Muro do 22º BPM (Maré) caiu em córrego que passa na lateral direita da unidade, onde ficam viaturas abandonadas — Foto: Reprodução
A divulgação de imagens de um centro de treinamento de criminosos no Complexo da Maré, na Zona Norte, a partir de investigação da Polícia Civil, motivou uma reunião entre o governo do Rio e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que definiu o apoio federal, com mais de 500 agentes da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal. Localizado às margens de importantes vias da cidade, como a Avenida Brasil, a Linha Amarela e a Linha Vermelha, é nesta última que o conjunto de favelas conta ainda com um batalhão da Polícia Militar, instalado há 20 anos. No entanto, após a queda de um muro na unidade, seu comandante alegou “completa vulnerabilidade” e pediu o emprego de policiais em guarda por 7 dias na semana, para protegê-los.
O comandante do 22° BPM (Maré) fez uma solicitação ao 1º Comando de Policiamento de Área (CPA), em 25 de setembro. No documento, o tenente-coronel Moises Sardemberg cita a queda do muro na lateral da unidade, que aconteceu no último dia 8, para justificar o pedido de um serviço de guarda 7 dias por semana no local, até a conclusão da obra, que já está em andamento.
Numa área cercada por comunidades, com destaque para a favela da Nova Holanda, descrita como “área vermelha”, o comandante ressalta que a “vulnerabilidade do 22º BPM aumentará significativamente”. Segundo ele, incursões do Comando de Operações Especiais (COE) — que engloba os batalhões de Choque e Operações Especiais (Bope) — e da Polícia Civil podem levar a uma “eventual represália”.
No último dia 29, o comandante do 1º CPA cita que a escala será de 24h por 48h e, além de falar que a integridade física dos policiais fica em risco, lembra que haverá “operações policiais semanais no sentido de coibir” o crime organizado local, depois de divulgação da investigação da Polícia Civil pela imprensa.
A autorização, pelo prazo de 30 dias, foi assinada em 29 de setembro. Em nota, a PM informa que as melhorias já estão em andamento: além da reconstrução do muro, uma caixa d’água será retirada.
O muro caiu em uma área do estacionamento em que ficam carcaças de viaturas. Segundo a corporação, são 64 veículos no local, que serão leiloados em breve, “conforme procedimento padrão de descarga”.
Muros: queda de um lado, inclinação do outro
Um relatório da Polícia Militar destacou o “comprometimento da segurança do aquartelamento devido à queda de parte do muro lateral direito da sede do 22º BPM” na madrugada de 8 de setembro, por volta das 4h da manhã. Não houve vítimas, nem há indícios de que o muro tenha sido derrubado por uma ação criminosa ou de sabotagem.
Cerca de 50 metros da estrutura foram abaixo, caindo sobre um córrego que passa na lateral da unidade e, na ocasião, cabos de energia arrebentaram. Partes do batalhão e da Nova Holanda ficaram sem energia elétrica, com a energia restabelecida e a segurança do 22º BPM reforçada.
No relatório, cita-se que já há uma obra emergencial em andamento, devido à “inclinação dos muros” que cercam o batalhão. Além da estrutura que caiu, na lateral direita da unidade, reparos são feitos no muro da lateral esquerda. A obra é considerada urgente, para a prevenção de acidentes em escolas vizinhas ao terreno: o Espaço de Desenvolvimento infantil João Crisóstomo e o Ciep Hélio Smidt.
Os riscos da proximidade com área dominada por facção criminosa são citados no documento, de 11 de setembro, anterior à divulgação da investigação da Polícia Civil, que ocorreu no último dia 24 no “Fantástico”, da TV Globo.
A área foi “marcada por intensa movimentação de marginais que ficam fortemente armados, utilizando fuzis, pistolas, granadas e utilizam veículos blindados roubados para se deslocarem pela comunidade”. A renda do tráfico é oriunda, destaca o relatório, da venda de “entorpecentes, roubos de veículos, roubos de carga, lavagem de dinheiro, estelionato e outras práticas criminosas”.
Inaugurado em junho de 2003, durante o governo de Rosinha Garotinho, o 22º BPM foi o primeiro batalhão construído em uma favela. Um helicóptero da Polícia Civil lançou 60 mil panfletos sobre as favelas do Complexo da Maré pouco antes da festa de inauguração. Além de pedirem a colaboração dos moradores, com informações sobre criminosos, drogas e armas escondidas, os panfletos anunciavam: “A paz está chegando! Vida nova para a Maré.”
Reforço federal
Na última sexta-feira, o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, esteve em reunião no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio. À mesa, além dele, estiveram presentes o governador Cláudio Castro e seus secretários de Polícia Militar (Luiz Henrique Marinho Pires) e Polícia Civil (José Renato Torres), assim como representantes da PRF: o diretor-geral Antônio Oliveira, assim como o superintendente no Rio, Vitor Almada da Costa.
O encontro ocorreu na mesma semana que uma investigação da Polícia Civil foi divulgada. Centenas de horas de imagens foram gravadas com drones, o que permitiu o flagrante de um treinamento oferecido a traficantes: em uma quadra de futebol, com uma piscina ao lado, um grupo de 15 homens armados com fuzis recebiam orientações sobre como atacar e defender com o armamento pesado em mãos.
Nesta segunda-feira, o ministro Flávio Dino anunciou a autorização para que a Força Nacional atue no Rio, com o envio de 300 homens e 50 viaturas. Já a PRF atuará com 270 policiais, além de 22 blindados, um veículo de resgate e um helicóptero.
Fonte: EXTRA