Gabriel era um jovem carinhoso com a família e gostava de ficar no computador. Foto: Reprodução.
O militar do Exército Gabriel Henrique dos Santos, de 18 anos, morreu nesta sexta-feira (3) depois de participar de uma sessão de treinamento no Primeiro Batalhão do Exército, na Tijuca, Zona Norte do Rio. A família acusa o Exército de tortura e tentativa de pressão para que a autópsia do corpo fosse feita pela corporação. O jovem, que tinha acabado de terminar o ensino médio, quis servir as Forças Armadas porque sonhava em trabalhar no setor de tecnologia da informação.
Irmão da vítima, Gustavo Henrique dos Santos, de 25 anos, conta que Gabriel já havia passado mal na terça-feira (28), quando participou da ordem-unida, uma formação habitual de marcha, após ficar horas embaixo do sol. “Ele passou mal e teve ânsia de vômito, mas mandaram ele lavar o rosto e voltar para a fila, e disseram que passar mal dentro do quartel é normal”, afirma.
Na dia seguinte, o adolescente ficou aquartelado para se tornar soldado. Era para ele ficar por 30 dias, mas no segundo dia, sexta-feira (3), a família recebeu uma ligação dizendo que o jovem estava internado no Hospital Central do Exército, em Benfica, devido à uma parada cardiorrespiratória.
“Colocaram o meu irmão para fazer exercício embaixo do sol usando um casaco grosso. Após esse excesso de treino, ele foi internado às 19h, mas só nos avisaram às 23h. E ele entrou no hospital como indigente. Ninguém sabia o nome dele. Quem o reconheceu foi um ex-colega de turma que servia junto com ele”, conta Gustavo.
O laudo do Exército não aponta a causa da morte, mas diz que Gabriel teve sangramento pulmonar bilateral, taquicardia, convulsão, rompimento de alças intestinais, hemorragia e febre de 42 graus, além de ter sido entubado e ter tido edema cerebral. Já a analise laboratorial do IML ainda não ficou pronta. Gustavo Henrique acusa oficiais do Exército de tentarem tirar o corpo do hospital para fazer a autópsia dentro de uma unidade da corporação.
“Eu não deixei para que nada fosse alterado no corpo dele. Eles também queriam que eu assinasse uma documentação em branco, mas eu não aceitei. Aí eles foram obrigados a colocar no papel tudo o que aconteceu com meu irmão, todos os procedimentos. No final, ainda disseram que nós estávamos complicando cada vez mais as coisas”, explicou.
Gabriel era carinhoso e sonhava em trabalhar no Exército
Gabriel morava em Brás de Pina, terminou recentemente o ensino médio e queria fazer faculdade de tecnologia da informação. Assim, que terminou o curso técnico, ele quis servir o Exército para trabalhar para o setor de IT da corporação. O jovem, segundo a família, era carinho e adorava ficar em frente ao computador.
“Estamos destruídos. A ficha da minha mãe ainda não caiu. Ela chora muito e está em estado de negação. Diz que não é o filho dela, que ele ainda está lá. Estamos nessa luta, é um desespero grande. Meus avos ainda não sabem, porque são idosos. Estamos tentando seguir, mas a família está destruída. Meu irmão era um cara sadio, não apresentava problemas, nunca apresentou nada. Ele praticava atividade física, frequentava academia e nunca havia sido internado. Mas em um dia e meio de treinamento, mataram ele”, afirma Gustavo.
O corpo de Gabriel será velado e sepultado nesta segunda-feira (06), a partir de 12h30, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. O caso foi registrado na 17ªDP (São Cristóvão). Muito abalada, a tia de Gabriel, Luciana dos Santos, disse querer justiça. “Eu perguntei ao oficial do Exército se treinamento e tortura matam, mas ele disse que não e questionou se eu já tinha sido torturada. Isso é um absurdo! O meu sobrinho foi torturado! E eu quero que tudo seja investigado e colocado a limpo, preto no branco”, disse a professora, que é filha de militar anistiado e esposa de um policial militar.
É o segundo jovem que morre na mesma unidade de treinamento do Exército em um ano. Em março de 2022, o soldado recém-formado Pedro Henrique Pereira dos Santos, de 18 anos, morreu após um treinamento no quartel do 1º Batalhão de Polícia do Exército (PE), na Tijuca, após passar mal durante os exercícios físicos. O Comando Militar do Leste disse em nota que abriu um procedimento para investigar o caso e que vai dar assistência necessária para a família do jovem.
Fonte: O Dia.