21.6 C
Maricá
sexta-feira, novembro 22, 2024
More
    InícioCaso de PolíciaInternet controlada por facções dificulta instalação de câmeras em fardas de PMs...

    Internet controlada por facções dificulta instalação de câmeras em fardas de PMs das UPPs do Rio

    Data:

    Últimas Notícias

    Gated interrompe obra irregular em área de proteção ambiental na Divinéia

    Nesta quinta-feira (21/11), o Grupo de Apoio Técnico Especializado...

    Primeiro Seminário de Fotografia valoriza talentos locais

    Na próxima terça-feira (26/11), Maricá sediará o primeiro Seminário...

    Operação em Maricá resulta na apreensão de motos irregulares

    Uma operação integrada realizada nesta quarta-feira, 20, em Maricá,...
    Policial militar de UPP usa câmera acoplada na farda durante patrulhamento no Pavão-Pavãozinho e no Cantagalo, onde o sinal de internet é distribuído pelo tráfico: solução foi usar chip 4G — Foto: Gabriel de Paiva

    Determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a instalação de câmeras nos uniformes dos policiais do Rio está esbarrando na realidade das favelas fluminenses: como a distribuição do sinal de internet é controlada por traficantes e milicianos nesses territórios, as autoridades estão buscando soluções tecnológicas para conseguir conectividade e, assim, manter o sistema em funcionamento. O obstáculo foi verificado nos morros do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo, em Copacabana e Ipanema, na Zona Sul, que conta uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde 2009, e no Jacarezinho, na Zona Norte, onde o programa está desde 2013. O planejamento do governo prevê ter, até dezembro, as equipes de todas as 29 unidades no estado portando o dispositivo, que transmitirá as imagens em tempo real para o Centro Integrado de Controle e Comando (CICC).

    À frente dos projetos de modernização tecnológica da Secretaria de Estado de Polícia Militar, o subsecretário do CICC, coronel Rodrigo Laviola, disse que, para vencer o obstáculo, os policiais que atuam no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo e no Jacarezinho precisaram, inicialmente, recorrer a chips 3G e 4G. As duas UPPs são as primeiras a adotar as câmeras nos uniformes.

    — É tudo muito novo, e os desafios são muitos. A dificuldade maior é a transmissão das imagens captadas pelas câmeras para a nuvem, onde os vídeos ficam armazenados. Isso só ocorre com uma rede de internet rápida, de qualidade e confiável. Daí, a empresa (que venceu a licitação para prestar o serviço) precisou arrumar uma solução. Não podíamos pagar por uma internet ilegal — ressaltou Laviola, que apresentou o problema ao STF, por conta da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, ação judicial que visa à redução da letalidade policial nas favelas.

    Sem operadoras legais

    Na maioria das favelas, nenhuma empresa de internet tem autorização para fornecer o serviço. O sinal é clandestino e distribuído pelos bandidos. Rafael Grande, diretor da Vertical Segurança Eletrônica e Data Center, da L8 Group (responsável pela instalação do sistema de câmeras corporais), explicou que, apesar de o grupo ter 34 operadoras conveniadas no projeto, nenhuma disponibiliza o serviço nas duas comunidades.

    — As imagens precisam subir da base (instalada numa sala) dezenas e dezenas de vídeos de um grande número de câmeras, que precisam ir, por meio de uma rede de internet, para a nuvem. O Rio tem um problema crônico de conectividade. Nossa prioridade é instalar fibra ótica nessas bases, onde ficam as câmeras, para não ter dificuldade na transmissão. Quando a gente não consegue, o jeito é usar a internet via satélite e trabalhar com o sistema 4G. É o caso das UPPs. Os chips são colocados de acordo com o melhor sinal da operadora para cada região. São estratégias que adotamos — explicou Grande.

    O painel onde ficam os celulares para ser feita a transmissão das imagens para a nuvem — Foto: Gabriel de Paiva
    O painel onde ficam os celulares para ser feita a transmissão das imagens para a nuvem — Foto: Gabriel de Paiva

    Segundo o empresário, inicialmente, nenhuma operadora se dispôs a entregar o serviço nas UPPs:

    — Tivemos muita dificuldade no Pavão-Pavãozinho e no Jacarezinho. Só agora conseguimos instalar fibra ótica. Você não vai botar a internet do tráfico numa unidade da PM. A nossa política é de atuar na legalidade.

    Os problemas não se restringiram às UPPs. Em quartéis da PM que são tombados pelo patrimônio histórico e nos postos do Comando de Polícia Rodoviário (CPRV) em estradas, também é difícil equipar a base — onde as câmeras são colocadas após o uso para ser feita a transmissão das imagens. Hoje já são 170. Além das UPPs, até dezembro, os batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Policiamento de Choque (BPChoque) deverão estar com suas equipes usando as câmeras.

    Vencida a barreira da conectividade, surge um outro obstáculo. No mês passado, a Defensoria Pública do Rio divulgou um relatório, entregue ao STF, no qual apontou o mau uso do equipamento pela tropa e a falta de transparência no envio das imagens para investigações. De acordo com o órgão, há casos de PMs que retiram o equipamento do uniforme e o colocam no porta-luvas da viatura. Outro subterfúgio é simplesmente tampar a lente da câmera.

    Imagens apagadas

    O levantamento da Defensoria tomou por base 90 requisições feitas à PM, de 27 de abril a 31 de julho. Deste total, 51 não foram respondidas. Em apenas três, apareciam a abordagem policial e a prisão do suspeito. A maioria foi apagada, por ter se esgotado o prazo de 60 dias para armazenagem das imagens, embora fosse o registro de um crime. Neste caso, já existe uma orientação da PM para o policial apertar um botão — chamado de modo ocorrência —, quando estiver envolvido em um caso que resulte em investigação. Assim, o vídeo fica guardado, no mínimo, por um ano.

    Em 30 de agosto, o secretário estadual de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, reeditou uma resolução que reforça a ordem de acionar o modo ocorrência. A novidade é que o serviço 190 irá avisar o PM para apertar o botão.

    — O policial não pode se esquecer dessa regra de ouro: apertar o botão, em caso de ocorrência. O uso adequado das câmeras é uma garantia para eles próprios de que agem corretamente — disse o secretário, ressaltando que a meta é fechar o ano com 13.500 câmeras.

    Foram 42 punições

    De julho de 2022 a agosto deste ano, a Corregedoria-Geral da PM recebeu 940 requisições de imagens de delegacias, do Ministério Público, do Tribunal de Justiça e da Defensoria Pública. Já para apurar supostas falhas cometidas por policiais foram instaurados 470 Documentos de Razão de Defesa (DRDs): 286 aguardam solução; a defesa foi aceita em 142; e ocorreram punições em 42.

    — Nos casos mais graves, são instaurados inquéritos policiais militares. Se for constatada falta grave, o policial pode ser excluído — disse o corregedor-geral da PM, coronel Márcio César Monteiro.

    Para o titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Alexandre Herdy, as imagens feitas pelos policiais “contribuem decisivamente nas investigações”:

    — Temos recebido as imagens da corregedoria de imediato. Não é um cineminha. Então, precisamos de provas complementares.

    Das três requisições que pediu, a juíza da 3ª Vara Criminal de Niterói, Nearis Arce, recebeu só um vídeo:

    — Tive dificuldades de ter acesso às imagens. Com o passar do tempo, acredito que o sistema se automatize, pois elas demoram para chegar e, quando vêm, a resposta é de que elas foram apagadas — disse Nearis.

    O juiz da 1ª Vara Criminal de Itaboraí, Daniel Fonseca, destacou que, numa apreensão de drogas, as imagens ajudaram a elucidar o caso.

    — O réu afirmou que o policial havia forjado um flagrante de drogas, quando as imagens comprovaram o contrário. Pelo que tenho visto, a câmera vai mostrar não que o PM seja bandido, mas que ele é despreparado — opinou o juiz.

    Para o Ministério Público, as câmeras também são um importante avanço:

    — A PM vem se esforçando, mas fica claro que o volume de informações e as demandas têm sido grandes. Precisam de tempo para se adequar — avaliou Paulo Roberto Mello Cunha Júnior, promotor junto à Auditoria Militar.

    Fonte: EXTRA

    spot_imgspot_img

    +Populares

    spot_img

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui