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Em novo depoimento, mãe de criança de 5 anos, morta a golpes de marreta, relata ameaças e abusos cometidos pelo ex-marido

Família pede Justiça — Foto: Roberta de Souza / O Globo

Nayla Maria de Albuquerque, de 24 anos, mãe da menina Luísa, de 5 anos, morta pelo próprio pai a golpes de marreta, prestou um novo e longo depoimento à polícia, nesta quarta-feira, contra o ex-marido. David Souza Miranda, de 39 anos, foi preso no último dia 23, e é considerado pela polícia o principal suspeito do crime. Além de ter matado a filha, de apenas 5 anos, David também é acusado da morte da sobrinha Ana Beatriz, de 4 anos. Ele ainda teria atacado a ex-cunhada, Natasha Albuquerque, de 30 anos, e colocado fogo na casa em que as vítimas estavam. Para não esquecer nenhum detalhe, Nayla escreveu em três folhas de caderno a rotina de violência que viveu ao longo de nove anos de casamento com David – do início de namoro às agressões. Durante mais de duas horas de depoimento, ela contou que era proibida de sair de casa ou falar com a família.

— Ele cometeu vários crimes contra Nayla, inclusive manteve ela em cárcere privado para evitar que seus abusos fossem revelados. Hoje, ela deu uma nova declaração, incluindo os relatos que envolvem crime de estupro e cárcere privado — disse a advogada Helen Castilho.

Nas anotações que ela levou para a delegacia, ela diz que eles “se davam bem” no início, mas com o tempo, David começou a controlar tudo que ela fazia: “me proibiu de ir para escola visitar minha família”, escreveu ela. Em outro momento, ela escreveu “quando Luísa nasceu, ele começou a ficar mais agressivo e me culpando por coisas do passado”.

Os familiares que acompanharam Nayla até a 34ª DP (Bangu) contaram que a jovem mantinha um diário em que escrevia os abusos sofridos. Como nem isso ela conseguia esconder de David, ela criou um código para contabilizar as agressões. Em um caderno, ela escrevia a data e colocava as letras “bt” ao lado.

Há pouco mais de um mês, Nayla fugiu de sua casa e procurou abrigo na casa da família. Aos parentes, quebrou o silêncio e falou sobre o que vivia com o ex-marido. Depois de procurar a polícia e relatar as ameaças, ela obteve uma medida protetiva contra ele, com o acordo de que a filha fosse visitá-lo. No dia em que foi assassinada, era a segunda vez que a menina visitava o pai.

À polícia, Nayla disse que David insistiu para ver a filha. Por isso, eles teriam combinado de a menina ir à casa dele às 22h na companhia da tia Natasha, a única pessoa adulta da família que podia ter contato com ele, e da prima Ana Beatriz. No local, o homem teria agredido as três com golpes de marreta e, posteriormente, ateado fogo na casa.

Um vizinho de David contou à polícia que chegou a entrar na casa para socorrer as crianças. No local, ele disse que encontrou a menina mais nova com as pernas amarradas na cama, com o corpo queimado, mas ainda viva. Segundo ele, a mais velha, Luisa, não respondia mais a nenhum estímulo e já parecia estar morta. Segundo a testemunha, Natasha estava em um sofá na sala, “toda queimada e não falava nada”. Ela segue internada em estado grave.

Cerca de duas horas depois do crime, de acordo com o depoimento de Nayla, David teria ligado, dizendo que ela: “tinha causado uma desgraça na família e que sua filha tinha implorado para não morrer”. A frase faz menção às denúncias feitas por ela à polícia sobre as agressões sofridas contra ele, que era “agredida fisicamente durante todo o relacionamento”. Além disso, contou que a filha Luísa Fernanda assistia às cenas de agressão e também era vítima dele. Segundo Nayla, em uma ocasião, David teria batido em Luísa de tal forma que a menina ficou com a perna roxa. Ele dizia que era uma maneira de corrigi-la.

Nayla conta que soube do incêndio por meio da facção criminosa que domina a comunidade onde mora. Ela relatou ter ficado preocupada com a demora da irmã e das meninas à sua casa e que, por isso, pediu aos traficantes que fossem até à casa de David. No local, testemunhas disseram que duas crianças e uma mulher haviam sido levadas, em estado grave, a hospitais. No Albert Schweitzer, soube que a filha havia chegado sem vida.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o Quartel de Campo Grande foi acionado para conter um incêndio na casa, localizada na rua Caminho do Abel. Chegando ao local, depois das 23h da última sexta-feira, foram parados por moradores para socorrer a mulher, vítima de queimadura; as meninas já haviam sido socorridas por vizinhos.

Segundo a Polícia Militar, agentes foram acionados para checar uma ocorrência de violência contra a criança, após as meninas, vítimas de queimadura, terem sido socorridas por vizinhos para a unidade e para a Upa de Bangu. David Souza Miranda foi preso na Tijuca enquanto estava em fuga.

Fonte: EXTRA

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