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Investigador diz que acusado de matar Jeff Machado teve comportamento calculista: ‘agia como se nada tivesse acontecendo’

Bruno de Souza Rodrigues é o principal suspeito da morte do ator Jeff Machado — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo e Reprodução/Instagram

A audiência de instrução sobre a morte do ator Jeff Machado, no primeiro Tribunal do Júri, foi aberta com o depoimento do investigador chefe da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, Igor Rodrigues Bello. Em primeiro momento, o inspetor deu detalhes da investigação que localizou o paradeiro do corpo do artista, que até então era um mistério para os agentes. Rodrigues chamou atenção dos jurados sobre o “comportamento calculista de Bruno”. Segundo ele, o ex-produtor fazia questão de ajudar nas buscas por Jeff Machado “na expectativa de que não fosse ser colocado como suspeito no inquérito”.

Foram mais de três horas de depoimento. Enquanto o investigador respondia as perguntas da promotoria, sentado no banco dos réus, Bruno Rodrigues, ao lado de Jeander Vinicius, fazia anotações com um pedaço de papel e canera, enquanto o colega de cárcere demonstrava nervosismo ao sacudir as mãos e os pés repetidas vezes. Já ele, aparentava um semblante calmo.

— Ele (Bruno) adotou personagens para criar um sistema para se beneficiar — afirmou o investigador sobre a conduta do ex-produtor durante as investigações.

Para a audiência, 18 testemunhas, entre acusação e defesa, foram convocadas a depor.

Durante a fala, o investigador Igor Rodrigues Bello, pontuou ainda a forma como Bruno Rodrigues se comportou no período em que permaneceu foragido da Justiça e era monitorando pela Polícia Civil. Até então, de acordo com ele, a polícia sabia que o suspeito estava escondido em uma comunidade do Rio, mas precisava ter certeza do local exato para capturá-lo.

 

‘Quem é esse tal de Bruno?’, perguntava Bruno

– Ele estava escondido na favela, tomando cerveja e conversando com as pessoas como se nada tivesse acontecido. Nós entramos na comunidade umas quatro vezes disfarçados para rastrear a localização exata dele. Segundo o dono do hostel, Bruno era tão calculista que não se importava em se disfarçar. Ele (o dono do estabelecimento) dizia que conversava com ele (Bruno) normalmente. E que o suspeito tinha mudado a aparência para não ser identiticado. Bruno fazia amizades e conversa com as pessoas normalmente, enquanto se apresentava como produtor musical – afirmou Rodrigues dando mais detalhes das buscas:

— Ele (Bruno) parecia estar tão seguro que ainda comentava com o dono do hostel sobre o caso perguntando ‘quem é esse tal de Bruno que estão procurando?’ — relatou o investigador.

Segundo a juíza responsável pela audiência, Alessandra Roidis, outras 17 testemunhas devem ser ouvidas ainda nesta sexta-feira.

Dona Maria das Dores, mãe do Jeff Machado, foi a segunda testemunha a depor. Emocionada, a aposentada detalhou como o filho sonhava em viver da profissão de ator e lamentou que a morte dele tenha sido no entorno de promessas falsas.

— Meu filho era bem instruído. Ela sonhava em viver do trabalho dele e foi enganado — lamentou.

 

Julgamento inicia nesta sexta

O ex-produtor de TV Bruno de Souza Rodrigues e o garoto de programa Jeander Vinicius da Silva Braga, acusados de matar e ocultar o corpo de Jeff Machado, passam por audiência de instrução nesta sexta-feira. A mãe do ator, a aposentada Maria das Dores Estevam, chegou ao Tribunal do Júri, no Centro do Rio, acompanhada do advogado Jairo Magalhães e do filho Diego Machado. Abalada, ela afirmou que fez uma longa viagem de Santa Catarina até o Rio para “acompanhar de perto e olhar nos olhos dos assassinos de seu filho”, referindo-se aos acusados.

— Disseram que eu poderia participar por videoconferência. Não aceitei. Fiz questão de vir olhar os assassinos do meu filho nos olhos. Minha expectativa é que este seja o início da condenação deles. Quero ver tudo de perto e os culpados pagarem pelo que fizeram ao meu filho — lamentou Maria das Dores.

Jeander Vinicius e Bruno Rodrigues, presos desde junho após a finalização do inquérito pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), chegaram acompanhados de seus advogados que não quiseram dar entrevista. Jeff foi morto em janeiro, mas o cadáver só foi encontrado quatro meses depois, enterrado e concretado num baú, no quintal de uma casa em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.

Segundo o advogado da família de Jeff Machado, Jairo Magalhães, a audiência de instrução é umas das primeiras etapas processuais antes da decisão sobre encaminhar ou não o caso a júri popular. A audiência acontece no Tribunal do Júri da Comarca da Capital, no Centro do Rio. Neste primeiro momento serão ouvidas testemunhas de acusação, como a mãe de Jeff, Maria das Dores Estevam Machado. Já os acusados estarão acompanhados de seus advogados de defesa, João Maia e Alexandre Porto. A audiência será conduzida pela juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, da 1ª vara Criminal do Rio.

Desaparecimento: cães de raça vagando pela rua, impostor e registro na delegacia

O ator Jefferson Machado da Costa, que morreu aos 44 anos, sonhava em ser artista desde a infância. Natural de Araranguá (SC), escolheu o Rio de Janeiro como cidade para morar e para investir na vida de ator, carreira escolhida depois de ter cursado as faculdades de Direito e Jornalismo. Ele esteve no elenco da novela “Reis”, da TV Record.

Apaixonado pelos cães da raça Setter, Jeff tinha oito deles em sua casa, em Guaratiba, também na Zona Oeste. Todos batizados com nomes de personalidades da MPB — Tim Maia, Nando Reis, Elis Regina, Cazuza, Vinicius de Moraes, Gilberto Gil, Rita Lee e Caetano Veloso —, foram eles que deram o primeiro sinal de que algo tinha acontecido com o tutor, identificado através de chips instalados nos animais, que vagavam pelas ruas da Zona Oeste.

Uma amiga de Jeff, Patrícia Triacca, responsável por conseguir os cachorros para o ator, suspeitou que um impostor se passava pelo amigo. Ela entrou em contato por um aplicativo de mensagens após saber dos cães deixados nas ruas. Em mensagens de WhatsApp trocadas após o abandono dos cães, ela estranhou o comportamento e o jeito de falar do amigo, que não atendia ligações nem mandavam áudios, muito menos fotos. Patrícia se reuniu com a família de Jeff Machado, que também estranhava comportamento do ator nas mensagens: o material foi reunido e levado à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), onde o caso foi registrado, no fim de janeiro.

Uma amiga de Jeff, que preferiu não se identificar, contou que objetos pessoais do ator sumiram da casa dele, em Barra de Guaratiba, logo após o desaparecimento. Entre estes objetos, estão um Iphone, o notebook e um cartão de débito. Além disso, transferências bancárias da conta do artista foram efetuadas no período em que ele estava desaparecido. Bruno Rodrigues, segundo o advogado da família, estava com cartões de Jeff. O amigo estava com as chaves do carro e da casa do ator.

Corpo encontrado em baú, em quintal de casa

Em maio deste ano, o corpo do ator Jeff Machado foi encontrado no quintal da casa 10 da Rua Itueira, em Campo Grande, na Zona Oeste. Dentro de um baú, retirado da casa em que o ator morava, o cadáver foi encontrado concretado e enterrado a dois metros de profundidade.

O imóvel passou por obras e a ocultação do corpo no local não levantou suspeitas na vizinhança. O próprio Jeff foi visto no local durante a reforma, no início do ano, e os moradores da rua achavam que ele iria morar no imóvel.

O terreno fica localizado próximo à esquina com a Estrada do Monteiro, ao lado da Escola Municipal Arthur Bernardes. Apesar de um portão de metal maior que um homem de 1,80m, ainda é possível ver por sua brecha não só o buraco escavado pelos policiais, bem como o baú de madeira que estava concretado a dois metros de profundidade. Somado ao mau cheiro, a entrada da casa ainda tem restos de obra, como pedras e pedaços de telhas quebradas.

Para retirar o corpo, a equipe precisou de reforço. Além de policiais civis e cinco agentes da Defesa Civil com picaretas e pás, foi preciso dois homens operando uma britadeira. Imagens de câmeras de segurança da Escola Municipal Arthur Bernardes mostram a chegada, inicialmente, de duas viaturas da Polícia Civil.

 

Personagens da trama: Bruno Rodrigues e Jeander Vinicius

Preso como principal suspeito do assassinato de Jeff, Bruno de Souza Rodrigues, de 37 anos, conhecia o ator há pelo menos três anos. Eles se aproximaram após o produtor de TV revelar interesse na carreira dele, prometendo-lhe ajuda para conseguir um papel numa novela. Uma amiga de infância de Jeff contou, em entrevista ao GLOBO, que a aproximação de Bruno despertou em Jeff um sonho antigo: tornar-se reconhecido no meio artístico.

Em pouco tempo, o produtor já frequentava a casa do artista e, aos poucos, “tomou conta da rotina do ator”, revelou a amiga. De acordo com ela, o suspeito fazia questão de demonstrar que tinha interesse amoroso pelo artista. No entanto, Jeff confidenciou à amiga que só o via como amigo, pois “não fazia seu tipo”.

Bruno Rodrigues foi preso no Morro do Vidigal, na Zona Sul do Rio, em 15 de junho. Considerado foragido na ocasião, ele estava escondido em um hostel. Ao dono do empreendimento, Bruno se apresentou como Natan, não entregou documentos. Ao prestar depoimento, José Silva, dono da Laje do Neguinho, disse ter sido “surpreendido, assim como toda a comunidade” ao saber quem era Bruno e relatou o seguinte:

— Ele (Bruno) não entregou documento algum. Falou que, como produtor de eventos, queria fazer a laje “bombar” de novo, para trabalhar e ter uma vida normal — diz José, que afirma não ter perguntado muitos detalhes sobre a vida do hóspede. — A pior mentira é quem mente para si próprio. A história que contar para mim, que sou comerciante, não vai me ofender, só prejudicou a ele próprio.

Também preso por envolvimento no crime, o garoto de programa Jeander Vinícius da Silva Braga, de 29 anos, conheceu Bruno por meio de um aplicativo de relacionamento. Há quase dois anos, o produtor o teria o contratado. À polícia, Jeander contou ser padeiro e não ter trabalho com carteira assinada. Por isso, fazia “bicos” com obras e programas. Em depoimento, Jeander disse ainda que conheceu Jeff há cerca de um ano no mesmo aplicativo no qual se relacionou com Bruno. Amigos em comum, ele relatou à polícia que, do fim de 2021 a 2022, os três passaram a se envolver em trio.

Ele confessou que teve participação no crime e que foi usado por Bruno Rodrigues, quem, nas palavras dele, teria estrangulado o ator calma e friamente. Na frente dos agentes, Jeander dispensou a advogada, que fazia parte do mesmo escritório da equipe que defende Bruno, preso nesta quinta-feira (15).

Em julho, o inquérito do caso foi concluído e, no mesmo mês, Bruno Rodrigues e Jeander Vinicius foram denunciados pelo Ministério Público pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, estelionato e crimes patrimoniais contra o ator Jeff Machado. A denúncia foi oferecida ao Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca da Capital.

Fonte: EXTRA

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