Imagens: Leonardo Fonseca
“Navegando a gente consegue ver que teve uma mudança para melhor. A água tem ficado mais clara e o peixe está mais abundante. Tiro meu sustento daqui.” Quem conta é o pescador José Iago Vita, enquanto vai acumulando quilos de tilápia em seu pequeno barco de pesca numa tarde de sol na Lagoa do Boqueirão, em Maricá.
José, 31, é testemunha da mudança que a lagoa teve em menos de dois anos. Mudança que vem pelo programa Lagoa Viva. O projeto tem dado nova vida às lagoas de Maricá.
O pescador navega a lagoa diariamente acompanhado da esposa Rebeca Iago, 22. O casal consegue levar para casa cerca de 30 quilos de tilápia, quantidade que pode chegar a 150 quilos em um dia de pescaria com o tempo bom.
De acordo com dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca, o município tem 730 pescadores cadastrados, que usam rede e/ou tarrafa nas lagoas e no litoral de Maricá.
Todos ganham com águas mais limpas. José estava desempregado quando viu na lagoa uma alternativa para o sustento. “Antes, eu trabalhava no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e encontrei aqui a solução do nosso problema.”
Águas clarinhas
Não são apenas os pescadores que ganham. As lagoas de Araçatiba e do Boqueirão, em Maricá, são utilizadas diariamente pela população em geral para lazer, turismo e
esportes como canoagem e stand-up paddle .
A coordenadora do clube de canoa Maricá Vaa, Lilia Godoi, dá aulas de canoa Polinésia na Lagoa do Boqueirão, onde funciona a sede do clube. Faz parte do projeto social Empresto Minhas Pernas, que leva pessoas com deficiência para remar, na Lagoa de Araçatiba.
“A prática esportiva nas lagoas está sendo bem agradável. A gente já vem acompanhando o programa Lagoa Viva e observamos como a qualidade da água tem melhorado no último ano, está bem clarinha, o que nos dá maior garantia de limpeza do ambiente onde estamos diariamente”, comemora.
Qualidade
Com o objetivo de popularizar a prática náutica por meio de uma pedagogia socioesportiva para crianças e adolescentes, o Projeto Navegar tem 140 alunos. Parte do programa Esporte Presente, da Secretaria de Esporte e Lazer de Maricá, o projeto estimula a prática de atividades físicas e o bem-estar dos maricaenses com a oferta de 35 modalidades esportivas, como remo, vela e caiaque.
“Sou praticamente morador da lagoa. Estou aqui cinco vezes por semana e a gente tem observado bastante a diferença na qualidade da água. Estamos sempre ativos na lagoa praticando inúmeros esportes e acompanhando fora dela sua evolução”, diz o supervisor e professor da escola de remo Maricá Vaa, Gustavo Lanari.
“Além de praticar, recomendo que a gente aproveite essa maravilha natural que podemos usufruir. Ficamos ainda mais felizes, pois programas como o Lagoa Viva beneficia a qualidade de vida de todos nós que frequentamos o local”, acrescenta.
Inovação
O programa Lagoa Viva cria novas e criativas tecnologias de saneamento. É uma iniciativa pioneira e inovadora na utilização de uma técnica de saneamento que colabora com a qualidade da água. Seus efeitos são transformadores e visíveis, como a renovação do ecossistema local, a eliminação do mau cheiro e a limpidez.
O projeto é uma parceria da Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maricá) com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a partir do consórcio firmado com a Biotec Maricá.
A tecnologia usada é à base de bioinsumos, ou seja, micro-organismos vivos, sem quaisquer efeitos danosos ao ecossistema nem às pessoas.
Biofábrica
Em agosto de 2022, a Prefeitura de Maricá inaugurou, no bairro de São José do Imbassaí, a Biofábrica para produção destes microrganismos vivos. De lá, eles vão direto para as lagoas.
A base de tudo são os Tijolos Vivos, que foram lançados nas águas da lagoa semanalmente, até atingir o equilíbrio. Eles têm em sua composição os bioinsumos, seres invisíveis que existem desde que o mundo é mundo. É tudo natural, sem componentes químicos e inofensivo para animais, plantas e pessoas.
“Investir em pesquisas é investir no desenvolvimento da cidade e recuperar nossas lagoas de forma natural é, sem dúvida, um projeto pioneiro”, explica o presidente da Biotec, Eduardo Britto.
Em menos de dois anos, a quantidade de pequenos animais e seres vivos aumentou mais de 3 vezes na Lagoa de Araçatiba.
Entre as espécies, estão mexilhões e caracol. Também há uma microalga considerada indicadora de qualidade das águas: ela só aparece onde as condições de oxigênio são boas.