O carro do professor de muay thai Dec Justo enguiçou na Ponte Rio-Niterói. Deixado na Avenida Brasil, ele empurrou o veículo até Belford Roxo Foto: Reprodução
O professor de muay thai Matheus Justo, conhecido como Dec, de 26 anos, virou a sensação das ruas de Belford Roxo após registrar um “perrengue”. Depois de seu carro sofrer uma pane elétrica na Ponte Rio-Niterói, ele decidiu empurrar o veículo até a oficina, localizada a 30 quilômetros dali, no município da Baixada Fluminense, viagem que levou mais de seis horas para ser percorrida. Além dos cumprimentos e das abordagens para tirar fotos com vizinhos, as mais de 10 mil visualizações no TikTok também renderam convites para parcerias com seguradoras de veículos.
— Sempre dei aula de muay thai em Belford Roxo, sempre me conheceram. Mas, por causa do vídeo, tomou uma proporção que nunca vi. Quando fui ao mercado, a caixa perguntou: “Você é o cara do carro?”. Já meu vizinho parou no portão e pediu para gravar um vídeo comigo. Na rua, passa alguém e grita “você está famoso!” — comemora Dec, que, com pouco mais de 4 mil seguidores no Instagram e mais de 6 mil curtidas no TikTok, viu seu público se multiplicar com a postagem empurrando o veículo.
— Fui procurado por muitas pessoas, até por três empresas de seguro, para parcerias — comemora o futuro garoto-propaganda, que aguarda reuniões para poder concretizar o negócio.
Dec Justo afirma que tem sido chamado de mentiroso nas redes sociais, mas garante que, quem o conhece, sabe que tem determinação no que faz. Nas imagens que gravou empurrando o próprio carro, desafiava os amigos: “Eu quero que um desgraçado fale que é mentira”, dizia em um tom humorado.
O vídeo foi publicado no último dia 25, mas foi gravado no dia anterior. O professor de muay thai voltava da casa da mãe, Neusa Justo, de 68 anos, que mora em Saquarema, na Região dos Lagos. Ao trafegar pela Ponte Rio-Niterói, o carro parou e, depois de resgatado pelo reboque da concessionária da via, foi deixado na Avenida Brasil, na altura da Passarela 4, no Caju.
O socorro mecânico, segundo o site da EcoPonte, é disponibilizado com guinchos “para uma remoção segura até um ponto pré-definido mais próximo”, sem permissão para levar o motorista até em casa. A solução foi tentar contratar um reboque ao chegar na Avenida Brasil.
— No Caju, estavam cobrando R$ 500 para me levar a Belford Roxo. Um amigo meu poderia me rebocar por volta das 23h, mas ainda era de manhã — relata Dec, que está não está podendo arcar com o seguro por conta do “momento difícil” financeiramente. A solução veio por meio de seus alunos. — Eles mandaram mensagem: “Não temos carro, mas temos braço”, então pegaram um ônibus em Belford Roxo e foram até o meu encontro.
Pela Avenida Brasil, começaram a empurrar o carro por volta de 12h40, acessaram a Via Dutra no Trevo das Margaridas, em Irajá, e só deixaram a via na altura da Rua Londres, no bairro de Heliópolis, em Belford Roxo. Pela via, seguiram até a oficina mecânica, que fica na localidade conhecida como Farrula, onde chegaram depois das 19h. Ao todo, foram cerca de 30 quilômetros, em uma viagem de mais de seis horas, que normalmente faria em pouco mais de meia hora.
— A gente veio empurrando, mas na Dutra contamos com a ajuda de alguns motoqueiros, que se revezaram dando impulso no carro, que foi o momento que tivemos ajuda — observa o professor, que relata não ter sido impedido ao longo da viagem, mesmo que ainda tenha medo de que alguma multa chegue em sua casa.
Segundo o advogado Armando Silva de Souza, ex-presidente da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), o motorista não cometeu infração:
— Na realidade, o que ele não pode é obstruir o trânsito. Caso nenhum carro andasse por culpa dele, poderia ser um problema, ainda que tivesse justificativa. Não houve penalidade — observa o especialista, que também diz que a ajuda dos motociclistas não foi uma infração. — Não tem nada no Código de Trânsito Brasileiro que diga que não pode, você até vê, comumente, um carro puxando outro com uma corda.
Maré de azar
Dec Justo conta que a gravação foi feita direcionada aos amigos próximos, para servir de prova para caso não acreditassem em sua história inusitada. Além dos vídeos, as testemunhas são os alunos Cassius e Victor, de 18 e 24 anos, respectivamente.
— Eles que deram a ideia (de empurrar o carro), eu gosto de aventura e disse “vambora”. Chegando em Belford Roxo, demos uma descansada e treinamos bem leve. No dia seguinte, já foi firme — ri o professor, que não deu trégua aos alunos, que irão competir no próximo dia 28, em um torneio em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.
Além do cansaço e do esforço, por empurrar o carro, o asfalto quente deixou suas marcas na pele:
— Como o suor foi escorregando para o chinelo, a gente decidiu vir descalço. Perdi meio que uma camada do pé, passei pomada por uns quatro dias e melhorou, mesmo que ardesse.
Dec Justo também trabalha como dublê, há um ano. Mas entre as cenas de adrenalina, as da vida real são as que mais se fazem presentes em sua vida. O mesmo carro resgatado da Ponte Rio-Niterói vive uma sequência ruim.
No próprio dia que empurrou o veículo, o pneu do Ford Ka precisou ser trocado porque furou durante o trajeto. Já na última quinta-feira, se envolveu em um acidente.
— Bateram no meu carro, num cruzamento perto do Nova Iguaçu Shopping. Agora ele está na garagem. O seguro do cara que bateu no meu carro vai avaliar se tem conserto ou se deu PT (perda total), porque atingiu a coluna do carro.
Fonte: Extra.