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Suspeito de participar de reunião entre políticos e miliciano Tandera é exonerado da Assembleia Legislativa

 Políticos da Baixada firmaram aliança com milícia de Tandera. Foto: Divulgação 

Um policial penal que até terça-feira prestava serviços no gabinete do deputado estadual Rosenverg Reis (PMDB), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj ), vai ser investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por suspeita de ser o mesmo homem responsável por sabatinar pré-candidatos que tentavam buscar apoio da milícia para eleição de 2020, durante uma reunião em Seropédica, na Baixada Fluminense. Júlio Cesar Ferreira Aleixo teve a exoneração publicada no Diário oficial, nesta quarta-feira, um dia após o parlamentar ter sido procurado pela reportagem para falar sobre o assunto. Em uma denúncia do MPRJ, encaminhada a 1ª Vara Criminal Especializada da Capital, é citado um suspeito, com o sobrenome Aleixo, que afirmou no encontro com políticos e paramilitares, trabalhar com o deputado.

Com a notícia da exoneração, o MPRJ resolveu investigar formalmente o policial penal pela suspeita de participação no encontro entre pré-candidatos e milicianos. Em uma denúncia assinada por promotores do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao crime Organizado (Gaeco) , um suspeito é apontado como um tipo de assessor para assuntos políticos dos paramilitares. No documento consta uma transcrição de um áudio de uma conversa, captada e gravada pelo telefone de um miliciano durante o evento. No diálogo, Aleixo faz elogios à milícia. No encontro que ocorreu em abril de 2020, e contou com a presença dos milicianos Danilo Dias Lima, o Danilo Tandera, e o irmão deste, o Delson Lima Neto, o Delsinho, morto em agosto de 2022, o suspeito disse, entre outras coisas, que 99% dos integrantes de grupos paramilitares são homens que não negam a raiz.

Tandera no cartaz de procurado e disfarçado com peruca, óculos e barba — Foto: Reprodução
Tandera no cartaz de procurado e disfarçado com peruca, óculos e barba — Foto: Reprodução

De acordo com denúncia do MPRJ, durante um trecho da gravação, o homem afirma ser amigo do deputado federal Gutemberg Reis, a quem chama pelo apelido de Gut, e do secretário estadual de Transporte Washington Reis, além de mencionar que trabalhava no gabinete de Rosenverg. No caso do secretário estadual de Transportes, ele também frisou considerar Washington como um irmão, dizendo frequentar inclusive, a casa deste. ” Eu falo porque eu também sou do meio, eu sou do gabinete do Rosenverg, a família Reis. Gutemberg é irmão. O Gutemberg, a gente ajudou bastante. Washington é irmão, eu frequento a casa dele. ..Também tenho muita articulação em Brasília. Então falo até com propriedade a respeito de determinadas situações. Nosso trabalho é bastidor, é onde as coisas estão acontecendo. (…) Eu falo com toda certeza o seguinte. Eu não gosto de usar esse termo, mas é o termo que se usa: miliciano. O miliciano, 99% é homem, sujeito homem, não tem dois papos: é, é, não é, não é. É aquilo dali. Sofre-se muito com isso, mas ninguém nega a sua raiz. Então qual é a realidade, que a gente fala, que a gente vê.” diz o suspeito, em um trecho da gravação de um áudio, anexado ao processo pelo MPRJ .

Em outro trecho do documento, Aleixo opina sobre a milícia e diz não haver comunidade sem paramilitares ou traficantes. E que o Rio é uma locomotiva do crime organizado “…Falei o seguinte: você tem o ruim e você tem o pior. Ruim: milícia. Pior: tráfico. O ideal é que não houvesse nada. Você tem que escolher o que vai ocupar aquela a comunidade. É escolha. Ruim, porque, torno a dizer, era para o estado estar ali, foi o que o irmão falou aqui. Dá-se uma abertura que vai ser preenchida por alguma coisa. Não existe comunidade que não haja tráfico e agora milícia. Ainda mais aqui (no RJ)! É locomotiva. A locomotiva da sacanagem é o Rio! Quem puxa é o Rio! Tudo acontece aqui primeiro, depois os outros copiam.”

Nesta terça-feira, o inspetor penal estava no gabinete de Rosenverg Reis. E a convite da reportagem, assistiu à conversa do repórter com o parlamentar, quando este último foi questionado se sabia da menção ao seu nome durante o encontro de 2020. Perguntado ao fim do diálogo se gostaria de se posicionar sobre o caso, o policial foi lacônico:

— Desconheço. Não quero falar sobre o assunto — disse.

O deputado Rosenverg Reis informou que o servidor estava cedido pela Secretaria de Administração Penitenciária, e que não tinha representação política. Segundo o parlamentar, Aleixo prestava serviços em seu gabinete, mas era lotado na Superintendência Militar da Alerj, onde tinha um cargo comissionado.

— Ele está adido aqui (cedido pela Secretaria de Administração Penitenciária). Não tem cargo, mas presta serviços. Na carga horária dele, ele trabalha. Agora, ele é responsável pelo CPF dele e eu sou pelo meu. Eu só peço voto a quem tem voto, ou seja, ao próprio eleitor — disse Rosenverg, na terça-feira, negando que Aleixo tenha tido autorização para falar em seu nome em qualquer ocasião.

Veja a íntegra da nota enviada pelo parlamentar. “O deputado Rosenverg Reis nunca teve conhecimento dessa ou de qualquer outra reunião desse tipo e repudia veementemente qualquer relação com esse encontro. O servidor Julio Cesar Ferreira Aleixo nunca teve autorização de falar em seu nome, e exercia apenas uma função técnica legislativa na Alerj, sem qualquer tipo de representação política dentro ou fora da Casa. Julio Cesar ocupava um cargo comissionado na Superintendência Militar da Alerj desde a legislatura passada e já foi dispensado do cargo e devolvido para a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap).”

A assessoria do secretário estadual de Transportes Washington Reis também se posicionou sobre o assunto. Em nota enviada pela assessoria, Reis diz que sequer conhece a pessoa citada. A seguir, a íntegra do documento. “O Secretário de Estado de Transporte e Mobilidade Urbana, Washington Reis, informa que, ao longo de cerca de 30 anos de atividade política, teve contato com incontáveis lideranças e representantes da população, e sempre manteve as portas abertas para discussões sobre projetos para melhorias para a cidade. No entanto, não tem conhecimento da pessoa citada. O secretário lamenta que seu nome tenha sido usado para tal finalidade e apoia todas as investigações no sentido de combate à criminalidade.”

Por último, o deputado federal Gutemberg Reis, irmão de Washington e Rosenverg, disse que jamais aceitou que suspeitos de integrar o crime organizado participassem de sua campanha. Ele também negou conhecer Aleixo. Veja a seguir, a íntegra do comunicado. “O deputado federal Gutemberg Reis informa que não conhece a pessoa citada e que jamais pediu ou aceitou que suspeitos de integrar o crime organizado participassem de suas campanhas ou reuniões políticas. A segurança pública sempre foi uma das suas principais bandeiras.”

O deputado Rosenverg Reis, que é primeiro secretário da Alerj, alegou não ter sido o autor da nomeação de Aleixo. Em 2018, ele concedeu ao servidor a medalha Tiradentes, honraria destinada a premiar pessoas que prestaram serviços ao Rio de Janeiro. O policial penal também concorreu ao cargo de vereador no município do Rio, em 2020, mas não conseguiu ser eleito.

Nas fotos do encontro, ocorrido em abril de 2020, é possível ver a foto de um fuzil na mesa onde acontecia o debate. Entre os presentes estavam Danilo Tandera, Delson Lima Neto, o Delsinho e os pré-candidatos Thaianna Cristina Barbosa dos Santos, a Dra Thay, Luciano Henrique Pereira, o Luciano da Rede Construir e o ex-deputado Cornélio Ribeiro. Os três políticos foram denunciados e indiciados por ligação com organização criminosa. Nenhum dos três chegou a ser eleito.

Segundo o MPRJ, os pré-candidatos teriam prometido nomeações para cargos públicos e benefícios em licitações em troca de apoio político em suas respectivas campanhas eleitorais. Dra Thay foi pré-candidata a Prefeitura de Mesquita. Luciano da rede Construir foi pré-candidato a Prefeitura de Seropédica. Já Cornélio Ribeiro não chegou a concorrer na eleição.

Fonte: Extra.

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