ensaios para manobra e entrada do abre-alas, no barracão. Tanto que o carnavalesco Edson Pereira demonstrava confiança antes do desfile.
— Já faço carro grande há muito tempo, para mim é comum. Tivemos muito planejamento. Agora é ver a criança nascer.
Estreando no Salgueiro nesse ano, o carnavalesco Edson Pereira já assinou a renovação de contrato. O desfile, afirmou, marcou um momento de virada para a sua carreira e também para a escola.
— Esse desfile representa um amadurecimento do meu profissionalismo e também uma mudança para o Salgueiro. Todo mundo queria ver um Salgueiro diferente dos últimos anos — explicou. — É muito importante, nesse momento, fazer um grande carnaval falando de coisas atuais, como preconceito e intolerância.
O enredo “Delírios de um paraíso vermelho” fez uma homenagem a Joãosinho Trinta, que completaria 90 anos em 2023, e uma ode à liberdade de expressão. Mas o seu desenvolvimento, trazendo a história do surgimento do Éden, passando pelos sete pecados originais, até a luta do povo por liberdade, contra os julgamentos preconceituosos, era complexo, o que dificultava o desfile empolgar na pista.
Por outro lado, a qualidade das fantasias e das alegorias chamou a atenção positivamente. Quem chamou atenção e levantou a galera, como de costume, foi a rainha de bateria Viviane Araújo, em seu 15º anos à frente da Furiosa, dos mestres e irmãos Guilherme e Gustavo. Outros destaques foram a cantora Rebecca, no chão, e influenciadora Rafaella Santos, irmã do jogador de futebol Neymar.
“Delírios de um Paraíso Vermelho”
- Autores: Moisés Santiago, Líbero, Serginho do Porto, Celino Dias, Aldir Senna, Orlando Ambrósio, Gilmar L. Silva e Marquinho Bombeiro
No toque sublime de amor
O profeta pintou o paraíso
Intenso vermelho que tinge a emoção
Tá no meu coração Salgueiro
A vida em perfeita harmonia
A plena liberdade de viver
Mas a tentação que seduziu Adão e Eva
Fez o pecado florescer
Quem será pecador? Quem irá apontar?
Há um olhar de querer julgar
Se cada um tem seu jeito
Melhor conviver sem preconceito
No meu sonho de rei, quero tempo de paz
Guerra, fome e mazelas nunca mais
A minha Academia anuncia
Da escuridão, raiou o dia
Bendita redenção! Os excluídos libertando suas dores
Embarque, pro renascer dos seus valores
Basta! De violência e opressão
Chega de intolerância
A luz da eternidade acende a chama
Festejando a igualdade que a felicidade emana
Resplandece a beleza do meu rubro paraíso
Proibido é proibir, aviso!
Pelas bênçãos de João, nessa noite de magia
O meu samba é a revolução da alegria
Vermelha paixão salgueirense
Que invade a alma, tá no sangue da gente
O morro desce na batida do tambor
Nesse delírio que o artista se inspirou
Ficha técnica
- Fundação: 05/03/1953
- Cores: Vermelho e Branco
- Presidente: André Vaz da Silva
- Carnavalesco: Edson Pereira
- Diretor de Carnaval: Julinho Fonseca
- Mestres de Bateria: Guilherme e Gustavo
- Rainha de Bateria: Viviane Araújo
- Mestre-Sala e Porta Bandeira: Sidcley Santos e Marcella Alves
- Comissão de Frente: Patrick Carvalho
Fonte: Extra.