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    ‘Não são eles que estão sofrendo, sou eu’, lamenta mãe de menino morto em Maricá durante sepultamento

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    Adijailma Azevedo, mãe de Dijalma de Azevedo, de 11 anos, desabafou emocionada durante o velório do filho nesta quinta-feira, no Cemitério Municipal de Maricá, Região Metropolitana do Rio. Em meio às lágrimas, ela relatou ter presenciado o momento em que o pequeno Dijalma foi baleado segundos após a chegada de uma viatura da Polícia Militar no conjunto habitacional Minha Casa, Minha Vida, onde a família residia.

    Adijailma pediu por justiça e exigiu que os responsáveis pela morte de seu filho sejam punidos, afirmando ter presenciado os policiais atirando assim que entraram no complexo habitacional.

    “Eu estava ainda no ponto de ônibus quando vi a viatura chegando correndo. Eles começaram a atirar. Eu quero justiça. Eles não estão sofrendo, sou eu!” disse ela.

    O sepultamento do menino ocorreu às 14h30 desta quinta-feira, com a presença de amigos, familiares e dezenas de crianças que estudavam com ele. Durante o cortejo, foi estendida uma faixa com a frase “MCMV (Minha Casa, Minha Vida) pede paz”. Representantes do grupo de mães de vítimas da violência da Maré e da Ouvidoria da Defensoria Pública estadual também estiveram presentes no enterro.

    Nesta quinta-feira, a Polícia Militar confirmou ter enviado para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí as imagens captadas pelas câmeras nos uniformes dos policiais envolvidos na ocorrência que resultou na morte do menino. A PM informou ainda que a 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar e a corregedoria da corporação estão acompanhando o caso.

    Relembrando o caso, o estudante Dijalma de Azevedo, de 11 anos, foi baleado na manhã de quarta-feira enquanto se dirigia para a Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro, na região do Bosque Fundo, em Maricá, Região Metropolitana do Rio. Ele foi atingido por um tiro próximo à sua residência e faleceu antes que os parentes pudessem socorrê-lo. Na porta da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, o pai da vítima, José Roberto de Souza, auxiliar de serviços gerais, chorou ao desabafar sobre a situação, acusando os policiais de terem efetuado os disparos.

    “Os policiais entraram atirando. O garoto não teve chance de correr”, relatou José. Enquanto sua companheira, Adijailma de Azevedo, levava o menino, que era autista, para a escola, ele ficou em casa cuidando dos outros dois irmãos de Dijalma. Após ouvir os tiros, ele saiu correndo de casa em desespero. “As pessoas vieram me avisar: ‘Seu filho foi morto’. Isso é uma injustiça, uma covardia. O menino era autista. Uma crueldade.”

    Segundo a Polícia Militar, equipes do 12º BPM (Niterói) estavam realizando patrulhamento quando foram recebidas a tiros no local. Uma viatura também foi atingida por disparos. Os agentes afirmaram que, após o confronto, encontraram a vítima já sem vida no chão. Os policiais estavam utilizando câmeras operacionais em seus uniformes, e as imagens serão enviadas à Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, responsável pela investigação do caso.

    Vídeos gravados por moradores momentos após o ocorrido mostram a mãe de Dijalma abraçada ao corpo do filho, que estava caído no chão, chorando intensamente. Uma mulher se aproxima e a abraça, enquanto é possível ouvir alguém pedindo uma ambulância. Dois homens cobrem o corpo com um lençol branco.

    O tio do menino, Jorge Luis Ribeiro, afirmou que não mora no condomínio Minha Casa, Minha Vida em Inoã, onde ocorreu a tragédia, mas foi informado por telefone que Dijalma havia sido atingido após os policiais chegarem atirando.

    O estudante era considerado uma criança adorável. “Ele estava com o uniforme. A mãe o estava levando para a escola. E agora? Como fica o coração da mãe? Queremos justiça”, desabafou Jorge.

    Um vizinho relatou ter ouvido tiros vindos de uma viatura policial e viu Dijalma caído no chão pela janela. Carlos Eduardo Jaime contou que, após o tiro atingir o peito do menino, também acertou seu carro, e a bala está alojada em um dos bancos. “Dizer que eles trocaram tiros com bandidos? Que o garoto era bandido? Isso é uma piada”, indignou-se Carlos.

    Adijailma deixou a Delegacia de Homicídios no início da tarde com problemas de saúde e sem conseguir falar. Abalada, ela precisa lidar com a dor de testemunhar seu filho ser baleado diante de seus olhos.

    “Eu estava levando meu filho para a escola. No meio do caminho, a polícia chegou, atirou, e eu estava segurando ele. A polícia chegou e disparou, sem motivo, dentro do condomínio”, relatou Adijailma ao chegar à delegacia naquela manhã.

    Parentes do menino deixaram a delegacia por volta das 13h.

    Moradores protestaram após a morte do estudante em Maricá – Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

    Além dos parentes de Dijalma, Betânia de Almeida, uma cozinheira de 36 anos, também compareceu à delegacia. Pela manhã, após dar café da manhã à filha, a menina do sexto ano foi sozinha para a Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro, a mesma em que Dijalma estudava. No caminho, ela foi surpreendida pelos disparos. Por pouco, uma bala não a atingiu.

    “Eu disse à minha filha para correr se ouvisse tiros. Quando ouvi os tiros, corri para encontrá-la. Minha filha nasceu de novo. Se ela fosse atingida, teríamos perdido duas crianças hoje”, afirmou Betânia. Com a mochila em mãos, com o símbolo da prefeitura de Maricá, ela mostrou o pano furado.

    Betânia completou, referindo-se a Dijalma: “Ele era muito dedicado aos estudos, só saía de casa para ir para a escola, e pronto.”

    Após a morte do menino, moradores realizaram protestos no local. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 7h05 e encontrou Dijalma sem vida. Outras duas mulheres foram levadas para o Hospital Che Guevara, no bairro São José de Imbassai, porém seus ferimentos foram considerados leves pelos bombeiros. Segundo a Prefeitura de Maricá, uma delas sofreu um ferimento no rosto causado por uma pedrada, e a outra foi atingida por estilhaços de bomba, também no rosto.

    Durante a manhã, as pessoas permaneceram no local do crime, impedindo que o corpo fosse removido antes da perícia da Polícia Civil. Em momentos de tensão e tumulto, bombas de gás foram lançadas para tentar dispersar a multidão, que contava com dezenas de pessoas.

    Por volta das 9h45, o carro da Defesa Civil deixou o conjunto habitacional com o corpo do menino. Ele foi levado ao Instituto Médico-Legal do Barreto, em Niterói, chegando lá 40 minutos depois.

    A prefeitura informou que equipes das secretarias municipais de Direitos Humanos e Assistência Social foram enviadas imediatamente ao local para prestar apoio e solidariedade à família de Dijalma.

    “Não permitiremos que esse crime fique impune, nem que tragédias como essa, tão incomuns em nossa cidade, se tornem banais”, afirmou o prefeito Fabiano Horta em um comunicado.

    A Polícia Civil, por meio de nota, informou que a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) instaurou inquérito para investigar o caso. A perícia foi realizada no local, e os agentes estão coletando mais informações sobre o ocorrido. Testemunhas serão convocadas para prestar depoimento, e outras diligências serão realizadas para identificar o autor do disparo que atingiu a vítima e esclarecer o caso.

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