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Carro monitorado e morte de traficantes: o que se sabe sobre os suspeitos de terem executado médicos na Barra

Médicos de SP são mortos a tiros em quiosque na Barra da Tijuca - Todas as vítimas eram de SP e tinham vindo para um congresso internacional de ortopedia. Na foto, Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida — Foto: Reprodução

Os investigadores acreditam que este erro gerou mal-estar na facção. Segundo informações obtidas pelo EXTRA, Abelha, Doca e Carlos Henrique dos Santos, o Carlinhos Cocaína, teriam feito uma videochamada e decidiram por ordenar a morte dos criminosos, dentre eles, Lesk e Ryan.

O grupo sombra, como era conhecida a equipe de Lesk, morava na Cidade de Deus, na Zona Oeste, desde que rompeu com a milícia. Eles, que se aliaram à facção, tiveram permissão de Carlinhos Cocaína para ficar no local, pela proximidade com a comunidade de Rio das Pedras — região que pretendiam tomar. Além deles, dois homens, conhecidos como Preto Fosco e BMW, também faziam parte do grupo, que é responsável por uma série de homicídios em Jacarepaguá. Estes dois últimos, não foram mortos.

— O que nos parece é que até eles se indignaram com ação dos seus próprios e eles fizeram essa punição interna. Temos que achar, inclusive, quem cometeu esse segundo assassinato. O estado não se abala. É óbvio que eles já sabiam quem tinha sido, foram à frente e puniram eles. Tem que ver se foram todos, se tinha mais gente envolvida, a investigação não muda em nada — afirmou o governador Cláudio Castro no fim da manhã desta sexta-feira, após se encontrar com o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, no Palácio Guanabara.

 

Quem são os suspeitos encontrados mortos?

O crime na Barra da Tijuca teria sido motivado por vingança pelo assassinato do traficante Paulo Aragão Furtado, o Vin Diesel, por milicianos. Sua morte teria tido a participação de Taillon Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa, apontado com um dos chefes de uma milícia da Zona Oeste do Rio. O traficante Philip Motta Pereira, o Lesk, é que teria repassado a informação de que Taillon estaria no quiosque da Barra onde os médicos foram assassinados. Ele chefia uma milícia que atua na região da Cidade de Deus e Gardênia Azul, na Zona Oeste da cidade. Os milicianos atuam há três décadas na região e hoje disputam território com traficantes.

Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Soares de Almeida são apontados como dois dos quatro envolvidos nas mortes de médicos na Barra da Tijuca — Foto: Reprodução

A Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil encontrou dois carros com os corpos de quatro homens no fim da noite de quinta-feira, em ruas da Gardênia Azul e uma próxima ao Riocentro. Três homens já foram identificados, segundo o secretário de Polícia Civil José Renato, entre eles estão Lesk e o traficante Ryan Soares de Almeida. Bruno Pinto Matias, o Preto Fosco, e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, outros dois membros do grupo, teriam escapado.

Natural de Belo Horizonte, Ryan era considerado o braço direito de Lesk. Ele e os outros dois mortos estavam num HRV, abandonado na Rua Abraão Jabor, no Camorim. O traficante foi preso em dezembro de 2020 por tráfico de drogas, posse irregular de arma de fogo e corrupção de menores. Ele deixou a Cadeia Pública Jorge Santana em setembro de 2021.

Em dezembro do ano passado, em uma aliança com traficantes do Complexo da Penha, na Zona Norte, o grupo, conhecido entre os criminosos da facção como Equipe Sombra, deu um golpe e se aliou ao Comando Vermelho na favela. Nesse período, houve uma série de assassinatos, em especial na área da Araticum.

— É um problema do Brasil e temos que parar de achar que é pontual. Só conseguiremos ter sucesso no combate à criminalidade se for um combate de todos: estados, governo federal e prefeituras. Não é uma briga de traficantes e milicianos. É uma verdadeira máfia, que tem verdadeiramente entrado nas instituições, nos poderes, no comércio, nos serviços, inclusive no sistema financeiro nacional — reconheceu o governador do Rio.

 

Executados menos de 12 horas após o crime

Os quatro suspeitos do triplo homicídio de médicos na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, podem ter sido mortos entre 10 e 12 horas após o crime. A hipótese deriva de um laudo produzido por peritos da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) a partir da análise das condições dos quatro cadáveres, que mostra que dois dois deles aparentavam estar em rigidez muscular generalizada. Segundo especialistas, uma mudança bioquímica provoca um enrijecimento dos corpos a partir desse intervalo de tempo.

De acordo com o documento, ao qual o EXTRA teve acesso, os cadáveres de dois dos criminosos encontrados na Rua Abraão Jabor, no Camarim, também na Zona Oeste, já apresentavam a condição de rigidez muscular generalizada às 22h40 desta quinta-feira. Nesses, havia ainda orifícios típicos de ação perfuro-contundente, provocados por disparos de armas de fogo e facadas, nas regiões dorsal, lombar, torácica, epigástrica e flanco direito.

A análise feita pelo Grupo Especial de Crime (GELC) da DHC aponta que, dentro de um Honda HRV na Camorim, foram encontrados três corpos de homens, dois brancos e um pardo, que aparentavam ter 25 anos. Todos estavam de camisas, bermudas e tênis. O carro teria sido abandonado no local por volta de 22h55 e o seu motorista resgatado por uma motocicleta, de modelo e cor não identificados.

Já na Praça da Gardênia Azul, também na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste, os agentes encontraram um quarto corpo, por volta de 01h03, dentro do porta-malas de um Toyota Yaris. O homem, que seria Philip Motta Pereira, o Lesk, também apresentava “múltiplos ferimentos provocados por projétil de arma de fogo”.

 

Carro rastreado

O grupo também era alvo de uma força-tarefa montada pela Polícia Civil para combater a guerra que vem sendo travada com milicianos. Os principais suspeitos de participar da execução dos médicos vinham sendo monitorados havia meses e a Delegacia de Homicídios (DH) tinha informações e tentava localizar um Fiat Pulse branco, já que um modelo da mesma cor havia sido utilizado em outros assassinatos na região.

Os investigadores rastrearam imagens de segurança e identificaram que o Pulse utilizado no crime na Barra da Tijuca foi conduzido até o Complexo da Penha, na Zona Norte, percorrendo cerca de 36 Km por algumas das vias mais movimentadas da cidade como Avenida das Américas e Linha Amarela, após o ataque a tiros aos quatro médicos. O conjunto de comunidades é chefiado pela maior facção criminosa do estado.

A Polícia sabe que o carro seguiu do local da execução – o Quiosque do Naná, que fica entre os postos 3 e 4, em frente ao Hotel Windsor, onde os médicos estavam hospedados para um congresso internacional de ortopedia – até o retorno no Quebra-Mar.

Confira o trajeto feito pelos assassinos após o crime em quiosque na Barra — Foto: Editoria Arte

Depois, o veículo seguiu em direção a Avenida das Américas e passou pela Avenida Abelardo Bueno e pela Linha Amarela. O destino do veículo foi a comunidade da Zona Norte, comandado por Edgar Alves de Andrade, o Doca, e Adriano de Sá Silva, o Abelha.

 

Guerra entre tráfico e milícia

A ligação entre o crime e a guerra entre traficantes e milicianos na Zona Oeste entrou no radar da polícia após a análise de uma comunicação entre traficantes interceptada pouco antes do ataque. “Acho que é Posto 2”, disse um homem que, segundo os investigadores, faz parte da quadrilha que domina a Gardênia Azul.

Apesar de o quiosque onde os médicos estavam ficar entre os postos 3 e 4, a polícia acredita que o criminoso tentava comunicar a um comparsa a localização do miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos, filho de Dalmir Pereira Barbosa, chefe do grupo paramilitar de Rio das Pedras.

A polícia já sabe que Taillon não estava na praia durante a madrugada, mas seus desafetos o teriam confundido com o ortopedista Perseu Ribeiro de Almeida. De acordo com as polícias Civil e Federal, Perseu tem peso, altura, cabelo e barba parecidos com Taillon.

 

Quem é Taillon?

Taillon teria envolvimento da morte de um dos aliados de Lesk, Paulo Aragão Furtado, conhecido como Vin Diesel, em 16 de setembro. No último dia 29, Taillon, que estava preso, recebeu liberdade condicional. Além disso, segundo a polícia, o paramilitar mora próximo ao quiosque onde os médicos foram mortos e costumava frequentar o local.

A polícia também acredita que Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como BMW, esteja envolvido no ataque aos ortopedistas, na madrugada de quinta-feira. BMW foi responsável por diversas mortes ocorridas nos últimos meses na Gardênia Azul e no Anil, ambas localizadas em Jacarepaguá.

 

Médicos executados na Barra

Diego Half Bomfim, Perseu Ribeiro e Marcos Andrade Corsato eram médicos que estavam em um quiosque na Avenida Lúcio Costa, altura do número 2630, em frente ao Hotel Windsor, onde estavam hospedados para participar de um congresso de ortopedia. O crime aconteceu por volta de 1h, quando criminosos armados saíram de um carro branco e fizeram disparos contra o grupo.

As armas e as vítimas — Foto: Arte O GLOBO

Médico que sobreviveu ao ataque no quiosque na Barra da Tijuca, Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos mandou um recado do hospital onde está internado, conforme revelou a jornalista Lu Lacerda, em sua página @lulacerdaoficial, no Instagram. O ortopedista, que passou por uma cirurgia de cerca de 10 horas e se recupera bem, gravou um vídeo no qual diz: “Pessoal, eu tô bem, viu? Tá tudo tranquilo graças a Deus. Só algumas fraturas, mas vai dar certo. A gente vai sair dessa juntos. Valeu pela preocupação. Obrigado!”.

Ele passou por uma cirurgia que durou quase 10 horas no Hospital Municipal Lourenço Jorge. Ele teria levado 14 tiros, sendo dois de raspão, que provocaram 24 perfurações em seu corpo. Sonnewend teve lesões no tórax, no intestino, na pélvis, na mão, nas pernas e no pé. Dois projéteis ficaram alojados em seu corpo e um foi retirado pelos médicos, que vão encaminhar o material para a Polícia Civil, que fará uma análise. Ele continua com uma bala alojada na escápula, próximo ao ombro.

De acordo com um boletim médico divulgado pelo Hospital Samaritano Barra na tarde da última sexta-feira, o médico Daniel Sonnewend Proença será submetido a avaliações da equipe de cirurgia, além de novos exames de imagem. O paciente permanece lúcido, orientado e seu quadro clínico continua estável.

 

Como aconteceu o crime

Uma câmera de segurança flagrou o momento do ataque. As imagens mostram toda a movimentação dos assassinos. Após fazerem os primeiros disparos, eles voltam para o carro, mas alguns retornam e voltam a atirar contra os médicos. O ataque levou cerca de 20 segundos.

Os médicos executados no Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira, foram baleados, cada um, com cerca de cinco tiros, a maioria no peito. Eles estavam no Quiosque Naná 2, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, quando homens desceram de um carro branco na Av. Lúcio Costa, próxima à orla da praia, e efetuaram os disparos. A ação durou 25 segundos, nenhum pertence foi roubado. A Polícia Civil acredita que o crime pode ser engano, já que uma das vítimas, o ortopedista Perseu, tem aparência semelhante ao do miliciano Taillon, que mora naquela vizinhança.

De acordo com informações preliminares, os criminosos dispararam pelo menos 33 vezes contra o grupo, usando pistola 9 mm.

Fonte: EXTRA

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