Meu filho foi covardemente assassinado”, desabafou o pai de Caíque Porfírio da Silva, de 18 anos, que desapareceu juntamente com seu primo, Kauã Porfírio Carrilho, de 19 anos, na última segunda-feira (11) no Buraco do Boi, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Em uma entrevista ao DIA, o pai acredita que seu filho foi erroneamente associado à facção criminosa Comando Vermelho simplesmente por ter tirado uma foto fazendo o gesto do número 2 com as mãos. “Tudo 2” é uma gíria usada por membros dessa organização, simbolizando as letras C e V.
O pai expressou sua frustração em relação à resposta da polícia: “A polícia não está resolvendo nada. Meu filho faz esse gesto desde os 10 anos de idade, os covardes criminosos viram meu filho fazendo o gesto e o acusaram de fazer parte do Comando Vermelho. Meu filho não tinha conhecimento sobre isso, ele é apenas um jovem. Mataram meu filho de forma covarde, e ele está desaparecido desde segunda-feira, enquanto a polícia não toma medidas efetivas, apenas nos diz para esperar.”
Ele também revelou ter sido ameaçado de morte quando tentou procurar seu filho na comunidade: “Um criminoso ficou cara a cara comigo, me ameaçou, disse que mataria minha família, todos nós, e que o corpo estava lá. Há dois blindados na entrada da favela, então eu não entendo, o que eles (os policiais) estão fazendo? Protegendo a favela? Porque eles (criminosos) estão matando jovens lá dentro e os policiais não podem entrar para investigar. Eu tenho fotos, tenho provas, e eles não fazem nada”, desabafou com indignação.
De acordo com os familiares, moradores da comunidade relataram que criminosos rivais do Terceiro Comando Puro (TCP) invadiram a área e podem ter confundido os jovens com membros do Comando Vermelho.
Relatos também indicam que pelo menos sete assassinatos ocorreram na comunidade em menos de uma semana de conflitos entre facções. No sábado, uma pessoa teria sido morta, no domingo (10), outras duas mortes teriam ocorrido, e na segunda-feira (11), mais quatro. No entanto, nenhum corpo foi encontrado ou resgatado no local.
O pai de Caíque explicou que eles são moradores do bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu, e que seu filho e o primo frequentavam a comunidade devido à amizade que tinham lá.
“Nós sempre moramos aqui, desde criança, em Miguel Couto, enquanto o Buraco do Boi fica mais adentro. Meu filho sempre ia lá, convivia, namorava e tinha amigos naquela comunidade. Infelizmente, na segunda-feira, ele não voltou. Cometeram uma injustiça terrível com ele, esses criminosos que vieram de Parada de Lucas falando em tomar controle de tudo. Eles trouxeram reforços aqui e entraram em conflito, pegando meu filho, que era inocente”, lamentou.
A mãe de Kauã, Graciele Muniz, que esteve na delegacia na sexta-feira (15) em busca de respostas, enfatizou que os jovens não tinham envolvimento com atividades criminosas e ainda frequentavam uma escola da região.
“Eles não tinham qualquer envolvimento com drogas ou tráfico, não estavam envolvidos em nada disso. Eles eram conhecidos em diversos lugares, e não havia motivo algum para alguém fazer isso com eles. Ouvi dizer que pessoas de outra comunidade vieram e não os reconheceram. Estamos buscando respostas desde segunda-feira”, lamentou.
A Polícia Militar afirmou que tomou conhecimento do caso somente na quinta-feira (14), quando foi acionada por populares devido a uma obstrução na Avenida Henrique Duque Estrada Meyer, em frente à 58ª Delegacia de Polícia (Nova Iguaçu). Ao chegarem ao local, os agentes foram informados pelos manifestantes sobre o desaparecimento dos dois jovens na Comunidade do Buraco do Boi, após o que a polícia militar tomou conhecimento do caso.
A Polícia Civil, procurada para comentar, informou que a ocorrência foi registrada na 58ª DP (Posse) e encaminhada ao Setor de Descoberta de Paradeiros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que segue com as investigações para localizar os jovens desaparecidos.