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Pandemia eleva consumo de ultraprocessados no Brasil, revela pesquisa

A pandemia de covid-19 teve um impacto adverso no padrão alimentar da população brasileira, resultando em um aumento significativo no consumo de alimentos ultraprocessados, de acordo com um estudo realizado em colaboração entre pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os dados foram coletados pelo Instituto Datafolha em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, ao longo dos anos de 2019, 2020 e 2021, utilizando amostras representativas da população adulta.

O estudo revela impactos variados, dependendo das fases da pandemia, bem como mudanças no comportamento alimentar relacionadas à deterioração das condições financeiras. Nos primeiros anos da pesquisa, observou-se um aumento notável no consumo de cereais, leite, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados e molhos industrializados, em contraste com uma redução no consumo de ovos.

Quando comparamos os anos de 2019 e 2021 e também 2020 e 2021, notamos uma queda significativa no consumo de cereais, hortaliças, frutas e sucos de frutas industrializados, acompanhada por um aumento no consumo de refrigerantes, biscoitos doces, recheados ou bolinhos de pacote, produtos embutidos, molhos e refeições prontas.

A nutricionista Giovanna Andrade, membro do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), ressaltou que, nos primeiros anos da pandemia, o consumo de alimentos em casa favoreceu um aumento no consumo de frutas e hortaliças, embora tenha ocorrido também um aumento em algumas categorias de alimentos ultraprocessados. Esse padrão de comportamento alimentar foi observado em todo o mundo.

O estudo enfatiza que o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados já era uma tendência no Brasil, mas a pandemia acelerou esse processo.

Durante a pesquisa, os participantes foram questionados sobre os alimentos consumidos no dia anterior à pesquisa. Os resultados mostraram um aumento no consumo de refrigerantes, passando de 33,2% em 2019 para 42,4% em 2021. Além disso, os produtos ultraprocessados mais consumidos incluíram margarina, maionese, ketchup e outros molhos industrializados, com um aumento de 50% em 2019 para 58,6% em 2021.

Em relação às mudanças nos hábitos alimentares, 46% dos entrevistados relataram consumir mais alimentos preparados em casa durante a pandemia, enquanto 48,6% afirmaram ter alterado seus hábitos alimentares devido à covid-19. Os principais motivos para essas mudanças foram uma maior preocupação com a saúde (39,1%) e a redução da renda familiar (30,2%).

Para aqueles que alegaram uma diminuição na renda familiar como principal motivo para mudar seus hábitos alimentares durante a pandemia, a pesquisa revelou uma redução no consumo de alimentos frescos e minimamente processados, como carne bovina e suína, peixe, frutas e leite. No entanto, esse grupo também aumentou o consumo de alimentos ultraprocessados, o que sugere desafios de acesso a alimentos adequados para uma parcela significativa da população.

A nutricionista Giovanna Andrade enfatiza a gravidade dessa situação, destacando que a falta de uma dieta equilibrada pode levar ao aumento de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, hipertensão e câncer. Ela insta os governos a atuarem para garantir uma alimentação adequada.

A pesquisa alerta para as consequências a longo prazo dessas mudanças nos padrões alimentares durante a pandemia, indicando que, no futuro, elas podem afetar negativamente a saúde da população. Embora as alterações tenham sido consideradas pequenas devido ao curto período entre as coletas de dados, elas foram estatisticamente significativas e preocupantes, pois o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados está associado a uma deterioração no perfil nutricional da dieta.

A nutricionista ressalta que os alimentos ultraprocessados são prejudiciais à saúde devido à sua alta palatabilidade e aditivos alimentares, sendo associados a diferentes tipos de câncer, obesidade, síndrome metabólica e diabetes. O Guia Alimentar da População Brasileira recomenda uma dieta baseada em alimentos in natura e minimamente processados, enfatizando a importância de escolher alimentos reais, como arroz, feijão, frutas e hortaliças. O estudo também destaca que o marketing de alimentos ultraprocessados se beneficiou durante a pandemia, uma vez que esses produtos são menos perecíveis e podem ser uma opção conveniente durante o distanciamento social.

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