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Inédito e inovador, Lagoa Viva resgata memórias e transforma vida de pescadores em Maricá

Fotos: Leonardo Fonseca

A Lagoa do Boqueirão, em Maricá, foi cenário de muitas histórias da infância da bibliotecária Nadja de Andrade. Moradora da cidade há 48 anos, ela acompanhava seu pai, que pescava no local.  “Tenho uma memória muito forte da lagoa, porque fez parte da minha infância, fez parte da minha vida. E aí, depois, quando tive a minha filha, hoje com 21 anos, eu não pude fazer isso com ela, porque tinha medo de trazê-la, já que a lagoa tinha aparência de suja”, relembra Nadja que, a partir do Programa Lagoa Viva e do processo de revitalização da Lagoa do Boqueirão, se tornou aluna do Projeto Navegar e hoje, remando, cria novas lembranças do local.

O Lagoa Viva é um projeto inédito e inovador que está dando vida nova às lagoas em Maricá. A base de tudo são os Tijolos Vivos, que  têm em sua composição os bioinsumos, ou seja, micro-organismos. É tudo natural, sem componentes químicos e  inofensivo para animais, plantas e pessoas.

Para Nadja, a revitalização na lagoa do Boqueirão é visível. “Nós remamos por toda a região, vamos para Jacaroá, para Araçatiba, rodeamos as Ilhas. Eu vejo a vida nas águas, algo que não via fazia muito tempo. A lagoa está mais limpa, não tem mais aquele mau cheiro, tem lugares que conseguimos ver o fundo da água. A quantidade de peixe aumentou, tem tanto que, às vezes, eles acabam pulando dentro do barco”, avalia.

Ela conta que, depois de anos sem ter uma relação afetiva com o local, o amor está de volta. “Há cerca de um ano, entrei no remo e todo o sentimento voltou. Eu sempre brinco dizendo que essa lagoa é minha. Estou resgatando a minha memória de criança e revivendo isso tudo. E vejo que outras pessoas também estão aproveitando. Tem movimento, as famílias vêm, no fim de semana a Orla está lotada”, explica.

Aumento no número de peixes

O pescador Jailson Ribeiro há 15 anos pesca em Maricá. Ele afirma que a quantidade de peixes na Lagoa do Boqueirão, bairro onde ele mora, aumentou.  “Anteriormente,  a gente pescava cerca de 40 quilos, no máximo, 100 quilos de tilápia, por dia. Hoje, depois da melhora na água da lagoa, a gente consegue pescar de 100 a 200 quilos por dia em épocas mais frescas. No verão, essa quantidade aumenta, chegamos a pegar 400 quilos em um dia. Escutamos relatos de barco que chegou a pescar 1.800 quilos, em um dia, no ano passado”.

Com os resultados do Programa Lagoa Viva, também está mais fácil de vender os peixes. “Eu saio para pescar e todo o meu peixe já está vendido.  A nossa lagoa tinha a fama do pescado ser de um lugar com esgoto, então o comprador tinha receio. Hoje em dia não tem mais, esse tabu foi quebrado, porque a água está limpa e o pessoal consegue observar que o peixe tem uma boa qualidade”, garante Jailson.

Quem tentou comprar os peixes de Jailson foi o morador de Cordeirinho Luciano Oliveira. Ele, que é funcionário público e complementa a renda vendendo peixe, se aproximou do pescador, porém não teve sucesso porque o pescado já estava vendido. “Os peixes estão muito mais frescos, mais limpos. Há alguns anos, o peixe era mais poluído, hoje não, estamos sempre comendo um peixinho de boa qualidade. Tem muita gente pescando aqui, inclusive pessoas de fora. A quantidade aumentou bastante e está ajudando as pessoas a sobreviverem, é um ganha-pão. Além disso, vejo pessoas trazendo suas famílias, se divertindo, nadando. Hoje eu sinto que a lagoa está muito mais limpa”, finalizou Luciano.

Sobre o Programa

O Programa Lagoa Viva é uma parceria da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a partir do convênio firmado com a Biotec Maricá.

Com a criação de novas e criativas tecnologias de saneamento, é uma iniciativa pioneira e inovadora na utilização de uma técnica de saneamento que colabora com a qualidade da água. Seus efeitos são transformadores e visíveis, como a renovação do ecossistema local, a eliminação do mau cheiro e a limpidez.

Em menos de dois anos, a quantidade de pequenos animais e seres vivos aumentou mais de 3 vezes na Lagoa de Araçatiba. Entre as espécies, estão mexilhão e caracol. Também há uma microalga considerada indicadora de qualidade das águas: ela só aparece onde as condições de oxigênio são boas.

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