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‘Que não seja mais uma estatística’, lamenta tio de menino morto após ação policial em Maricá

Adjailma Azevedo e José Roberto Santos de Souza, pais do menino, estiveram na delegacia na quarta. Foto: Pedro Ivo

O menino de 11 anos, morto durante uma ação policial no condomínio Minha Casa, Minha Vida, foi sepultado na tarde desta quinta-feira (13) no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana do Rio.

Familiares e amigos chegaram no cemitério através de um ônibus da prefeitura. Crianças, com uniforme de escola, também estiveram no local. A vítima morreu depois de ser baleada quando estava uniformizada ao lado da mãe e esperando o ônibus para ir à Escola Municipal Darcy Ribeiro, onde estudava.

A mãe do menino, Adjailma de Azevedo Costa, teve que ser amparada por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Emocionada, ela cobrou Justiça.

“Eles chegaram atirando. Eu estava levando meu filho para a escola. Era só polícia que atirou. Isso não é justo. Fazer isso com uma criança? Ainda dizer que meu filho era traficante. Aonde, gente? Meu filho ainda tem problema. Eu quero Justiça”, afirma.

Antes do velório, moradores do condomínio protestaram contra a atuação policial no local. Segundo Daniele Reges, de 45 anos, vizinha da vítima, não houve confronto no momento em que o menino foi baleado.

“Que fique bem claro para todos: não foi o tráfico que atirou naquela criança. Foi a polícia. Eu estava na esquina colocando meu filho para a escola com mais duas mães. Não foi um traficante que em nenhum momento se manifestaram. A bandidagem está no sistema. Eu sou uma mulher que não posso trabalhar porque não tenho confiança de largar o meu filho dentro de casa. A polícia já entrou dentro da minha casa e botou arma na minha cara. Eu não sou traficante”, disse.

Jorge Luis Ribeiro de Amorim, tio da vítima, afirmou que a Polícia Militar é desestruturada. “Que falta de estrutura da polícia, chegar atirando e depois dizer que os bandidos que atiraram. O menino estava indo para a escola uniformizado com a mãe e levou um tiro de fuzil. Como fica a mãe, o pai e os irmãos? Nós queremos Justiça e que ele não seja mais uma estatística. Ele era uma criança adorável e especial, mas infelizmente, um tiro da polícia acabou com a vida dele”, lamenta.

Segundo Jorge Luis, os irmãos mais novos do menino ainda não sabem sobre a morte. “Eu vou pegar eles e vou dar a notícia, mas não sei qual vai ser a reação”, explica.

Relembre o caso

A criança morreu na manhã desta quarta-feira (12) depois de ser baleada no condomínio Minha Casa, Minha Vida, localizado na Estrada do Bosque Fundo, em Inoã. O local onde a vítima morava é disputado pelo tráfico e pela milícia.

Segundo a PM, os agentes que atuaram no local afirmaram que foram atacados por criminosos enquanto realizavam patrulhamento, o que gerou um confronto. Após o fim do conflito, os policiais encontraram o menino morto depois de ser baleado.

Ainda de acordo com a corporação, a viatura dos agentes foi atingida pelos disparos e os criminosos fugiram. A corregedoria acompanha o caso, que está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG).

Já a família acusa os policiais de chegarem atirando no condomínio. Um dos tiros até acertou a mochila de outra estudante, que estava próximo ao menino quando ele foi baleado. A vítima tinha transtorno do Espectro Autista (TEA) e não conseguiu correr no momento do tiroteio, segundo familiares.

O menino é a sexta criança assassinada por bala perdida no Estado do Rio neste ano, de acordo com levantamento do Instituto Fogo Cruzado.

A Polícia Civil já ouviu familiares do menino e quatro policiais envolvidos na ação. Imagens de câmeras que estavam acopladas nas fardas dos agentes serão usadas para esclarecer o caso. As armas dos PMs já foram apreendidas.

Fonte: O Dia.

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