O servidor da Secretaria municipal de Fazenda Nelson Ribeiro do Nascimento foi encaminhado à Draco para prestar esclarecimentos — Foto: Reprodução
Nelson Ribeiro do Nascimento, figura conhecida pela orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, tinha o hábito de ameaçar professores e donos de estabelecimentos na praia. Servidor da prefeitura, ele era o responsável pela fiscalização da orla. Segundo denúncias, no entanto, ele aproveitava o cargo para ganhar dinheiro de forma ilícita. Uma das vítimas, que não quis se identificar, contou ao GLOBO que Nelson agia sempre de maneira hostil e aparecia “do nada” para cobrar uma taxa de 10% da mensalidade para autorizar a prática de atividades esportivas. Nelson é servidor da Secretaria municipal de Fazenda lotado na Coordenadoria de Controle Urbano (CCU) e com um salário de R$ 13 mil. Ele foi afastado de seu cargo nesta quarta-feira, após uma operação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) com o apoio da Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop).
— Ele cobrava da gente desde 2019. Na época, se apresentou como fiscal da Prefeitura. Foi apenas um tempo depois que me inteirei de como funcionavam as coisas e tirei o alvará para o meu espaço. Eu não tinha que pagar nada a ele. Quando disse isso, ele passou a dizer: “Não vai pagar, então você vai ver o que vai acontecer”. Além de mim, sei de outros três pontos que eram cobrados por ele também — conta.
As investigações da Draco começaram há um ano, após uma denúncia feita pela própria prefeitura, e indicaram que os crimes eram cometidos contra os responsáveis por aulas de diversas modalidades esportivas ao longo da orla da Barra da Tijuca — como beach tennis, vôlei de praia e treinamento funcional, entre outros.
André Neves, delegado titular da Draco, afirma que Nelson se “autointitulava o presidente, o responsável por toda a orla”:
— Esse funcionário da prefeitura atuava à margem da lei, extorquindo diversos comerciantes em toda a orla. O foco principal deles são os estabelecimentos e pessoas que atuavam praticando esportes. Temos diálogos e depoimentos. Exigia 10% de todo o faturamento e a grade de alunos. Ele também questionava quando o valor estava baixo, dizia que no mês anterior tinha sido maior. Ele se intitula dono do local — explicou.
Se autointitulava o presidente, o responsável por toda a orla da Barra
— André Neves, delegado
— Apenas uma pessoa afirmou aqui em depoimento na notícia de policial. Que pagava quatro mil reais mensais, 10% do que era levantado por essa escola de prática esportiva. Foram diversas pessoas sendo extorquidas por esse servidor. Que, na verdade, atua à margem da lei ao invés de reprimir, fiscalizar e atuar nos ditames legais. Preferiu esse caminho e está sendo reprimido não só pela Corregedoria da própria Prefeitura, como pela Polícia Civil. Após a conclusão, o inquérito policial certamente imputará diversos crimes praticados por ele.
Mandados de busca e apreensão
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Nascimento na Barra e em Jacarepaguá, também na Zona Oeste. Além dos mandados de busca, a 23ª Vara Criminal da Capital determinou o afastamento imediato do servidor das funções de fiscalização. As equipes também foram até a sede da Prefeitura, na Cidade Nova, região central, visando a obter provas que auxiliem nas investigações.
— O juízo determinou não só a busca e apreensão, como o afastamento deles das funções fiscalizatórias. Então, ele já não pode exercer isso, cessando essas ameaças, essas extorsões praticadas — explicou o delegado.
Durante as buscas, foram apreendidos telefones, documentos e eletrônicos na residência de Nascimento. O inquérito policial prossegue visando apurar o possível envolvimento de outros servidores nos crimes e a identificação de todas as vítimas das extorsões.
Fonte: EXTRA