Com um superávit comercial recorde, o balanço das transações externas do país registrou um déficit de US$ 3,605 bilhões em julho, conforme divulgado pelo Banco Central (BC) nesta sexta-feira (25). No mesmo mês do ano anterior, as transações correntes haviam apresentado um déficit de US$ 5,285 bilhões, englobando as trocas de mercadorias e serviços, além de transferências de renda com outras nações.
A variação anual é resultado do aumento significativo no superávit comercial, que cresceu em R$ 3,1 bilhões. Esse resultado positivo na balança comercial, que totalizou US$ 7,233 bilhões, estabeleceu um recorde para o mês de julho, de acordo com os dados históricos do BC, que começaram a ser registrados em 1995.
Por outro lado, o déficit na renda primária (envolvendo juros, lucros e dividendos de empresas) expandiu-se em US$ 1,2 bilhões no mês passado em relação a julho de 2022. Já o déficit na conta de serviços permaneceu estável.
Ao longo dos últimos 12 meses até julho, o déficit nas transações correntes atingiu US$ 51,067 bilhões, o que equivale a 2,52% do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação com o déficit de US$ 52,746 bilhões (2,64% do PIB) em junho de 2023 e o déficit de US$ 48,838 bilhões (2,71% do PIB) no mesmo período encerrado em julho de 2022.
No acumulado deste ano, o déficit é de US$ 18,174 bilhões, uma melhora em relação ao saldo negativo de US$ 20,726 bilhões nos primeiros sete meses de 2022.
Balança comercial e serviços
As exportações de bens totalizaram US$ 29,181 bilhões em julho, representando uma redução de 3,3% em comparação ao mesmo mês de 2022. Enquanto isso, as importações somaram US$ 21,948 bilhões, uma queda de 15,7% em relação a julho do ano anterior.
A diminuição no valor das exportações foi influenciada principalmente pela queda dos preços internacionais, enquanto as importações foram reduzidas devido ao menor volume importado, especialmente no setor de fertilizantes. Estes produtos foram particularmente afetados pela disputa entre Rússia e Ucrânia.
Tais resultados conduziram a um superávit recorde na balança comercial, totalizando US$ 7,233 bilhões no último mês, comparado ao superávit de US$ 4,130 bilhões em julho de 2022.
O déficit na conta de serviços, que engloba áreas como viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, atingiu US$ 3,174 bilhões em julho, mantendo-se praticamente estável em relação aos US$ 3,2 bilhões registrados no mesmo mês de 2022. Houve redução no déficit no setor de transporte e aumento nas áreas de viagens e aluguel de equipamentos.
O déficit em transportes diminuiu de US$ 1,710 bilhão em julho de 2022 para US$ 941 milhões no mês passado, representando uma redução significativa de 45%. De acordo com Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, essa melhora foi influenciada por menores gastos em frete, consequência da queda nos preços internacionais, além de uma diminuição no volume de exportações e importações.
Quanto às viagens internacionais, o setor está gradualmente se recuperando, mas o crescimento do déficit permanece abaixo dos níveis pré-pandemia de covid-19. As receitas geradas por estrangeiros que viajaram ao Brasil aumentaram 45,8% em comparação com o ano anterior, chegando a US$ 567 milhões em julho, em relação aos US$ 389 milhões no mesmo mês de 2022.
As despesas de brasileiros no exterior cresceram de US$ 1,049 bilhão em julho do ano passado para US$ 1,384 bilhão no mesmo mês de 2023, um aumento de 31,9%. Como resultado, a conta de viagens fechou o mês com um aumento de 23,7% no déficit, totalizando US$ 817 milhões, em comparação com o déficit de US$ 661 milhões em julho de 2022.
No que se refere ao aluguel de equipamentos, as despesas líquidas totalizaram US$ 1,033 bilhão, representando um aumento de 53,1% em relação a julho de 2022, quando o valor foi de US$ 675 milhões. De acordo com Rocha, não há uma tendência específica, mas um efeito pontual no mês passado.
Rendas
Em julho, o déficit na renda primária, que engloba lucros, dividendos, pagamentos de juros e salários, atingiu US$ 7,733 bilhões, um aumento de 17,7% em relação aos US$ 6,572 bilhões registrados no mesmo mês de 2022. Geralmente, essa conta apresenta déficit, uma vez que há mais investimentos de estrangeiros no Brasil – que remetem lucros para fora do país – do que de brasileiros no exterior.
As despesas líquidas com juros aumentaram de US$ 3,008 bilhões em julho de 2022 para US$ 3,766 bilhões no mês passado. Quanto aos lucros e dividendos associados aos investimentos diretos e em carteira, foi registrado um déficit de US$ 3,988 bilhões em julho deste ano, em comparação com o déficit de US$ 3,575 bilhões em julho de 2022.
A categoria de renda secundária, que engloba doações, remessas de dólares e outras transações sem contrapartida de serviços ou bens, registrou um resultado positivo de US$ 68 milhões no mês passado, em comparação com o superávit de US$ 357 milhões em julho de 2022.
Financiamento
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP), que tiveram uma baixa em junho, voltaram a crescer no mês passado, embora tenham sido menores em relação ao ano anterior. Os investimentos totalizaram US$ 4,244 bilhões em julho, frente aos US$ 1,879 bilhões de junho de 2023 e os US$ 7,205 bilhões de julho de 2022. Este foi o menor resultado em IDP desde julho de 2018, quando alcançou US$ 3,5 bilhões.
O IDP acumulado nos últimos 12 meses atingiu US$ 71,663 bilhões (3,54% do PIB) em julho de 2023, comparado com US$ 74,624 bilhões (3,74% do PIB) no mês anterior e US$ 61,664 bilhões (3,44% do PIB) no período equivalente encerrado em julho de 2022.
Quando o país registra um déficit em transações correntes, é necessário cobrir essa diferença com investimentos ou empréstimos no exterior. O IDP é uma forma de financiamento preferencial, pois os recursos são aplicados no setor produtivo e tendem a representar investimentos de longo prazo.
Quanto aos investimentos em carteira no mercado doméstico, houve saídas líquidas de US$ 333 milhões em julho de 2023, com saídas de US$ 1,701 bilhão em títulos de dívida e entradas de US$ 1,368 bilhão em ações e fundos de investimento.
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 345,476 bilhões em julho, representando um aumento de US$ 1,9 bilhão em comparação com o mês anterior.
Revisão ordinária
Os dados mensais divulgados pelo BC são preliminares e passam por revisões ordinárias. A Política de Revisão das Estatísticas Econômicas Oficiais Compiladas pelo Departamento de Estatísticas do Banco Central determina uma revisão ordinária anual do balanço de pagamentos e da posição de investimento internacional nos meses de julho e novembro. Neste ano, excepcionalmente devido à operação padrão dos servidores do BC, a revisão ordinária foi publicada em agosto.
Para o ano de 2022, a revisão das estatísticas do setor externo resultou em uma redução de US$ 3,4 bilhões no déficit em transações correntes, que passou de US$ 57 bilhões (3% do PIB) para US$ 53,6 bilhões (2,8% do PIB). O ingresso líquido de IDP em 2022 também foi revisado para baixo, de US$ 91,5 bilhões (4,8% do PIB) para US$ 87,2 bilhões (4,5% do PIB).
Essas revisões também impactaram as estatísticas do setor externo para o primeiro semestre de 2023. O déficit em transações correntes desse período foi revisto de US$ 13,8 bilhões para US$ 14,6 bilhões. Nos seis primeiros meses do ano, o IDP passou a acumular ingressos líquidos de US$ 29,4 bilhões, com uma redução de US$ 2,2 bilhões.