As investigações estão a cargo da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente. Foto: Reprodução/Redes Sociais
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente realiza, desde a madrugada desta terça-feira (18), uma operação na Lagoa da Tijuca, na Zona Norte do Rio. A ação tem como objetivo prevenir e reprimir crimes ambientais na região. A Polícia Civil abriu uma investigação para averiguar as mortes dos animais.
Duas embarcações de pequeno porte estão sendo utilizadas para rondas em toda a extensão da lagoa. A operação acontece um dia após a denúncia de biólogos de uma matança de jacarés no Complexo Lagunar de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio.
De acordo com a informação, somente esse ano foram encontradas oito carcaças da espécie sem cabeça e com marcas de tiro.
Durante a ação, foi encontrado um cemitério de embarcações abandonadas e escondidas sob a vegetação de mangue, em frente a Ilha das Garças. As embarcações representam poluição visual e impacto negativo na navegabilidade, além de possíveis danos à biodiversidade. Os fiscais ambientais notificaram para a retirada imediata.
A secretária Tainá de Paula afirmou que a Lagoa apresenta uma vegetação de manguezal e serve de abrigo a diversas espécies nativas, como crustáceos, garças, patos selvagens e o jacaré de papo amarelo, e por esta razão a fiscalização ambiental será intensificada.
“Inicialmente o trabalho será de conscientização e informação a população de que a prática de captura ou matança de jacarés, capivaras ou qualquer outro animal silvestre é crime, porém em caso de flagrante, o infrator será preso pela lei de crimes ambientais”, declarou o Coordenador de Defesa Ambiental da Prefeitura do Rio, José Maurício Padrone.
Segundo a secretaria, até o momento não foram encontrados petrechos ou vestígios de caçadores de jacarés e capivaras.
De acordo com o biólogo especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros degradados Mário Moscatelli, que fez parte dos denunciantes e atua na região há mais de 20 anos, a caça dos animais não é uma coisa nova.
“A situação que envolve a caça de animais silvestres no sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá não é novidade. Existem períodos nos quais a caça se intensifica e outros em que a caça acontece em menor intensidade. O fato é que de janeiro a abril nós encontramos oito jacarés mortos das mais diferentes formas. Desde o uso de anzóis a armas de fogo, comprometendo a existência da espécie que dá nome a região de Jacarepaguá”, explicou.
Ainda segundo ele, não há sentido na caça dos animais, já que, em sua maioria, as carnes estão contaminadas por bactérias que podem afetar o fígado do consumidor. Ele ainda destaca que a prática é criminosa.
“A caça no Brasil é crime, então quem está desenvolvendo essa atividade é criminoso. E quem está comendo, comprando essa carne de caça, está se contaminando. Porque essa carne provavelmente está contaminada por toxinas produzidas por micro-organismos chamados cianobactérias e essas toxinas, que normalmente são encontradas aqui no sistema Lagunar, são hepatotóxicas, ou seja, fazem mal ao fígado. Independente do tratamento que se dê a carne. Qualquer tipo de tratamento não tira essa toxina da carne do animal caçado”.
Segundo o delegado Wellington Viera, titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), na sexta-feira passada (14) um boletim de ocorrência foi registrado com essas informações. As investigações continuam em andamento para tentar esclarecer as mortes e identificar a autoria.
Processo de recuperação do sistema lagunar
Ainda de acordo com o relato do biólogo, o sistema está passando por uma recuperação e a caça aos jacarés pode prejudicar a existência do animal.
“Não tem sentido [a matança], principalmente agora quando nós estamos num processo de recuperação do sistema lagunar, onde esses animais são um importante ativo econômico ambiental pra atividades do futuro, de um breve futuro como o ecoturismo”, disse.
Para ele, é necessário que sejam feitas fiscalizações diárias em todo o complexo lagunar para evitar que mais animais sejam mortos por caçadores.
“O que se solicita das autoridades é uma atuação sistemática, periódica de fiscalização desse tipo de atividade que venha ocorrendo no sistema lagunar, bem como a criação de uma guarda municipal ou estadual lagunar, uma equipe que sistematicamente esteja baseada aqui no sistema Lagunar de Jacarepaguá e que possa desenvolver atividades de fiscalização, de gerenciamento desse importante ecossistema que está em processo de recuperação. Não podemos permitir que a galinha dos ovos de ouro seja mais uma vez depenada”.
Fonte: O Dia.