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Mulher negra que lutou por trabalhador doméstico é heroína da pátria

Laudelina de Campos Melo, a sindicalista das mulheres. Foto: Wikimedia Commons

Laudelina de Campos Melo, pioneira na luta pelos direitos dos trabalhadores domésticos, recebeu uma justa homenagem ao ter seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, por meio da Lei 14.635/2023, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Esse reconhecimento político é extremamente significativo para Cleusa Aparecida da Silva, coordenadora da Casa Laudelina de Campos Melo – Organização da Mulher Negra. Publicada recentemente no Diário Oficial da União, a lei teve origem no Projeto de Lei (PL) 1795/2021, aprovado na Comissão de Educação (CE) em 20 de junho.

Cleusa destaca que a história das mulheres originárias e das mulheres negras, que tiveram um papel essencial na edificação da sociedade brasileira, muitas vezes não é conhecida e valorizada como merece. Ela enfatiza que esse reconhecimento histórico é fundamental para impactar positivamente as vidas dessas mulheres, fortalecer a autoestima e revelar a verdadeira história do país.

As trabalhadoras domésticas, em geral, não recebem a visibilidade adequada na mídia, o que torna esse reconhecimento ainda mais significativo para Cleusa. A inclusão de Laudelina de Campos Melo no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria representa um importante marco político neste início de terceiro milênio.

A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), em sua Galeria de Lutadoras, destaca a trajetória de Laudelina como fundamental para a organização da categoria em busca de direitos e também por seu engajamento na luta contra o preconceito racial e a discriminação das mulheres. Desde cedo, ela teve que trabalhar, enfrentando desafios, e sua atuação sindical foi notável.

Neta de pessoas escravizadas, Laudelina nasceu em Poços de Caldas (MG) em 12 de outubro de 1904. Apesar de abandonar a escola aos 12 anos para cuidar de seus irmãos mais novos após a morte do pai em um acidente de trabalho, ela se tornou uma líder ativa ao ser eleita presidente do Clube 13 de Maio, que promovia atividades recreativas e políticas para a população negra da cidade.

Ao longo da década de 1930, Laudelina participou de movimentos populares e foi uma das fundadoras do partido Frente Negra Brasileira, além de se filiar ao Partido Comunista Brasileiro. Ela também fundou a Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil, em Santos (SP). Sua trajetória política foi marcada por sua dedicação aos direitos humanos, com foco na questão da mulher, de gênero, racial, trabalho doméstico, educação, arte e cultura.

Infelizmente, durante a ditadura de Getúlio Vargas, Laudelina foi perseguida e teve suas atividades com a Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil suspensas. No entanto, sua coragem a levou a se alistar nas forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial, tornando-se a primeira combatente negra do Exército. Sua vida foi repleta de aventuras, lutas e contribuições para o país, e ela faleceu em 1991, aos 86 anos.

A inscrição no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é uma honra reservada a personalidades que tiveram um papel fundamental na defesa e construção do país. Laudelina de Campos Melo junta-se a uma lista de notáveis como Tiradentes, Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Chico Xavier, Santos Dumont e Zuzu Angel. Seu legado e dedicação à luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas e das mulheres negras serão lembrados e reconhecidos como parte importante da história do Brasil.

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