O modelo Bruno Krupp responde pelo atropelamento de João Gabriel Cardim Guimarães, em julho de 2022. Foto: Reprodução
O pedido foi feito nas alegações finais da defesa, antes de a Justiça decidir se Krupp será levado a júri popular pelo crime. O modelo ficou preso preventivamente por oito meses, e foi liberado em março deste ano. Atualmente, Krupp responde por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar), e por dirigir sem habilitação. O MP, em suas alegações finais, pediu o julgamento de Krupp pelos dois crimes.
No argumento da defesa são destacados a ausência de dolo eventual, o fato de Krupp estar sóbrio e de que foi realizada manobra na tentativa de evitar o acidente. Já o excesso de velocidade e a ausência de habilitação, o modelo não tem carteira para operar motocicleta, como circunstâncias que agravam o delito culposo.
Os argumentos, no entanto, são questionados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que destaca que o conjunto de fatores vai contra a afirmação de que o modelo não imaginava a possibilidade de um acidente.
“Em seu interrogatório, o acusado confessou que atropelou a vítima e que estava dirigindo sem habilitação em velocidade superior a 100km/h, afirmando, contudo, que não imaginava que poderia causar um acidente, versão que não se coaduna ao fato de estar dirigindo sem habilitação para tal, em alta velocidade e sem respeitar as faixas de veículos, passando entre os carros – no chamado corredor – que partiam do semáforo recém-aberto”, diz trecho das alegações finais.
João Gabriel atravessava a Avenida Lúcio Costa, na orla Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, por volta das 23h do dia 30 de julho do ano passado. O estudante, de 16 anos, estava acompanhado pela mãe, Mariana Cardim de Lima. No momento em que atravessavam uma das pistas, Krupp andava de motocicleta em alta velocidade. O jovem tentou correr para alcançar a calçada, mas foi atingido em cheio. Com a força do impacto, ele perdeu uma das pernas ainda no local.
Nas alegações finais do MPRJ, o órgão destaca trechos do depoimento de testemunhas do caso. Um deles é da mãe do estudante. Ela contou os instantes antes do atropelamento, dizendo que o filho caminhava mais à frente por dar passos mais largos e que optaram em atravessar, mesmo a metros de distância da faixa de pedestres porque viram os veículos parados no sinal.
“Atravessaram para o canteiro central, viram veículos alinhados como se estivessem parados em um sinal ao longe e atravessaram novamente; que João tinha uma passada mais larga que ela; quando já estavam quase na calçada do outro lado, ouviu um barulho muito forte e se assustou, quando viu, era a moto arrastando seu filho”, diz o documento.
Em um trecho do depoimento de uma testemunha que era motorista de um dos carros que trafegava na rua, a pessoa contou que viu a moto passar em alta velocidade por entre os veículos, sem estar numa faixa, quando ainda começavam a dar partida após o semáforo abrir.
“Quando o semáforo abriu eu notei uma motocicleta vindo em alta velocidade, passando entre o meu carro e o carro que estava à minha esquerda, logo que o sinal abriu, os carros começaram a trafegar, ainda em velocidade lenta, de arrancada”, diz um trecho, que destaca em seguida: “a moto não estava nem na sua faixa nem na faixa da esquerda, passou entre os carros”.
Com a batida, Krupp também se machucou, ao ser lançado da moto para o asfalto. Durante a internação, ele teve que fazer raspagem e enxerto e parte dos ferimentos, como mãos e barriga, conforme consta no documento.
Os dois foram socorridos e levados para o Hospital municipal Lourenço Jorge, também na Barra. João Gabriel morreu após dar entrada na unidade. Com isso, o caso, que inicialmente foi tipificado como lesão corporal culposa, passou para homicídio com dolo eventual.
A defesa argumenta que a avenida “estava pouco movimentada” e que João Gabriel e a mão atravessavam “fora da faixa de pedestres e com o sinal aberto para os veículos” e que o modelo “acreditava plenamente em sua habilidade de pilotar motocicletas”, apesar de não ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Ele frequentou, desde a adolescência, os encontros de um grupo de motoclube com o pai.
No ano passado, na delegacia, uma das testemunhas afirmou que Krupp dirigia a pelo menos 150 quilômetros por hora, acima dos 60 quilômetros por hora permitidos na via. Nas imagens registradas pelas câmeras de segurança da avenida, é possível ver o modelo em alta velocidade. Instantes antes, João Gabriel e Mariana atravessaram, em direção à orla, uma das pistas. Eles continuam caminhando e começam a atravessar a outra pista. Quando estão próximos da segunda faixa Bruno Krupp aparece em alta velocidade. João Gabriel tenta chegar até a calçada, mas não consegue e é atingido, sendo derrubado. O modelo continua a andar na moto por alguns metros até cair. Mariana correu até o filho que, com o impacto, perdeu uma das pernas no local.
“O requerente estava sóbrio, dirigindo na mão correta, não estava realizando “racha” e tentou efetivar a manobra evasiva adequada, circunstâncias que denotam que a conduta foi praticada, no máximo, culposamente”, escreveu a defesa sobre o atropelamento.
Em liberdade desde março
O modelo deixou a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, Zona Oeste do Rio, em 29 de março, oito meses depois de ser preso, após o pedido da defesa de um habeas corpus ser atendido. A decisão foi do ministro Rogerio Schietti Cruz. No documento, ainda aponta não haver “indicação da periculosidade” a justificar a medida cautelar “mais gravosa”. Cruz critica ainda o fato de o modelo responder por homicídio doloso, mas entende que não cabe essa discussão no recurso atual.
Krupp, no entanto, tem que cumprir medidas cautelares, tais quais: entregar o passaporte, comparecer mensalmente em juízo, ter seu direito de dirigir suspenso, além de estar proibido de tentar obter permissão ou habilitação para dirigir e fazer uso de tornozeleira eletrônica.
Fonte: Extra.