Revolta: Letycia e a mãe, Cintia Fonseca: a jovem de 31 anos, que estava grávida de oito meses, foi morta quinta-feira, em Campos. Foto: Reprodução
“Eu sonhei que tudo isso ia acontecer com a minha filha, Letycia. Dois dias antes, sonhei que ela tomaria um tiro na barriga e outro na cabeça. Ela agonizava no chão e me pedia ajuda. Parece que era Deus me preparando. Acordei sufocada, orando, e não contei para ela para não preocupá-la.
Muito linda, a Letycia parecia uma boneca. Era o nosso bebê — era assim que eu e o Alcimar, meu marido, pai dela, a chamávamos. Grávida de oito meses, o Hugo seria o complemento dela e meu primeiro neto.
Na semana passada, ela estava de mudança. Naquele dia, marcamos com o montador para tirar um painel do apartamento antigo e levar para o atual, e que ela me buscaria às 18h. Fomos eu e minha tia Simone, que tem Síndrome de Down. Na volta, ao passar em frente à minha casa, vimos dois homens do outro lado da rua e falei para ela tomar cuidado; eu estava com medo de assalto.
Ela seguiu e parou em frente à casa da Simone. Desci, abri o portão e, quando voltei para ajudar minha tia, vi os mesmos caras vindo. Em nenhum momento olharam para mim e já fizeram os disparos contra ela. Como o vidro era transparente, eu vi toda a cena.
No primeiro tiro, ela colocou a mão no rosto, e eu ouvi seu último grito. No segundo, ela colocou a mão na barriga — mesmo gesto da boneca que estava no bolo que fizemos para comemorar os 31 anos dela e a chegada do Hugo. E, então, o sangue começou a vazar. Parecia um jato d’água.
Você vê alguém dando um tiro na cabeça da sua filha grávida e entra em desespero: corri para tentar segurar o atirador. Ele era mais alto do que eu, não consegui ter o apoio da arma, me virei e me joguei no chão; é quando ele atira em mim. Grito, grito, peço ajuda e meu tio aparece. Sentei no banco do carona, puxei a minha filha. Eu pressionava a cabeça dela e fazia respiração boca a boca, mas, quando puxava o ar, o que eu tirava era sangue.
Em frente ao hospital, eu já sabia que ela não estava mais viva. Ficou pálida. Eu só pedi para que salvassem o Hugo. Ao mesmo tempo que eu criei uma esperança, não conseguia ver o Hugo com a gente, mas não sei o por quê. Ele morreu no dia seguinte.
No dia do enterro dos dois, vi meu neto pela última vez. Eu o peguei no colo, todo molinho, e ajeitei o corpo dele no caixão. Minha revolta é que minha filha não tinha inimigos para sofrer uma bruta crueldade dessas. Essa pessoa devia conhecer os horários da minha filha. Não consigo enxergar uma pessoa tão fria para fazer isso com ela.
O Diogo (Viola de Nadai, pai da criança) foi professor da minha filha no Instituto Federal Fluminense e viviam um relacionamento de idas e vindas. Ele dizia que estava em processo de divórcio da esposa, mas, sempre que minha filha falava em conhecer a família dele, ele se esquivava”.
Fonte: Extra.