Médica colombiana sendo transferida para o presídio. Foto: Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
A médica colombiana Eliana Jimenez Dias foi presa, no início da manhã desta quarta-feira (12), pela morte da cozinheira Ingrid Ramos Ferreira, de 41 anos, no dia 15 de junho. Agentes da 16ª DP (Barra da Tijuca) prenderam a mulher em casa, em um condomínio de luxo em Jacarepaguá, na Zona Oeste.
Contra ela, foi cumprido um mandado de prisão preventiva decretado pela Justiça. Os agentes também apreenderam aparelhos de telefone celular.
Nesta terça (11), a médica foi denunciada pelo Ministério Público por homicídio com dolo eventual e por fraude processual, pois, de acordo com as investigações, ela tentou esconder provas que poderiam ter auxiliado na elucidação do caso.
A médica também foi indiciada pela Polícia Civil na última segunda-feira (10) pelos mesmos crimes citados na denúncia do MP. No inquérito, a investigação entendeu que a médica ocultou provas do crime e tem o risco de deixar o país devido ao seu registro de dupla nacionalidade.
A polícia também afirmou que o resultado do laudo da morte de Ingrid constatou que ela foi vítima de um choque cardiogênico. Durante a cirurgia, o coração da vítima perdeu a capacidade de bombear sangue em quantidade adequada para os órgãos.
De acordo com as investigações, a médica assumiu o risco da morte da paciente ao fazer o procedimento invasivo em uma sala comercial, ao invés de um ambiente hospitalar, que seria recomendado.
Relembre o caso
Ingrid morreu no dia 15 de junho deste ano após passar por uma reparação da abdominoplastia feita no ano passado, em uma clínica na Avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, Zona Oeste.
Ingrid estava acompanhada do filho de 14 anos. O irmão da vítima, Ícaro Ramos Ferreira, de 33 anos, chegou a gravar um vídeo no momento em que chegou na clínica, onde uma outra pessoa falou que a vítima sofreu uma reação alérgica a anestesia. “Para mim a médica não falou nada, ela não conseguia nem abrir a boca, estava muito abalada. Lá, tinha remédio fora da validade, o que poderia ter causado isso. Assim que chegamos percebemos que era um lugar inadequado. Nós saímos de lá 2h”, disse.
A vítima deixou dois filhos: um de 14 anos que acompanhava o procedimento, e uma de 22 anos, que está grávida.
Sem licença da Vigilância Sanitária
A clínica estética onde Ingrid morreu não tinha licença para funcionar. O estabelecimento passou por uma perícia da Polícia Civil e acabou interditado pelo Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa), após uma série de irregularidades serem encontradas.
Além da falta de licença da Vigilância Sanitária, também foram encontrados medicamentos fora da validade e materiais para cirurgias, que não poderiam ser usados, já que o estabelecimento não tem autorização para realizar procedimentos cirúrgicos. O Ivisa também encontrou tubos de coleta de sangue vencidos; próteses mamárias com indício de reutilização; e autoclave sem o correto fluxo para a esterilização.
De acordo com o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, no ano passado, o local já havia sido multado por falta de licenciamento. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso.
Depoimento da médica
Eliana Jimenez relatou aos policiais, durante depoimento, que o procedimento realizado na cozinheira era para a retirada de uma queloide na região do abdômen e que não precisava ser realizado em um centro cirúrgico.
A médica contou que utilizou 15 miligramas da substância Dormonid Maleato de Midazolam – usado para o tratamento de curta duração da insônia -, e uma solução anestésica com lidocaína e um pouco de adrenalina. Logo depois da aplicação da anestesia, Ingrid teve uma convulsão, que durou entre três e quatro minutos.
Ainda segundo a oitiva, Eliana precisou desobstruir as vias aéreas da paciente, mas ela passou a espumar pela boca e contrair o corpo. A médica chegou a perguntar para o filho da vítima, que a acompanhava, se a mãe tinha intolerância a alguma substância usada e pediu que outros pacientes acionassem o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Pouco depois, Ingrid começou a perder pulsação e a cirurgiã fez manobras de ressuscitação, que também foram realizadas pelos médicos do Samu, mas eles não conseguiram reverter o quadro e a mulher acabou morrendo.
Família acredita em erro médico
A família acredita que a morte de Ingrid tenha sido provocada por erro médico e, de acordo com o irmão, o estabelecimento era inadequado para a realização do procedimento. “Para mim aquilo ali era um açougue, não era uma clínica. Só Deus sabe a dor que eu estou sentindo (…) Essa clínica é um ‘hotelzinho’, parecendo uma quitinete, é uma sala pequenina”, afirmou ele, que gravou um vídeo no momento em que chegou ao local. Nas imagens, uma pessoa fala que a vítima sofreu uma reação alérgica a anestesia.
“Para mim a médica não falou nada, ela não conseguia nem abrir a boca, estava muito abalada. Lá, tinha remédio fora da validade, o que poderia ter causado isso. Assim que chegamos percebemos que era um lugar inadequado. Nós saímos de lá 2h”, relatou Ícaro. Cunhada da mulher, Juliana Guedes contou que ela havia feito uma abdominoplastia no ano passado, também com Eliana, e voltou outras vezes porque o procedimento não ficou bom.
Fonte: O Dia.