Granada caseira atirada em ônibus durante arrastão deixa 3 feridos na Zona Norte, 1 em estado grave. Na foto, como ficou o ônibus depois da granada caseira detonada dentro da garagem da empresa Pegasus. — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Mais uma vez o governo federal vai oferecer ao Rio apoio para conter a violência urbana. A Força Nacional deverá atuar no Complexo da Maré, onde traficantes de diferentes comunidades aprendem táticas de guerrilha num centro de treinamento. Hoje, o governador Cláudio Castro se reúne com o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, para alinhar como será essa cooperação. Também será discutido hoje o uso de drones e câmeras de reconhecimento facial, para facilitar o cumprimento de mandados de prisão. Castro pretende ainda pedir a liberação de oito veículos blindados da PRF que não estão sendo usados. A Marinha poderá atuar na Baía de Guanabara, ao longo do conjunto de favelas. A primeira medida será a retirada de barricadas.
Outra ação, como antecipou o colunista do GLOBO Bernardo Mello Franco, será da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no reforço do policiamento na Avenida Brasil, onde anteontem bandidos jogaram uma bomba caseira num ônibus cheio de passageiros.
Três feridos
Em nota, o governo do Rio informou que as ações na Maré serão conjuntas com as polícias estaduais. A ocupação das favelas está descartada num primeiro momento. A opção seria fazer operações diárias.
Veja como ficou o ônibus após ataque de criminosos na Zona Norte do Rio
.O ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou o reforço da Avenida Brasil por agentes da PRF — corporação que esteve envolvida na morte de dois inocentes nos últimos três meses no Rio — no dia seguinte ao ataque que deixou três passageiros feridos. Cerca de dez bandidos fecharam a via expressa, na altura de Costa Barros, por volta das 21h30, e invadiram um ônibus da linha 771 (Campo Grande-Coelho Neto). Seguiram-se, então, momentos de terror. Depois de fazer ameaças e roubar os pertences de todos, um dos criminosos lançou uma bomba artesanal dentro do veículo. O motorista, que já tinha sido assaltado outras duas vezes, contou como foi ficar sob a mira de uma pistola:
— Deu uma tremedeira, porque você está no volante e fica preso, não pode correr para lá nem para cá, não dá para abandonar o carro. Fica aquela imagem: o cara com a pistola apontando para você e você sem poder fazer nada. Só tinha um armado, o resto tacou pedra e invadiu o carro. “Vou matar, vou matar”, diziam.
Os passageiros Eduardo Vieira Pontes, de 61 anos, e Luís Silva, de 65 anos, continuavam internados ontem à noite no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. A telefonista Elaine Ivo, de 35, já teve alta, mas está com muito medo. Moradora de Bangu, na Zona Oeste, ela passa todos os dias pela Avenida Brasil para chegar ao trabalho, em Botafogo, na Zona Sul.
— Estou sentindo muita dor nas costas, muita dor de cabeça, além da queimadura nos braços. Quando (a bomba) explodiu, eu não desmaiei. Só senti que o sangue estava escorrendo. Pensei que era tiro, mas depois que fui ver que era bomba — disse a telefonista. — Eu vou ficar com medo de passar ali, mas não tenho escolha. Não sei o que vou fazer, mas não estou pronta.
A bomba no ônibus seria reflexo da guerra travada entre traficantes do Morro do Chapadão e do Complexo da Pedreira, que ficam em Costa Barros, Barros Filho e Pavuna, de acordo com o RJ2. Essa disputa por território tem espalhado o medo nos bairros. Na segunda-feira, uma das quadrilhas chegou a interceptar um trem e incendiou um outro ônibus. Ontem, em mais um confronto, um morador foi morto. Joel Luiz Rodrigues da Silva, de 67 anos, teria sido confundido como um criminoso rival.
A cerca de 20 quilômetros de onde houve o ataque, seguindo pela Avenida Brasil, fica o Complexo da Maré. Por pouco mais de um ano, em 2014 e 2015, militares do Exército ocuparam a comunidade mediante uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que dava a eles o poder de polícia. As ações, que resultaram em centenas de prisões, não deram um fim ao controle dos bandidos. Forças federais já atuaram no Rio em 20 ocasiões desde 1992.
Outro ataque em Caxias
Sobre a atuação da Força Nacional na Maré, o coronel da PM da reserva Robson Rodrigues diz que é preciso impedir a chegada de armas e drogas à favela:
— O grande problema será a sustentação da operação. Isso aconteceu em outras vezes, quando os criminosos aguardaram uma fragilização para retomar o território.
Para o ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Paulo Storani, o patrulhamento na Maré é muito difícil:
— A concentração populacional é muito grande, o que aumenta o risco de morte indevida. A Maré é um centro de receptação e distribuição de drogas e armas.
Além da Maré e de Costa Barros, outras regiões enfrentam as ameaças dos confrontos. Ontem, em Duque de Caxias, na Baixada, bandidos queimaram dois ônibus e um carro na comunidade Pantanal durante um conflito entre traficantes e milicianos. Não houve feridos.
De um lado dessa disputa está Leandro Santos Sabino, que tem quatro mandados de prisão em seu nome. Ele é um dos dois acusados pela morte das primas Emily Victória da Silva Moreira, de 4 anos, e Rebeca Beatriz Rodrigues, de 7, atingidas por um tiro de fuzil na porta de casa em 2020.
De acordo com a Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio (Semove), este ano 22 ônibus foram incendiados no estado.
Fonte: EXTRA