Andreza Leitão, a Bibi Perigosa, não é a primeira integrante da cúpula do Sindicato do Crime a se refugiar no Rio. O grupo, que está por trás da onda de violência que aterrorizou o Rio Grande do Norte no mês passado, estabeleceu seus tentáculos no Rio de Janeiro após estabelecer uma parceria com o Comando Vermelho, maior facção do tráfico fluminense, em 2017. Desde então, Bibi já é a quinta chefe da quadrilha potiguar a ser presa em solo fluminense. Após serem detidos, dois deles passaram a emitir ordens a comparsas no Nordeste, via celular, de dentro do sistema penitenciário carioca.
Segundo o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), a aliança entre as duas facções foi costurada depois do massacre de 27 detentos na Penitenciária de Alcaçuz, a maior do estado, em janeiro de 2017. Na ocasião, integrantes do Primeiro Comando da Capital invadiram um pavilhão ocupado por membros do Sindicato do Crime e promoveram uma matança. A guerra entre os grupos levou os potiguares a buscar uma aliança com os cariocas, com o objetivo, sobretudo, de conseguirem acesso a novas rotas para fornecimento de armas e drogas para vários estados do Nordeste.
Um dos criminosos potiguares que se estabeleceu no Rio trouxe para o estado técnicas usadas pela facção nordestina em assaltos a bancos. Cássio Augusto de Souza, o Cassinho Bobó, foi preso em Itaguaí, na Baixada Fluminense, em março de 2017. Na época, ele foi identificado como responsável por assaltos a duas lotéricas e duas explosões de caixas eletrônicos na região. Antes de chegar ao Rio, Souza já era apontado como um especialista de sua facção em roubos com uso de explosivos no Nordeste e tinha mandados de prisão na Paraíba e em Pernambuco, além de no Rio Grande do Norte.
Depois de preso, o criminoso chegou a ordenar homicídios de dentro da Penitenciária Milton Dias Moreira, em Japeri. Uma investigação do MPRN revelou que, entre 2019 e 2020, Souza controlava o tráfico de drogas em várias localidades de Jucurutu, sua cidade natal, pelo celular, de sua cela. “Irmão, demorô, tá ligado? Eu queria, de preferência, que vocês levasse a doze, homem, tá ligado? Pra sacudir a cabeça dele pra cima”, disse Souza a um comparsa designado para matar um desafeto em novembro de 2019. Em outra ligação, dias depois, Souza prometeu ao pistoleiro que ele seria batizado na facção se cumprisse a ordem: “Quando você matar esse seboso, se ajeita logo pra tu vestir a camiseta”.
As ligações, interceptadas com autorização judicial, fazem parte de uma investigação que culminou na condenação do traficante a 14 anos de prisão, em dezembro passado, pela Justiça potiguar. Após a descoberta de que Souza controlava o tráfico da prisão, a Administração Penitenciária o transferiu para a penitenciária de segurança máxima Laércio da Costa Pellegrino, o Bangu 1, no Complexo de Gericinó.
Já Wildson Alves da Silveira, o Binho Beck, integrante da facção potiguar apontado como um dos participantes do “massacre de Alcaçuz”, em janeiro de 2017, foi preso no Rio em maio daquele ano. Dois meses antes, ele havia fugido da Cadeia Pública Raimundo Nonato Fernandes, em Natal, para onde foi transferido após o motim. Ele foi detido por PMs, na Linha Vermelha, altura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Na época, conseguiu autorização da maior facção do Rio para se abrigar em favelas dominadas pelo grupo enquanto estivesse foragido.
Após a prisão, Silveira seguiu comandando o tráfico na localidade de Passo da Pátria, na Zona Leste de Natal, de dentro do Complexo de Gericinó. Em áudios gravados de dentro da cela e enviados a comparsas, o traficante ordenou ataques a viaturas da PM, caso patrulhas entrassem na comunidade, e também sugeriu que câmeras fossem instaladas na comunidade para monitorar a movimentação de policiais, replicando uma prática presenciada por ele em favelas cariocas. “Aqui, os caras fazem isso, tá ligado?”, disse Silveira. No final do ano passado, o traficante foi transferido do Rio para o sistema penitenciário do Rio Grande do Norte.
Um dos maiores fornecedores de drogas da facção potiguar viveu por dois anos num flat de classe média, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, antes de ser localizado e preso pela Polícia Civil de seu estado natal, em agosto de 2021. Jussiê de Araújo Santos, o Siê, é chefe do tráfico de Mãe Luíza, principal reduto do grupo em Natal, e saiu do Rio Grande do Norte após se desentender com integrantes da cúpula da facção e ser marcado para morrer.
Segundo a polícia potiguar, Santos fugiu de Natal, se aliou a maior facção carioca e passou a fazer remessas de drogas para cinco estados do Nordeste a partir da capital fluminense. Escutas feitas com autorização da Justiça mostram o criminoso negociando a compra de drogas do Rio de Janeiro. “Tem do branco aí?”, perguntou o traficante a um interlocutor em janeiro de 2020. Atualmente, ele está preso em Alcaçuz.
Outro integrante do grupo que rompeu com a cúpula também se refugiou no Rio. Anderson Mendonça da Silva, o Sancinho, fugiu junto com Santos e também morava no Recreio dos Bandeirantes até agosto de 2021. Devido à prisão do comparsa, ele decidiu se mudar para Campo Grande, na Zona Oeste, bairro dominado pela maior milícia do Rio, onde acabou preso em julho do ano passado.
Fonte: Extra.