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Chacina de Vigário: placa com os nomes das 21 vítimas assassinadas há 30 anos ficará em praça do bairro

Corpos de 18 das 21 vítimas da chacina de Vigário Geral: moradores foram assassinados na madrugada de 29 de agosto de 1993, em vingança pela morte de PMs — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O autônomo Cláudio Marco Alves assistia a um programa na TV, sentado no sofá de casa, quando perto da meia-noite, no dia 29 de agosto de 1993, teve a atenção desviada pelo barulho de tiros. À época com 25 anos, a primeira coisa que lhe veio à cabeça foi que o irmão, o gráfico Cléber Alves, dois anos mais novo que ele, ainda estava na rua.

Quase três horas depois, ao perceber que os tiros haviam cessado, correu com um amigo em busca de Cléber. A cerca de um quilômetro de casa, encontrou o irmão morto. O rapaz foi uma das 21vítimas da chacina de Vigário Geral, na Zona Norte do Rio. Trinta anos depois, Cláudio se emociona ao lembrar da cena que chocou o país e o mundo: 18 caixões, lado a lado, com os corpos dos moradores executados por policiais militares na favela.

— Conhecia todos que morreram. Na favela é assim, todos se conhecem. Somos uma grande família. Além do meu irmão, perdi dois grandes amigos, amigos de zoeira, do futebol. Cresceram comigo. Todos eram inocentes. Até hoje não nos recuperamos dessa dor — recorda-se Cláudio que, atualmente com 55 anos, é quem cuida da mãe, de 88. — Daqui de casa, era meu pai que corria em busca de Justiça, mas ele se foi. Minha mãe caiu doente e, até hoje, só quer meu irmão de volta. Amanhã (hoje) será mais um dia de tristeza, mas é necessário. Ninguém pode esquecer do que houve aqui.

A chacina de Vigário Geral foi planejada no dia seguinte à execução de quatro policiais militares na Praça Catolé do Rocha, no mesmo bairro, mas que fica do outro lado da ferrovia. Entre as vítimas, havia uma família de oito evangélicos e um grupo de sete amigos que se reunia num bar frequentemente depois do trabalho, quase num ritual, para jogar sueca e beber uns goles de cachaça. Também tinha gente que havia ido ao baile funk, como Cléber, e aqueles que ainda voltavam do trabalho.

Segundo as investigações, 36 homens invadiram a favela e atacaram inocentes para se vingar do assassinato dos quatro PMs mortos na Catolé do Rocha na véspera. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou 51 pessoas pelo massacre. Houve dois julgamentos e, no final, o resultado foi a condenação de sete deles. Um dos denunciados sequer foi julgado, porque fugiu do hospital, onde estava custodiado, mantendo-se escondido até a prescrição do crime.

Assistente de acusação da chacina, a advogada e consultora de direitos humanos Cristina Leonardo ressalta que a data do massacre não pode ser esquecida. Hoje, às 16h, será inaugurado o Monumento em Homenagem às Vítimas da Chacina de Vigário Geral, na Praça Catolé do Rocha. A Secretaria Municipal de Conservação instalou uma placa com os 21 nomes dos moradores assassinados.


Placa com os nomes das 21 vítimas do massacre ficará instalada na Praça Catolé do Rocha, em Vigário Geral — Foto: Reprodução

Cristo Redentor Iluminado

A partir das 19h, a iluminação do Cristo Redentor mudará, e o monumento “se vestirá” de verde, simbolizando a esperança por dias melhores e em prol da justiça e da paz. Em seguida, às 19h30, haverá uma missa celebrada pelo arcebispo do Rio, cardeal Orani João Tempesta, na favela de Vigário Geral.

Ainda de acordo com Cristina Leonardo, houve retrocesso nos últimos quatro anos em relação às conquistas sociais e de justiça na área dos direitos humanos, o que impacta diretamente os mais vulneráveis:

— As populações pobres trabalhadoras estão vivendo à margem de todos seus direitos garantido pela Constituição. Acredito que só a união das favelas, mostrando poder e mais articulação, cobrando do governo federal uma discussão ampla e inclusiva sobre o atual modelo de policiamento nas favelas e fora delas, fará com que o Brasil deixe esse círculo vicioso de violência letal que vivemos nos últimos anos.

Fonte: EXTRA

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