Andréa da Silva e o filho, Guilherme Valentim, que morreu na última quinta-feira (23) Foto: Reprodução
Um adolescente de 15 anos morreu com suspeita de leptospirose na última quinta-feira (23), após ficar um dia internado no Pronto-Socorro Central de São Gonçalo. Guilherme Valentim apresentou os sintomas da doença após ajudar a família a retirar água da residência, que foi alagada por um temporal que atingiu a cidade no início do mês. Ele vivia em um apartamento de primeiro andar com a mãe Andréa Silva, o pai, Carlos, e o irmão Carlos Henrique, de 17 anos.
Até o momento, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo diz que aguarda o resultado de exame do caso de óbito por leptospirose de Guilherme, mas a família já confirma o diagnóstico. Segundo a Prefeitura da cidade, três casos da doença já foram confirmados este ano. Há outros quatro pacientes suspeitos hospitalizados no Pronto Socorro Central (PSC), no Zé Garoto, e um paciente em hospital particular.
O drama da família de Guilherme começou depois do temporal que atingiu a cidade no sábado, dia 11, quando a água entrou no apartamento de Andréa. Para evitar perder os móveis, eletrodomésticos e documentos da família, Guilherme e o pai ficaram na casa levantando os móveis e tentando retirar o excesso de água. Na mesma semana os sintomas surgiram.
Em entrevista ao GLOBO, Andréa relatou a preocupação em observar diversos sintomas surgindo no filho sem entender o que estava acontecendo.
— Primeiro eu achei que era um problema de garganta. Depois achei que era virose. Quando começou com a dor na perna, eu pensei que fosse dengue. Não imaginei que pudesse ser leptospirose. Eu não tinha noção dos sintomas, muito menos que é uma doença que deixa as pessoas intubadas — diz.
Sem conseguir se levantar
O adolescente apresentou febre, dor de garganta e enjoo. Na quarta-feira, dia 21, ele já não conseguia levantar da cama e foi levado ao pronto-socorro. Ao chegar na unidade de saúde, outros sintomas foram surgindo.
— Ele estava ficando amarelo e com as pernas muito inchadas, não estava conseguindo suportar — conta ela. Depois da internação, outros sintomas surgiram rapidamente. De acordo com Andréa, Guilherme teve hemorragias e o quadro se agravou com muita rapidez.
— Fizeram de tudo, mas não conseguiram salvar o meu menino. A doença estava muito rápida e grave — lamenta Andréa. Ela compartilhou um texto de despedida do filho nas suas redes sociais. “Nunca, nem nos meus piores pesadelos achei que passaria por isso. Meu menino, meu camisa dez, Guilherme Valentim partiu. Agora sou mãe de um anjo”, escreveu Andréa.
Falta de informação sobre os sintomas
Mateus Valentim, primo de Guilherme, diz que a chuva costuma castigar a região em que a família mora, em Vila Lage, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
— Na maioria das vezes que chove, o valão transborda e afeta a região, mas como a que ocorreu nas últimas vezes eu nunca tinha visto. Com essas chuvas mais forte, a água e o retorno do esgoto entraram nas casas — relata.
Mateus diz que não teve ciência de outros casos confirmados no bairro, mas conta ter medo de que a falta de informação sobre os sintomas esteja prejudicando a procura pelas unidades de saúde. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo, no ano passado a cidade teve 29 notificações de casos suspeitos, e seis confirmados, sem óbito.
Segundo o Observatório Epidemiológico da cidade do Rio de Janeiro, em 2022 foram confirmados 73 casos da doença no município. Neste ano, onze casos foram confirmados na cidade.
Segundo o Dr. Alberto Chebabo, o número de casos de leptospirose cresce nesta época do ano.
— Na maior parte dos casos, a infecção acontece depois da chuva, no momento da limpeza das casas atingidas pela enchente. Depois que parte da água é escoada, a bactéria fica concentrada na área, aumentando as chances de infecção — explica o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A doença é causada por uma bactéria denominada Leptospira, transmitida pela urina do rato. Apesar de ser uma bactéria sensível, que morre na presença de cloro, ela se mantém viva e capaz de infectar na água e na lama. A transmissão acontece com mais frequência em situações de chuvas fortes e inundações, onde a urina de ratos mistura-se à água e à lama das enchentes.
Entre os sintomas mais comuns no ser humano estão a febre, dores musculares, principalmente nas pernas (panturrilha) dor de cabeça e, em alguns casos, icterícia (coloração amarelada nas mucosas e na pele). Além disso, o olho amarelado e a insuficiência renal também podem indicar infecção.
Fonte: Extra.