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    Avenida Brasil: conheça a via que é vizinha de 70 favelas e ficou fora dos planos de vigilância da PRF no Rio

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    A Avenida Brasil: via expressa é cercada por 70 favelas — Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

    Pelo menos por enquanto, a Avenida Brasil está fora dos planos da vigilância ostensiva da Polícia Rodoviária Federal (PRF), iniciada ontem em trechos de vias federais na Região Metropolitana do Rio. A segurança de quem trafega pelo principal acesso rodoviário ao Rio, no entanto, não está exatamente garantida. Seus 58,5 quilômetros de extensão, que vão de Santa Cruz à Zona Portuária, cortam 26 bairros. Trechos onde se localizam 70 favelas instaladas em um raio de 250 metros em torno da via expressa se tornaram os mais inseguros, por eventualmente facilitarem a fuga de bandidos. Segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), a rodovia passa, por exemplo, perto de 11 comunidades do Complexo da Maré — onde se digladiam três facções do tráfico e a milícia —, da Vila Kennedy e da Cidade Alta.

     

    Batalhões a postos

    Apenas no registro de disparos de arma de fogo — sem contabilizar assaltos, arrastões ou outro tipo de delito que não envolva tiros —, o Instituto Fogo Cruzado mapeou 184 episódios na Brasil, entre 5 de julho de 2016 e 5 de outubro de 2023, em média dois por mês. A estatística de violência, nesse período, deixou um rastro de 43 mortos e 84 feridos.

    O Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE), da PM, é responsável pelo patrulhamento da Avenida Brasil. Segundo a Secretaria da PM, outras dez unidades que margeiam a via expressa (27ºBPM, 40ºBPM, 14ºBPM, 9ºBPM, 41ºBPM, 16ºBPM, 22ºBPM, 4ºBPM, RECOM e BPChq) também a utilizam em seus deslocamentos diários e reforçam a vigilância.

    A cena da noite de 28 de setembro, quando uma bomba caseira foi jogada por criminosos dentro de um ônibus da linha 771 (Coelho Neto — Grande), na Avenida Brasil, está bem viva na memória e no corpo da telefonista Elaine de Souza Ivo, uma das vítimas do ataque. Ela ainda sente medo quando tem que sair de casa para ir o médico, sobretudo quando passa pelo local do crime.

    — Eu estava achando que não iria sentir medo, me preparando para quando tivesse que voltar à minha rotina diária. A Avenida Brasil é meu caminho de ida e volta para o trabalho. Mas, quando precisei sair, para ir ao médico, no Centro, me assustei no ônibus com qualquer movimentação a mais ou alguém falando alto. Está um pouco complicado. Sei que a gente tem que superar e seguir em frente. Temos muitas responsabilidades — diz a telefonista Elaine, que mora em Bangu, trabalha em Botafogo e ainda está de licença médica.

    A bomba caiu atrás do banco onde Elaine estava sentada, e explodiu. Além de ferimentos no corpo, provocados por estilhaços, ela está com os tímpanos prejudicados.

    Outra vítima da bomba, o bombeiro hidráulico Luiz Cláudio da Silva, de 65 anos, continua internado no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Ele precisou esperar que a perna atingida pelo artefato caseiro desinflamasse e desinchasse, para que pudesse fazer uma cirurgia, o que só aconteceu ontem.

    — O meu marido desceria no ponto seguinte, quando jogaram a bomba — conta Clarice dos Santos Machado Silva. — Ele estava correndo atrás da aposentadoria. O sonho dele é morar no interior, num local mais tranquilo. Agora, mais do que nunca.

    O Ministério dos Transportes informa que a Brasil “é uma rodovia federal (faz parte da BR-101) delegada para a administração do município”. O convênio entre União e prefeitura foi assinado em outubro de 1994.

    Procurados, as polícias Militar e Civil e o Instituto de Segurança Pública (ISP) não informaram números de ocorrências policiais, tampouco apontaram as áreas mais perigosas na Avenida Brasil. Quanto ao efetivo e às viaturas usadas na via, a PM alega que “por questões de segurança, não divulga dados estratégicos”.

    Numa série de matérias publicada em 2018, o Extra chegou a apontar a Brasil como a mais perigosa via expressa do Rio: na época havia uma nova vítima a cada 30 minutos. Num levantamento feito nos três últimos meses do ano anterior, o jornal esmiuçou 37 mil registros feitos nas 13 delegacias que atendem a região, além de outros bairros.

    Quem hoje sente essa realidade, na prática, dá seu testemunho. Segundo a Federação do Transporte de Carga do Estado do Rio de Janeiro (Fetranscarga), o trecho da Avenida Brasil mais perigoso para o roubo de cargas vai do Mercado São Sebastião, na Penha, a Benfica. A entidade estima que, dos 154 roubos contabilizados pelo ISP de janeiro a agosto deste ano no estado, 30% aconteceram na via.

    — As transportadoras estão no limite do investimento. Tentam minimizar os roubos investindo em escolta armada e tecnologia. Estamos usando cerca elétrica T4S (painéis energizados que revestem todas as faces internas do baú do caminhão) e chip na carga — diz Sérgio Vianna, assessor da presidência da Fetranscarga.

     

    Estratégias de defesa

    Passageira de ônibus, Clelma Amália Fonseca Barreiros Teixeira também tem estratégias para evitar assaltos entre sua casa, em Bangu, e o escritório de contabilidade onde trabalha, em Caxias. Seu celular fica escondido na roupa. Ela usa um aparelho antigo para escutar música e, se for o caso, entregar ao bandido.

    — Graças a Deus nunca fui assaltada. Em geral, bandido escolhe frescão para roubar, porque os usuários têm um maior poder aquisitivo. De qualquer forma, deixo meu celular guardado e não atendo ligação no ônibus — ensina.

    Também morador de Bangu e dono de uma fábrica de doces em Caxias, Fernando Thiengo há três anos passa de ônibus pela Avenida Brasil. Ele respira aliviado por nunca ter sido assaltado. Contudo, tem uma explicação:

    — Salto antes do trecho dos assaltos. Os ladrões, em geral, pegam no ponto depois da Vila Kennedy, roubam e desembarcam em Campo Grande.

    Representante da Fetranscarga, Sérgio Vianna espera que a PRF reforce o patrulhamento da Avenida Brasil. Membro do Fórum Nacional de Segurança Pública, Alan Fernandes explica que, para que a ajuda da PRF se concretize, é necessário que seja formalizada através de um convênio:

    — Haverá bens e funcionários da União empregados. É preciso também definir quem vai coordenar a operação, qual a estratégia de policiamento e a quem responsabilizar se algo acontecer.

    Fonte: EXTRA

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