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FLIM 2023: Luta contra o racismo e defesa dos povos indígenas foram assuntos das rodas de conversa desta quinta-feira (28/09)

Fotos de Clarildo Menezes

As duas rodas de conversa que lotaram nesta quinta-feira (28/09) a Arena Gilberto Gil, no 11º dia da Festa Literária Internacional de Maricá (FLIM), abordaram a ancestralidade de povos indígenas e afro-brasileiros. Na principal delas, a escritora e ativista Conceição Evaristo e o professor e doutor em linguística Daniel Munduruku debateram sobre o tema ‘Vozes que Não Calam: Cultura e Identidades Indígenas e Afro-Brasileiras’. Antes, seis escritoras pretas falaram sobre preconceito e ensino da negritude nas escolas sob o tema “Mulheres Negras na Literatura”.

Já na subida ao palco, Conceição e Daniel foram aplaudidos de pé pelo público. A ativista, que é moradora do bairro da Divinéia (próximo à Barra de Maricá), falou sobre o conceito de “escrevivência”, no qual ela escreve a partir de relatos do sofrimento do povo preto, e também criticou a aprovação do marco temporal pelo Senado, mesmo após a derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“A demarcação deveria acontecer nas terras dos brancos, isso sim! O país de construiu na tentativa de dizimar os povos originários”, lembrou Conceição que, ao falar sobre a escola, revelou que está escrevendo um rap em parceria com o cantor e compositor paulistano Emicida. “Pedi a ele para fazer as marcações musicais que não conheço. Isso é resultado da renovação que a vivência escolar proporciona. A sala de aula é um lugar que renova, o jovem me potencializa”, afirmou ela.

Para Daniel Munduruku, que também está na novela global ‘Terra e Paixão’ como o sensitivo pajé da aldeia indígena, também exaltou o ambiente escolar e, ao mesmo tempo, criticou a falta de renovação em sua estrutura. “Professores promovem revoluções, trabalham com rebeldia. A escola é um lugar de mudança, mas é o que menos muda na sociedade, e isso se faz necessário”, alertou o professor, que reforçou a ideia de revisão da história dos povos originários.

“A narrativa da história criou uma sociedade preconceituosa e nociva, por isso vivemos uma permanente luta de classes no Brasil, em razão desse discurso hegemônico. Enquanto o sistema não educar com foco no gosto pelas coisas do Brasil, isso só vai piorar. É uma país que tem vocação para a felicidade, mas que tem uma dívida histórica com o nosso povo”, declarou Daniel, que também parabenizou a iniciativa da Mumbuca Literária, voltada para compra de livros na FLIM.

Ao final das falas, os dois palestrantes ouviram perguntas da plateia e Daniel recebeu uma carta das mãos do pequeno Saulo Rafael Meirelles, que tem 8 anos e mora no bairro Boa Vista, em São Gonçalo. A estudante Júlia Quintanilha, de 17 anos, também fez uma pergunta para os dois e disse estar realizada por estar diante deles. “Durante o ensino médio, fiz parte de núcleos de estudos sobre indígenas e afro-brasileiros. Eles são pessoas de referência para mim e estar aqui é importante porque posso ouví-los fora dos livros, falando coisa que li e vivencio, também é importante para a cidade ter os dois aqui”, exaltou a moradora do Jardim Interlagos, que estuda no Instituto Federal Fluminense (IFF).

Conceição Evaristo e Daniel Munduruku também autografaram seus livros disponíveis na feira e também tiraram fotos com a plateia. O professor indígena afirmou que a exposição na TV ajuda a divulgar seu trabalho em defesa dos povos originários. “Sinto que as pessoas vêm nos assistir com mais conhecimento, e é sempre um prazer participar de um evento onde nossa causa é reconhecida, como a FLIM”, ressaltou ele, enquanto Conceição classificou o evento como proveitoso. “É uma troca de energia muito forte com o público e, de novo, Maricá dando exemplo de organização com este evento”, elogiou.

Mulheres negras na Literatura

Na primeira roda de conversa, as escritoras Sandra Rangel, Natália Carlos, Vanessa Soares (neta da cantora Elza Soares), Val Pires, Walkíria Nichteroy e Vilma Piedade falaram sobre a luta contra o racismo na sociedade e também na escola. Já na abertura Sandra classificou aquela mesa como histórica.

“É uma marca na história da FLIM, uma mesa feminina e de cor. Estamos representando aqui todas as mulheres negras e escritoras, e quando uma mulher chega é para mudar o lugar onde está”, afirmou a pedagoga e mestre em Ciências da Religião.

Por sua vez, a professora e mestre em Ciência da Literatura Vilma Piedade também ressaltou o importância da Mumbuca Literária distribuída a alunos da rede municipal de ensino para a FLIM. “Esse voucher foi uma iniciativa excelente! Você circula pelo evento e vê muita criança comprando livros. Educação forma cidadãos e eventos como este são a raiz desse processo”, reforçou

Sobre a Flim 2023

Em uma área de seis mil metros quadrados na Praça dos Gaviões, em Itaipuaçu, a 8ª edição da FLIM tem uma estrutura com mais de 60 editoras e espaços especiais dedicados a diferentes públicos, do infanto-juvenil ao adulto. O Espaço Criança abriga a Vila Pé de Maricá, em alusão à árvore que dá nome ao município, conta com 76 estandes dedicados ao público infanto-juvenil. Já o espaço Porão Cultural é reservado para apresentações de artistas locais de diferentes vertentes. A Tenda Literária abriga 154 estandes de vendas de livros e na Tenda Festart há um amplo espaço com puffs para descanso. A Tenda Codemar + Recarregue-se é um local com redes, cadeiras de praia e tomadas para recarregar a energia e os aparelhos celulares.

Serviço

Festa Literária Internacional de Maricá – FLIM
Até 1º de outubro (domingo)
Horário: 8h às 20h
Endereço: Praça dos Gaviões, em Itaipuaçu

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