Saída de Alunos no Colégio estadual Amaro Cavalcanti. Lucas Tavares/Agência O Globo
Nesta quinta-feira, o governador Cláudio Castro anunciou uma série de medidas de segurança para escolas públicas e privadas, dentre elas, a criação de um aplicativo com botão de pânico e treinamento para professores em caso de ataques. O anúncio, realizado quase uma semana após um adolescente ser apreendido por planejar um ataque numa escola no Centro do Rio, tranquiliza, mas não cessa a apreensão dos pais, que também temem diante de outros atos violentos recentes, em escolas cariocas e de São Paulo.
O novo aplicativo, criado pela Polícia Militar, estará disponível para download entre 30 e 60 dias. Através do botão de emergência, a escola poderá fazer denúncias e acionar a PM por meio do 190. O Rede Escola também terá, segundo o governo, palestras, informações e materiais no combate à violência. Além disso, o treinamento dos professores será elaborado pelo Bope e Core, a fim de ensinar estratégias de negociação em caso de ataques.
Mesmo com as novas medidas de segurança, muitos pais da rede pública e privada não sentem segurança na hora de mandar seus filhos para o colégio. Em São Paulo, um ataque feito por um adolescente de 13 anos a uma escola estadual, na última segunda-feira, e uma tentativa de ataque com faca em uma escola na Gávea, na Zona Sul do Rio, na última terça-feira, assustaram as famílias, que se tornaram mais apreensivas.
Fátima Rodrigues, de 52 anos, leva e busca seu sobrinho Emanuel, de 10 anos, todos os dias na Escola Municipal José de Alencar, em Laranjeiras. O menino, na verdade, é aluno do Senador Corrêa, também do município, que foi temporariamente realocado por reforma. Fátima afirma que os últimos ataques mudaram sua forma de enxergar rotina escolar do sobrinho. Agora com medo de levá-lo, ela afirma que insiste em continuar pela insistência de Emanuel.
— Ele é daquelas crianças que não gosta de faltar aula. Fico receosa, com medo, me sinto insegura. O botão de pânico ajuda, me tranquiliza, mas quanto tempo vai demorar desde o acionamento até a polícia chegar? Não dá para esperar muito e deixar acontecer o pior — contou Fátima, que acredita em uma solução que evolva mais partes. — Só a escola sozinha não consegue entender a fundo o que está acontecendo com os alunos. Para prevenir esses casos, a família tem que trabalhar junto.
Mãe e aluna do Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, Lucimar Vieira de Paiva, de 50 anos, se vê preocupada com sua segurança e de seu filho, Vitor Lorenzo, de 17. Enquanto ela atende às aulas noturnas da escola em Laranjeiras, o jovem vai para São Cristóvão, no Colégio Estadual Olavo Bilac, na Zona Norte da cidade. A apreensão, que a atinge tanto seu lado materno, quanto estudante, vem, especialmente, do que observa nas relações entre pais, instituições de ensino e alunos.
— Com medo a gente sempre fica, mas é essencial uma presença maior dos pais nas escolas, conversando com os professores, diretores, para saber como estão os filhos, como se comportam em relação aos outros alunos. Esses atos de violência acontecem muito pela ausência dos pais. Muitos veem a escola como uma maneira de se livrar das crianças. O que assusta é ver os jovens cada vez mais agitados, nervosos, ansiosos. Querem estar sempre à frente de tudo, mas sentem falta da presença dos pais — desabafou a mãe.
Sua colega de classe, Marlucia Silva Barbosa, de 51 anos, se sente aliviada por não precisar enviar os filhos, já adultos, para o colégio. Algo que já foi uma preocupação como mãe, no passado, agora a assusta como aluna. No entanto, diante do cenário que observa nas escolas, sua maior apreensão é em relação aos professores e ao fardo que precisam carregar em sala de aula.
— O que tá acontecendo é assustador, a gente fica horrorizado. O principal problema é que acaba sobrando para os professores e funcionários das escolas. Eu não teria essa profissão, jamais, não quero isso pra mim — afirmou Marlucia.
A falta de proteção no dia a dia
Nas escolas públicas, o medo está na porta de entrada. A responsabilidade de saber quem entra e quem sai da instituição é dos porteiros, mas não são todas as escolas da rede que dispõem desse luxo. Representando a barreira que separa os perigos externos dos pequenos alunos, esses profissionais se sentem pouco preparados para lidar com o risco, quando ele vem de dentro do lado de dentro dos muros da escola.
Porteira do José Alencar há dois anos, Thereza Cristina Maximiano, de 63, é, na verdade, merendeira concursada, mas readaptada para a portaria. Ela sente falta da presença de autoridades como a Guarda Municipal, que já foram responsáveis pela segurança e por rondas em frente às escolas da cidade.
— A Guarda esteve em todas as escolas que trabalhei, hoje não se vê mais isso. Me sinto insegura e já tive medo de um ataque desse tipo acontecer. Os adolescentes e jovens de hoje são imprevisíveis, fico assustada — disse Thereza.
A mãe de Ana Beatriz, de 11 anos, aluna do Senador Corrêa, não se sente segura diante da imprevisibilidade. Os casos recentes, registrados no Rio e em São Paulo, deixaram Adriana dos Santos mais desconfiada e sem acreditar que as medidas tomadas pelo governo do estado sejam uma solução para o problema.
— Tinha que ter mais segurança nas escolas. É perigoso, porque não sabemos o que vai acontecer com nossos filhos na escola. A gente deixa as crianças aqui, volta para a casa e não sabe o que vai acontecer. Nada garante que eles vão retornar em segurança para — conta ela.
Preparo não é sinônimo de segurança
Em grande parte dos colégios particulares cariocas, o esquema de segurança é mais rigoroso. Apesar do preparo das escolas, a fim de evitar invasões e situações de risco aos alunos, pais ainda sentem medo do cenário imprevisível das salas de aula. Sara, de 7 anos, é aluna do Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. Seu pai, Saulo Ribeiro, reconhece que os esforços do colégio tranquilizam os pais, mas não são uma garantia da segurança das crianças.
— A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente e, por vezes, acaba acontecendo. Na escola da minha filha, os alunos têm acompanhamento psicológico, o que nos dá uma certa tranquilidade. Sabemos que o colégio está observando como essas crianças evoluem, crescem e se sentem dentro e fora da sala de aula, mas, mesmo assim, não quer dizer que não possa acontecer algo. Todo mecanismo de proteção é válido, tudo que tente nos ajudar a combater situações desse tipo — afirmou o pai.
Mãe do pequeno Lucas, de 4 anos, também aluno do colégio Franco, Natália Maurício se sente segura em relação ao filho, mas quer que mais pais se sintam da mesma forma. A segurança foi um dos fatores mais relevantes na hora de escolher o local onde o filho iria estudar.
— Tomara que isso sirva de lição para que invistam na segurança em todos os colégios. Esses acontecimentos devem, pelo menos, servir de lição para que não haja abertura para que isso continue acontecendo.
Relembre os casos mais recentes
Na última sexta-feira, um adolescente de 17 anos foi apreendido pela polícia por planejar um atentado contra alunos e professores numa escola do Centro do Rio. As investigações revelaram que o ataque estava planejado para o próximo mês. A operação foi deflagrada após a polícia se deparar com vídeos do jovem publicados na internet em que ameaçava professores e colegas da escola. A ação contou com a Polícia Civil, a Polícia Federal e a Interpol, responsável por fazer o alerta.
Já em São Paulo, um aluno da rede estadual de ensino foi apreendido após matar uma professora e ferir outras quatro pessoas com uma faca, na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste da cidade. Novo na instituição, o jovem de 13 anos já tinha tido “problemas com violência” em uma escola anterior, segundo o secretário de Educação, Renato Feder.
Câmeras do circuito interno da escola em que o crime ocorreu mostram o menino entrando na sala de aula com uma máscara cobrindo o rosto. Ele logo parte em direção a uma professora e a esfaqueia pelas costas. Ela cai no chão após os golpes. Elisabeth Tenreiro não resistiu aos ferimentos e morreu.
Fonte: Extra.