O antropólogo Robson Rodrigues: 'Estou ansioso por planos específicos contra a criminalidade mais violenta' — Foto: Julio Cesar Guimaraes
O antropólogo Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da PM fluminense, afirma estar cético quanto às medidas emergenciais anunciadas até agora pelos governos federal e estadual para enfrentamento à violência no Rio. Para ele, ações como o apoio da Força Nacional e o envio de viaturas ao estado não representam novidades na política de segurança, repetindo o que já foi feito em outros momentos críticos. Para o especialista, no entanto, são mais estruturantes, com impacto a longo prazo, as prioridades apresentadas pelo Ministério da Justiça no Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Enfoc), que visam fortalecer a investigação criminal, a atividade de inteligência e o enfrentamento sistêmico das organizações criminosas no país.
Entre as medidas emergenciais, ele destaca como positivo o plano de ampliar a articulação entre as agências de inteligência federais e estaduais. Mas afirma que, de forma geral, falta clareza nos objetivos do pedido de reforço na segurança feito pelo Estado à União, que, por sua vez, na opinião dele, “tirou o corpo fora”.
— Foi uma decisão dele (governo federal), dizendo que somente apoiou quem fez o pedido e que, em tese, saberia onde o calo aperta. O governo federal entrou de forma muito passiva nessa composição — afirma Rodrigues. — No resto, não há novidades. Desculpe o neologismo, é ‘velhidade’. São sempre as mesmas coisas. Então, acho que não podemos esperar que se vá resolver. Mesmo porque quem fez a avaliação que serviu como argumento para a solicitação (o governo do Estado) já erra há muito tempo, com tomadas de decisão muito ruins — continua o antropólogo.
A decisão por uma integração das forças estaduais e federais foi tomada após a divulgação de uma investigação da Polícia Civil do Rio que revelou o treinamento de traficantes no Complexo da Maré, na Zona Norte da capital fluminense. Robson Rodrigues teme, no entanto, o uso político das imagens divulgadas dessa investigação.
— Eu me preocupo que essas imagens possam ser usadas para justificar ações mais contundentes, com a chancela do governo federal — afirmou.
Já no Enfoc, o ex-chefe do Estado Maior acredita que, embora tenham sido apresentados de forma genérica, há aspectos importantes, como a integração das forças de segurança, o entendimento da atribuição do governo federal como polícia marítima e aeroportuária e a valorização dos agentes de segurança pública.
— Mas sinto falta de alguns pontos, como o controle das atividades policiais, que muitas vezes facilitam as atividades criminosas — diz Rodrigues. — Estou ansioso por planos específicos contra a criminalidade mais violenta — continua.
Nesta segunda-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, assinou a autorização para a atuação da Força Nacional no Rio de Janeiro. O objetivo é viabilizar o enfrentamento de atividades que impactam na segurança pública e nos indicadores de mortes violentas no estado. Ao todo, serão enviados 300 homens e 50 viaturas.
O ministro ainda detalhou outros reforços, destacando que essa não é uma intervenção federal, justificando que exemplos do passado demonstram que “deu errado”. No âmbito da atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no estado, Dino apontou a atuação de 270 policiais e 22 blindados, além de um veículo de resgate e um helicóptero.
Já quanto à Polícia Federal, o ministro apontou sua atuação na Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) e no Centro de Cooperação Policial Internacional (CCPI), além de ações de inteligência e investigações em curso.
Dois novos presídios
Hoje, segundo Dino, há um total de R$ 247 milhões em recursos federais alocados no estado, entre eles os R$ 95 milhões destinados para a construção de presídios de segurança máxima, a pedido do governador do estado, Cláudio Castro.
- R$ 113 milhões de exercícios anteriores do Fundo Nacional de Segurança Pública
- R$ 39 milhões do exercício 2023 do Fundo Nacional de Segurança Pública
- Destinação de R$ 95 milhões do Funpen para construção de presídios de segurança máxima, a pedido do governador Cláudio Castro
Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), serão construídas duas novas unidades prisionais “para modernizar e ampliar o número de vagas do sistema prisional fluminense”, a partir da parceria com o Ministério da Justiça.
O destaque do projeto, que está em fase de elaboração, será a inviabilização de que os presos usem a telefonia móvel para se comunicarem. Outro ponto é a redução do contato dos detentos com os servidores.
Fonte: EXTRA