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    A dificuldade de contar sua própria trajetória marca os desafios enfrentados ao longo dos 17 anos de vida de Luiza (nome fictício). Desde seu nascimento, ela foi entregue por sua mãe a pessoas desconhecidas. Os avós maternos a resgataram e se tornaram seus guardiões, cuidando dela e de seus nove irmãos. Porém, aos 10 anos, a saúde do avô agravou-se, impossibilitando que ele continuasse a cuidar dos netos. Todos os dez irmãos foram então morar com a mãe, em uma casa de apenas um cômodo na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

    Luiza recorda com orgulho o pequeno quarto rosa onde costumava dormir sozinha na casa dos avós. Ela relembra as brincadeiras de pique-esconde com seus irmãos e outras crianças do bairro. Gostava de aguardar ansiosamente seus colegas de brincadeira no topo dos muros dos vizinhos, sempre atenta para não ser descoberta. Embora não fosse muito fã de bonecas, ela passava parte do dia assistindo televisão.

    Entre os 10 e 13 anos, Luiza voltou a viver com sua mãe. Cansada das brigas frequentes entre sua mãe e o marido, principalmente devido a ciúmes, Luiza decidiu fugir de casa. A situação culminou quando a mãe tentou atacar o homem com uma faca.

    “Sempre havia muitas brigas por causa de ciúmes. Um dia, não aguentei mais e fui embora. Não me lembro exatamente para onde fui, só sei que fiquei um tempo fora e depois retornei. Meus avós não queriam que eu e meus irmãos ficassem com a minha mãe, mas quando meu avô ficou doente, tivemos que ir ficar com ela”, recorda Luiza.

    Durante o período em que ficou longe da casa de sua mãe, Luiza conheceu um garoto com quem se relacionou por alguns meses, antes de retornar à família. Aos 14 anos, ela engravidou do garoto, e a criança nasceu quando ela tinha completado 15 anos. A fim de manter mãe e filha por perto, os sogros de Luiza alugaram um apartamento para o casal. No entanto, o relacionamento foi marcado por frequentes brigas, levando à separação após pouco mais de dois meses.

    Sem um lugar para onde ir (já que sua mãe não demonstrou interesse em ajudar com a neta), Luiza passou alguns dias ao relento com a bebê. Isso levou os sogros a solicitarem a guarda da criança, o que Luiza aceitou devido à impossibilidade de cuidar dela. Durante dois anos, ela ficou longe de sua filha.

    A partir desse ponto, Luiza alternou entre a casa de sua mãe e a de outros parentes, conhecidos e namorados. Ela completou o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), trabalhou em um restaurante, mas ainda assim não tinha um lar ou uma família estável.

    Em setembro de 2022, enquanto vivia com um namorado, Luiza começou a ouvir rumores de que sua mãe havia partido e deixado os filhos para trás. A mãe, que era dependente química e fazia uso de medicamentos controlados, havia aumentado o consumo de drogas desde a morte do marido, cerca de dois anos antes.

    Após a partida da mãe, um dos filhos ficou abandonado nas ruas da Zona Oeste. Ele estava brincando bola com amigos e, ao retornar para casa, encontrou a porta aberta e o cômodo vazio. Informado pelos vizinhos sobre a saída da mãe, ele vagou pelas ruas por 10 dias até ser abrigado por uma vizinha e posteriormente acolhido pelo Conselho Tutelar. Atualmente, ele está sob adoção ou espera encontrar um parente que possa cuidar dele até completar 18 anos.

    “Não levo para o coração tudo o que minha mãe fez comigo. Ela não cuidou de mim, tentou me entregar para outras pessoas quando nasci, afirmou que não tinha responsabilidade para me criar, nem para cuidar de mim e meus irmãos. Mas é isso. O que sei é que tudo o que não tive com ela, vou proporcionar à minha filha: amor, carinho e atenção”, afirma Luiza.

    A notícia de que seu irmão mais novo, com 10 anos de idade, está prestes a ser adotado pegou Luiza de surpresa. A notícia a deixou emocionada e triste com a separação da família, e ela teme que não consiga mais encontrar seus parentes.

    Recentemente, os sogros a convidaram para morar com eles na Zona Oeste. Na residência de dois andares, ainda em construção, vivem cinco pessoas: seu namorado, o cunhado, os pais dele e a filha, agora com três anos de idade, que chama Luiza e a avó de “mãe”. Esta é a primeira vez que Luiza tem uma família estável em quase 18 anos. E é isso que ela deseja para seu irmão.

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